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Nos últimos tempos, tem havido muita conversa sobre cura ambiental à medida que os níveis de poluição caem, a qualidade do ar melhora e, um pouco por todo o mundo, animais selvagens passearam à vontade enquanto os humanos continuavam fechados em casa.
No entanto, esse impulso não intencional para melhorar o ambiente pode ter sido bastante passageiro. Na China, por exemplo, os níveis de poluição do ar já regressaram aos valores anteriores à quarentena. Agora, surge um novo efeito colateral preocupante do desconfinamento. Grupos ambientalistas alertam para luvas descartáveis e máscaras faciais a dar à costa nas praias, esquecidas no areal, e até depositadas em fundos marinhos, um pouco por todo o mundo.
Muitos governos, apoiados pela Organização Mundial da Saúde, recomendam o uso de máscaras em público para ajudar a conter a propagação da pandemia. Funcionários de lojas e, especialmente, do sector da saúde, juntamente com alguns membros mais cautelosos da sociedade em geral, também estão a adoptar o uso luvas de plástico descartáveis. Sem fim à vista para a necessidade destas medidas de segurança, a probabilidade é que milhões de máscaras e luvas descartáveis continuem a ser deitadas fora todos os dias.
Já em Março, havia relatos de que as praias de Hong Kong estavam repletas destes equipamentos de protecção descartados. Gary Stokes, do grupo ambientalista Oceans Asia, disse à Reuters na altura: "Só temos tido máscaras nas últimas seis a oito semanas... e estamos agora a testemunhar o efeito disso no meio ambiente".
Gary Stokes disse que, durante uma recolha de lixo nas ilhas Soko, encontrou 70 máscaras cirúrgicas num espaço de apenas 100 metros. Quando regressou, uma semana depois, mais 30 haviam aparecido. Estas máscaras costumam ser parcialmente feitas de plástico e, além de não serem recicláveis, demoram séculos para se decompor naturalmente.
Três meses depois, verificamos que máscaras e luvas são uma visão comum nas praias e águas de todo o mundo. No mês passado, a ONG Opération Mer Propre (Operação Mar Limpo) divulgou imagens de uma operação de limpeza no Mediterrâneo, durante a qual um mergulhador encontrou dez luvas de látex e quatro máscaras cirúrgicas a flutuar perto do fundo do mar.
O grupo alertou que, a menos que as pessoas parem de deitar máscaras e luvas nas estradas ou calçadas (onde muitas vezes serão empurradas para o esgoto e, daí, levadas para um rio ou mar), "um verdadeiro desastre ecológico" está iminente. Um porta-voz do grupo alertou que em breve poderão existir "mais máscaras do que alforrecas nas águas do Mediterrâneo".
Para evitar lixo desnecessário, os activistas ambientais sugerem que se invista em máscaras reutilizáveis, em vez do uso de dezenas ou centenas de máscaras descartáveis.
Recentemente, o governo francês alertou ainda a população para novas multas a quem produza lixo desnecessário, depois de surgirem imagens de máscaras e luvas a flutuar no mar. Brune Poirson, Ministro do Ambiente, disse que as multas por lixo quase duplicariam de 68€ para 135€.
À medida que o desconfinamento continua em ritmo acelerado, os oceanos e a vida marinha parecem estar novamente em perigo por nossa culpa.
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