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“O tempo não espera por mim! O tempo não espera por mim!” Assim terminava o disco inaugural dos Mão Morta, em 1988, pós-punk de Braga com selo de Campo de Ourique (isto é, da Ama Romanta de João Peste). Era – e é – o mantra de “Aum”, tema que muitos e longos anos depois continuaria a devolver ao alinhamento da histórica banda, ao vivo, ocasionalmente, um dos seus fundadores e ideólogos: Joaquim Pinto. O baixista, que não era membro efectivo do grupo desde 1990, morreu esta segunda-feira, 4 de Novembro, em Lisboa.
“É com profunda tristeza que comunicamos o falecimento de Joaquim Pinto, esta madrugada, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, onde estava internado”, informou a banda, em comunicado, recordando que o músico formou os Mão Morta com Miguel Pedro e Adolfo Luxúria Canibal “há exactamente 40 anos, no início de Novembro de 1984, e [era] seu membro honorário desde 1990, quando deixou de exercer as funções de baixista permanente”.
Joaquim Pinto foi então substituído por José Pedro Moura, por sua vez um dos fundadores dos Pop Dell’Arte. A mudança ocorreu após o polémico concerto no Rock Rendez-Vous, em 1990, quando Adolfo Luxúria Canibal, perante uma sala a abarrotar e meio descontrolada, decidiu cortar-se para criar um momento de inflexão no ambiente – sem se aperceber da gravidade do ferimento que se havia infligido. Corações Felpudos, o segundo disco da banda, estava ainda a meses de distância. Pinto já não participaria.
Apesar de ter gravado apenas um álbum (mais uma cassete, um ano antes, com quase as mesmas canções), Joaquim Pinto fica na história da banda não apenas por ter sido o seu primeiro baixista e ter estado no trio inicial, mas sobretudo porque é o protagonista do mito fundador dos Mão Morta. Reza a história que, após um concerto de Swans em Berlim, em Outubro de 1984, o baixista dos norte-americanos, Harry Crosby, disse ao fã português que ele tinha cara de baixista. De regresso a Braga, Joaquim Pinto compra o primeiro baixo.
“Haveremos de nos voltar a encontrar em Berlim!”, acrescentam os Mão Morta no comunicado desta quinta-feira. “Até lá, fica em paz, irmão.”
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