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Mais de 40 anos depois, a música de Zeca Afonso regressa ao Coliseu do Porto

Foi na sala de espectáculos portuense que, em 1983, Zeca Afonso deu o seu último concerto. Este sábado, dia 29 de Junho, vários músicos juntam-se no palco do Coliseu para o celebrar.

Ana Catarina Peixoto
Jornalista, Porto
Zeca Afonso
DRZeca Afonso
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A 25 de Maio de 1983, José Afonso dava o último concerto da sua carreira no Coliseu do Porto. Os registos que existem daquela noite não são muitos, mas as memórias de quem lá esteve permanecem até hoje. Quarenta e um anos depois, e no ano em que se comemoram os 50 anos da Revolução dos Cravos, o cantor, um dos grandes nomes da música portuguesa e símbolo da resistência e de Abril, é celebrado nesta mesma sala de espectáculos, com o concerto "Zeca Afonso: Maior que o pensamento".

O espectáculo está agendado para este sábado, dia 29 de Junho, às 21.00, e vai reunir, numa primeira parte, nomes históricos e músicos que pisaram o palco do coliseu com Zeca Afonso pela última vez, como Francisco Fanhais, Janita Salomé, João Afonso, Júlio Pereira, Nuno Oliveira, Octávio Sérgio, Rui Pato e a Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense.

Numa segunda parte, sobem ao palco músicos de diferentes gerações, que foram desafiados a cantar o legado de Zeca com novos arranjos de Pedro Vidal. São eles B Fachada, Dino d’Santiago, Jorge Palma, Ricardo Ribeiro, Teresa Salgueiro e Lena D’Água.

"O Zeca Afonso foi uma inspiração para tantos nós, músicos, e para mim como cantora, que o ouço desde rapariguinha, com 15/16 anos. Comecei a ouvir Zeca onde se podia, porque na rádio não passava. Era preciso andar à procura para conseguir os discos que eles [a PIDE] não confiscavam, era preciso saber os sítios certos”, recorda Lena D’Água, que vai trazer a palco os temas “Redondo Vocábulo" e “Coro dos Tribunais”. 

A cantora sublinha o papel que Zeca Afonso teve no seu crescimento e enumera, sem dificuldade, o que mais admira na sua música: “A poesia das letras, as melodias, a forma de cantar que sempre adorei, sem esforço – que é assim que acho que se deve cantar —, tudo isso continua a ser uma inspiração. De vez em quando, vou lá parar e arrepio-me com muitas canções do Zeca”. O concerto, acrescenta, vai permitir "rever alguns amigos e celebrar aquele génio que tanto nos deixou”.

Notícia publicada no "Notícias da Tarde", sobre o concerto de Zeca Afonso no Coliseu do Porto, em 1983
DRNotícia publicada no "Notícias da Tarde", sobre o concerto de Zeca Afonso no Coliseu do Porto, em 1983

Uma das vozes que gravou a senha da Revolução

Quem esteve no Coliseu do Porto com Zeca Afonso há mais de 40 anos e vai agora voltar pisar o mesmo palco é Francisco Fanhais, actual presidente da Associação José Afonso e uma das vozes que se ouve na gravação original de "Grândola, Vila Morena", o tema que se tornou senha da Revolução. “Não tenho cartão-de-visita, mas se tivesse colocava: 'Francisco Fanhais, um dos quatro que gravou a Grândola’. Foi um orgulho e uma alegria enorme ter participado nesta canção”, sublinha, enquanto recorda como foi gravada a música que acabou por se tornar um símbolo da Revolução. 

Francisco Fanhais tem a história na ponta da língua e bem viva na sua memória: "A música foi composta em 1964, em Grândola, e gravada em 1971. O José Mário Branco, que era o director musical do álbum Cantigas do Maio, lembrou-se das vezes em que foi ao Alentejo e tinha visto e ouvido os trabalhadores ao final do dia a virem para casa e como, muitas vezes, se juntavam em grupo e vinham a cantar pela rua abaixo. Esse ruído dos pés deles a acompanharem o ritmo da música ficou-lhe na memória e quis reproduzir este estilo. Só que o chão era muito liso dentro do estúdio. Encontrámos, depois, um sítio com gravilha fora do estúdio, demos os três os braços, começámos a fazer o som dos passos e vimos que resultava. Gravámos de madrugada, para que não houvesse o risco de passarem carros. Eram três da manhã quando gravámos os passos". Três anos depois, esses passos foram o início da Revolução. “Nenhum de nós imaginava”, recorda.

A "amizade profunda, a solidariedade a toda a prova, o espírito de fraternidade enorme e a grande cumplicidade” que mantinha com o seu amigo Zeca Afonso são o que melhor se recorda dele e, por isso, estar neste concerto "é uma alegria imensa". "Todas as músicas que vamos executar são do Zeca. Vamos recordar a memória desse homem que pôs toda a sua arte ao serviço da cidadania, vamos estar com o sobrinho do Zeca, o João Afonso, e vamos também estar com a banda da Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense”, acrescenta.

Os bilhetes para o concerto “Zeca Afonso: Maior que o pensamento” custam entre 12€ e 25€ e estão disponíveis na bilheteira do Coliseu Porto Ageas, coliseu.pt, Ticketline e locais habituais. “Vai ser muito bonito e no fim cantamos todos a 'Grândola'”, promete Francisco Fanhais.

Rua de Passos Manuel, 195 (Porto). 29 Jun, Sab, 21.00. 15€-25€

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