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É em pleno coração do Porto que mora o primeiro hotel de luxo da cidade, com mais de 70 anos de vida. Quem apenas vê o Infante Sagres por fora, não imagina o tanto que este hotel de cinco estrelas tem para contar, as mudanças a que assistiu e as histórias dos hóspedes que por aqui já passaram, desde Dalai Lama a Bob Dylan, U2, Prince e vários chefes de Estado e membros de famílias reais. Agora, também ele vive uma nova era: em Abril deste ano, o hotel surgiu renovado, com mais conforto e qualidade, mas sem perder a essência que o torna num dos grandes espaços históricos da cidade.
Lá dentro, e a contrastar com o movimento do exterior, há serenidade. Mantêm-se as escadas com os imponentes vitrais coloridos, assinados pelo ateliê Ricardo Leone e com mais de 500 painéis pintados à mão, o elevador com um banco que, por si só, convida a uma viagem, as poltronas e os vários quadros, esculturas e mobílias que preenchem cada canto do hotel. Mas há também mobília nova, produzida em Portugal e pensada para conjugar o antigo com o moderno. A última grande remodelação tinha sido feita em 2016, quando o espaço foi adquirido pela Fladgate Partnership. Em 2022, o hotel foi vendido à Gaw Capital Group, estando actualmente integrado no grupo Hospes — foi, aliás, o primeiro hotel do grupo fora de Espanha.
As obras começaram em Abril do ano passado e decorreram ao longo de um ano inteiro, tendo sido feitas de forma faseada por cada piso. “O hotel nunca encerrou. Primeiro fechámos um andar para o remodelar, depois fechámos outro e fomos fazendo as obras assim”, explica Sofia Sousa, marketing manager do Infante Sagres. As obras incluíram a renovação dos 85 quartos e suítes, bem como mudanças nas zonas comuns do hotel, como o lobby, a recepção e a fachada.
Quartos inspirados nos Descobrimentos
A responsabilidade pela remodelação ficou a cargo da empresa de arquitectura portuense Nano Design, que propôs uma viagem pela história de Portugal, com quartos inspirados na época dos Descobrimentos, para homenagear o Infante D. Henrique (também conhecido por Infante Sagres), e n’Os Lusíadas, obra de poesia épica de Luís Vaz de Camões, numa altura em que se assinalam os 500 anos do seu nascimento. Há cores diferentes, papéis de parede personalizados de acordo com o tema, obras de arte originais e novidades comuns a todos os quartos.
As diferentes fases da epopeia de Camões — a Proposição, a Invocação, a Dedicatória e a Narração —, serviram de inspiração à decoração das várias áreas do hotel. Já cada tipologia de quarto corresponde a um episódio diferente d’Os Lusíadas: Velho do Restelo (Quarto Superior), Ilha dos Amores (Deluxe e Deluxe Premium), Inês de Castro (Júnior Suite), Consílio dos Deuses (Junior Suite), Adamastor (Premium Suite) e Infante (Royal Suite).
Na Ilha dos Amores, por exemplo, saltam à vista os tons pastel e neutros. O papel de parede tem uma paisagem selvagem com as ninfas da epopeia e a zona do mini-bar, uma das novidades em todos os quartos, está equipada com um kit para que os hóspedes possam preparar o seu próprio cocktail.
E tudo tem um storytelling, tal como conta Francisca Navio, fundadora da Nano Design: "O quarto foi pensado com uma paleta cromática extremamente neutra, que permita este descanso dos guerreiros, tal como os navegadores na história, e que lhes dê esta calma e uma noite de descanso merecida após a viagem. Contudo, não deixa de ser uma noite de prazer, daí que as carpintarias do quarto sejam pintadas com um bordô quente, escuro, que, no fundo, faz a referência a esta paixão".
Francisca Navio destaca ainda que todos os trabalhos foram feitos para enaltecer a arquitectura já existente no hotel. "Quisemos apenas dar-lhe uma nova vida, enaltecê-la e não destrui-la ou camuflá-la. Acabou por ser simples porque o hotel é muito rico em pormenores. A ideia foi trabalhar ao máximo o espaço que já existia", acrescenta.
Um quadro com azulejos tradicionais portugueses é também um dos elementos comuns a todos os quartos, mudando apenas a cor de um dos azulejos, dependendo do local e do tema. "Quisemos fazer a ponte com aquilo que é a nossa parte mais artesanal, esta referência mais portuguesa", acrescenta a arquitecta.
Mas as mudanças não se ficam apenas pelos quartos. Na área da entrada, por exemplo, os hóspedes passam a ser recebidos numa nova área de concierge, onde antigamente estava o lobby do hotel. É lá que os hóspedes poderão pedir recomendações, marcar restaurantes e experiências e esclarecer todas as suas dúvidas. A recepção passa a estar na sala ao lado, onde anteriormente existia um espaço que servia de apoio a uma das três salas de eventos do hotel, a Dona Filipa.
