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A ideia surgiu como tantas outras, numa conversa casual de amigos. Ramón Rodriguez Castro, Mickael Petit e Sofia Miró decidiram apostar na criação de um espaço novo e diferente no Porto, dedicado à música e à cultura. As ambições eram muitas, as ideias também, mas chegaram finalmente a um conceito que facilmente se descreve com o acrónimo que deu nome ao espaço: M.Ou.Co - Música e Outras Coisas. Optaram por se focar na música, por ser uma "paixão em comum", explica Sofia – agora no cargo de directora cultural –, que se ajeita com vários instrumentos, mas não é a única com veia musical. "O Mickael toca trompete e o Ramón toca guitarra", conta.
Quando começaram a pensar em possíveis localizações, Ramón recomendou o número 65 da Rua de Frei Heitor Pinto, no Bonfim. O que em tempos foi uma fábrica de material eléctrico e um depósito de carros apreendidos, é agora um edifício impossível de ignorar. Em poucas palavras, descreve-se o M.Ou.Co como "um espaço de cultura que integra um hotel, um restaurante, um bar, uma sala de espectáculos – para 300 pessoas – e uma pequena musicoteca". É, acima de tudo, um lugar para o encontro da cultura, "mais do que um projecto hoteleiro", realça Sofia.
O átrio está sempre de portas abertas – é uma pequena sala a céu aberto, com jardim. Ali pode optar por seguir para a direita, onde fica o hotel, um local mais exclusivo e dedicado aos hóspedes, ou para a esquerda, zona dedicada à cultura e ao convívio. No total são cinco mil metros quadrados divididos em três naves principais. Um espaço bonito, minimalista, que quer que o público se sinta em casa.
As possibilidades são quase infinitas. Vamos por partes, para ninguém se perder. A musicoteca, que fica no piso da entrada, é um bom ponto de partida. Apesar de ainda estar em construção, já estão disponíveis mais de 300 discos – mas o plano é que o número aumente para nove mil, no máximo, ao longo do tempo. São discos eclécticos, de diversos géneros musicais. A estes adicionam-se não só livros, cujo tema principal é a música, mas também doações de artistas que passam pelo M.Ou.Co. Os visitantes podem escolher o que querem ouvir, requisitar na recepção, sentar-se e desfrutar. Para os hóspedes há regalias especiais: podem levantar até cinco discos e livros para ouvir no quarto.
No mesmo piso fica ainda o bar (aberto das 11.00 às 00.00), uma sala agradável, com cadeiras, sofás e esplanada. Aqui já estamos a falar do território de Teresa Martins, a última parceira a juntar-se ao projecto, que ficou responsável pela parte hoteleira, mas também pelo bar e restaurante. Além de poder beber cerveja e vinho, há bom café, torrado no local, e snacks a todas as horas do dia, incluindo especialidades vegan, vegetarianas e até francesinhas. Tudo servido num ambiente descontraído e, regularmente, acompanhado por música ao vivo ou DJ sets.
Ao descer as escadas, dá de caras com o restaurante, onde pode fazer uma refeição mais compostinha, e que para já só está aberto à hora do almoço com menus executivos, cujos preços vão dos 12,50€ aos 16€. Na cozinha trabalham-se, principalmente, produtos sazonais e da região.
Bem perto fica a sala de espectáculos, que está preparada para receber todo o tipo de eventos, com destaque para os concertos. A equipa cultural da casa é a responsável pela selecção dos artistas que por aqui passam e inclui, além de outros profissionais, um programador artístico: Valter Lobo. Apesar de tratarem da produção internamente, estão sempre abertos a novas ideias e parcerias com produtoras da cidade e não só. A programação é ecléctica e acompanha as estações do ano, com artistas nacionais de várias zonas do país e até nomes internacionais. Existem ainda três salas de ensaios à disposição de quem aqui actua. Os preços dos espectáculos podem ir dos 5€ aos 30€.
Mas a agenda não se faz só de actuações: o M.Ou.Co também recebe conversas, debates e workshops. O próximo vai ter uma duração de três dias (19, 20 e 21 de Novembro), chama-se Presos por Cordas e é dedicado a instrumentos de corda. Os preços começam nos 100€ e é possível optar por um pacote que inclui alojamento.
O M.Ou.Co também quer tratar da saúde aos músicos, profissionais ou amadores, por isso criaram um projecto dedicado ao bem-estar dos artistas. A fisioterapeuta brasileira Flora Vezzá, que trabalha na área há uma década, é a responsável por esta ideia "inovadora", que inclui uma Clínica da Performance, em que traça o perfil do músico e o ajuda a resolver problemas, fazendo uma análise ergonómica, com e sem instrumento, para ensinar a aumentar a amplitude de movimentos, por exemplo. "Há muita coisa que se pode melhorar na performance e de que não se tem noção", explica Sofia Miró.
Só falta falar do hotel. São 62 quartos (alguns ainda não estão prontos, mas já não falta muito): uns são duplex, outros têm jardim privado, entre outras particularidades. O mais fácil foi baptizá-los: escolheram músicas inspiradas em viagens, como "Voyage Voyage" ou "Porto Sentido".
Apesar de tamanhos e comodidades diferentes, todos os quartos têm uma coisa em comum: um móvel – criado em tamanho grande, médio e pequeno – com amplificador embutido, onde pode ligar uma guitarra, um teclado ou um gira-discos, tudo coisas que pode pedir na recepção gratuitamente. Foram desenhados por Ramón Rodriguez Castro e produzidos no Porto. Alguns quartos têm ainda kitchenette, a pensar no conforto de artistas interessados em fazer residências artísticas. "Podem ficar cá numa residência artística, por exemplo. Têm a sala de ensaios lá em baixo e têm aqui a sua cozinha, não precisam de estar sempre a comer fora", explica Sofia.
Multiculturalidade, respeito, partilha e tolerância são alicerces deste M.Ou.Co – e há muitos planos para o futuro próximo. Agora estão num "começo lento", explica Sofia, para tentarem perceber a reacção da comunidade. O projecto é "muito orgânico e real" e está a ser levantado aos poucos.
Rua de Frei Heitor Pinto, 67 (Porto). moucohotel.pt