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Na Rua 31 de Janeiro, as portas de uma das mais emblemáticas fachadas portuenses — construída em ferro fundido dourado durante a Primeira Guerra Mundial — são das poucas ainda abertas à hora de jantar. Foi precisamente esse um dos factores que levaram Casimiro Ramos e Sérgio Ribeiro a abrir na icónica Casa Vicent, que já foi ourivesaria, loja de roupa e tantas outras coisas ao longo do último século, a Casa Vicent Beer & Food.
A relação dos dois sócios vem fortalecendo-se desde 2019, altura em que Sérgio abriu o conhecido Ferro Bar, no andar de baixo da Casa Vicent. Quando o espaço ficou livre em 2024, Casimiro e Sérgio decidiram elevar a relação senhorio-inquilino a sociedade, cientes do peso da história que aquele lugar carregava.
A Casa Vicent, que funcionou como ourivesaria durante grande parte do século XX, foi sapataria, gelataria e loja de roupa em anos mais recentes. Felizmente, foi conservando intacta a sua fachada inspirada no movimento Arte Nova, com "motivos vegetalistas" e encabeçada por uma "concha coroada" no topo, num trabalho da portuense Companhia Aliança. E é por isso que ainda hoje, no seu interior, é possível admirar os tectos trabalhados, o pavimento em madeira e o grande cofre ainda operacional.
Voltando aos intervenientes desta história, Sérgio tem a noite como contexto empresarial desde os tempos do Armazém do Chá, um dos bares pioneiros da vida nocturna portuense tal como a conhecemos hoje. “Lá também servíamos alguns pratos, foi aí que fiquei familiarizado com a restauração”, conta o empresário. Com vários anos de experiência e uma rua a necessitar de animação nocturna, propôs a Casimiro uma aventura pelo mundo da restauração.
“Tive receio, inicialmente, por causa da volatilidade do ramo, mas confio no Sérgio e também ambicionava um projecto novo e diferente”, explica o sócio. No piso superior, nasceu então a Casa Vicent Beer & Food, baptizada em honra ao comerciante espanhol que mandou gravar o seu nome na fachada do edifício quando lá se instalou no século XX.
“A ideia era fazer algo relaxado, um lugar onde as pessoas pudessem vir beber e petiscar em grupo”, conta-nos Casimiro. Apesar das identidades díspares, a passeata entre o restaurante e o Ferro Bar é recomendada e pode ser feita internamente através das escadas. Pelo meio, há uma surpresa partilhada entre os dois: o terraço amplo, perfeito para um final de tarde, com vista para a estação de São Bento e para o Time Out Market.
Um bar generoso e petiscos para partilhar
O bar é o grande foco do espaço, largo e lustroso, por conta dos reflexos de luz nas dezenas de copos pendurados. “As bebidas são o nosso forte e a nossa base. Gosto de dizer que somos uma cervejaria com alguns petiscos”, explica-nos Sérgio. Nesse sentido, há vários caminhos por onde enveredar. As cervejas (2€-6€), à pressão ou em garrafa, são várias, tanto nacionais como internacionais, mas há também uma extensa selecção de vinhos. E para rematar qualquer refeição, ou acompanhar um pôr-do-sol no terraço, há seis cocktails de autor (9€), adaptados a todos os gostos.
Entre chamadas e pedidos de ajuda na organização do concerto marcado para o Ferro Bar mais tarde, os petiscos chegam à mesa. Os rissóis de carne, camarão (4€/2 uni.) e leitão (6€/2 uni.), os bolinhos de bacalhau (5,50€/3 uni.) e os croquetes de carne (4,50€/3 uni.) não poderiam faltar numa casa que tanto valoriza a tradição. As batatas bravas (5€) e as saladas de burrata (12€) ou salmão (12,50€) são bons acompanhamentos, mas é nos pratos mais populares que a cozinha brilha.
As moelas picantes (5€) vêm directas e quentinhas da panela, os lombinhos de bacalhau com cebolada (12€) são tenros e são uma “receita da casa”, e a bochecha de porco preto (10€) tem sido um dos pratos favoritos de quem por cá passa. Para picar entre copos, há ainda choco frito acompanhado por molho aioli (10€) e gambas ao alho (10€).
E como o doce no final da refeição não pode faltar, o leite-creme caramelizado (4€) e a gulosa mousse de chocolate (4€) estão prontos a aquecer a barriga nos meses de frio que se avizinham.
Com o passar das horas, o bar enche-se de casais ou grupos de amigos, cativados pela luz e animação da Casa Vicent, ou de clientes do Ferro Bar, incentivados a subir os lanços de escadas para desfrutar da oferta lá em cima. Para o famoso terraço, está prevista a instalação de um toldo, de maneira a que possa ser aproveitado também durante os meses de Outono e Inverno.
A Casa Vicent fecha à 01.00, “para que possa funcionar também como local pré-festa”, conta Sérgio. E, claro, a festa pode fazê-la sem ter de deambular muito. Cuidado onde coloca os pés e desça até ao Ferro Bar, onde a farra vai até às 05.00.
Rua de 31 de Janeiro 174. Ter-Dom 16.30-1.00.