O resultado da nova cara do Infante Sagres já está disponível para todos os hóspedes, numa altura em que a ocupação do hotel está em cerca de 95% durante todo o mês de Julho e mantém-se alta para os próximos meses de Verão. A ambição do hotel "é ser novamente reconhecido como o pináculo do luxo no Porto".
Scarlett Porto, um restaurante que quer chegar a todos
Uma das portas do edifício, com acesso directo da rua, dá entrada para o Scarlett Brasserie & Wine Bar, o restaurante que apoia o hotel, mas que também está disponível e direccionado para não hóspedes. “Somos um restaurante localizado no hotel, mas não somos um restaurante propriamente de hotel. Quem está na rua e entra aqui fica surpreendido, porque não imagina que temos, por exemplo, um pátio em pleno centro da cidade, em que se ouvem só passarinhos e não os carros”, explica Catarina Campos Gomes, coordenadora de comunidade e eventos do Hospes Infante Sagres e do Scarlett Porto.
A diferença de ambiente é quase imediata: prepara-se a actuação de um DJ na zona do pátio, há música suave a ecoar no restaurante e no bar, cores vibrantes e um ambiente descontraído que caracteriza este espaço, o primeiro Scarlett a abrir na Europa. “Este é um espaço vibrante, que prima pelo conceito de partilha e pelo ambiente que convida as pessoas a virem passar um bom momento, a experimentarem coisas novas. E temos aqui ambientes que são totalmente diferentes, entre a parte do wine bar, o pátio e a zona do restaurante, sendo que o objectivo é sempre que todas as experiências tenham algo de vibrante e apetecível”.
A assinalar um ano desde a abertura, o Scarlett Porto conta também com algumas novidades: há agora um menu de almoço do chef, à la carte, que inclui uma entrada e um prato principal por 16€, e há também um menu de hambúrgueres, pensado para quem prefere comer algo mais leve nesta época de Verão.
Experimentámos o almoço, pelas mãos do chef Charles. Na carta, diária, a entrada escolhida foi a sopa de cebola com consommé de carne e tosta de pão com queijo (8€), passando de seguida para uma massa carbonara (16€). Para sobremesa, não faltaram recomendações para que a escolha recaísse no mil-folhas. E confirmamos: é único e vale mesmo a pena.
Se está mais interessado noutras propostas, o Scarlett tem uma programação diferente quase todos os dias: à segunda-feira pode optar pelo menu de duas tapas e uma cerveja ou copo de vinho (9€), das 19.00 às 21.00; à terça-feira tem ostras por 1€ a partir das 17.00 e à quarta-feira acontece a Ladies Night, com 50% de desconto numa selecção de cocktails, das 19.00 às 21.00. Aos fins-de-semana, das 12.00 às 17.00, há ainda a opção do brunch. Alegre-se, no entanto, porque a happy hour acontece todos os dias, entre as 17.00 e as 19.00, e dá direito a 50% de desconto numa selecção de cocktails e vinho.
A ideia e o objectivo do Scarlett Porto é juntar a gastronomia francesa com ingredientes e características locais. “Temos um equilíbrio. Pegamos no melhor do país e misturamos com uma gastronomia francesa”, explica Eylyn, responsável pelo restaurante no Porto e com uma vasta experiência e conhecimento da marca e da restauração noutros países. O desafio do Scarlett no Porto, acrescenta, é “completamente diferente” de tudo o que já viveu, desde a cultura ao ambiente e método de trabalho.
Eylyn reforça também a ideia de que o Scarlett é mais do que um restaurante de hotel. É um sítio de partilha, acessível a todos e descontraído: “Não é porque estamos no hotel que somos um restaurante fine-dining. Isso é um equívoco. Somos uma brasserie e a brasserie é muito específica, é compartilhada, acolhedora, próxima do cliente, amigável”, sublinha. O resultado de um ano de vida deste espaço refere, tem sido positivo, mas ainda há margem para crescer.
É por isso que os próximos objectivos passam por uma remodelação completa no próximo ano, para que o espaço esteja mais alinhado com o verdadeiro conceito do Scarlett. “Tudo vai mudar. O bar vai mudar, as mesas, as cores”, enumera a responsável. Outra das apostas passa por mais parcerias com marcas, produtores e artistas locais, não só para exposições no restaurante, mas também para algumas activações de marca no espaço, com projectos locais. Até porque, acrescenta a responsável, o objectivo é também captar mais clientes portugueses para este espaço e mostrar-lhes “que não é preciso gastar muito dinheiro para virem ao Scarlett”.
Praça D. Filipa de Lencastre, 62 (Porto). 914 363 478. Quarto duplo desde 250€ por noite
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