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Há pouco mais de um ano, nascia na rua de Cedofeita um sonho. O Alto Porto, inicialmente pensado apenas para brunch, trouxe uma abordagem de alta cozinha e uma especialização em receitas de Leste ao panorama deste conceito culinário na cidade. Pouco tempo depois da abertura, o espaço começou também a servir jantares, mantendo sempre o registo multicultural, internacional e cuidado que caracteriza a sua carta e imagem. No Nani Bistrot, houve vontade de fazer algo um pouco diferente.
A sua magia está no nome. Esqueça o popular futebolista português, Nani é um diminutivo carinhoso para ‘avó’ em arménio, e nele resume-se o conceito do restaurante: comida confortável e caseira. “A nossa equipa é internacional, com muitas raízes no Cáucaso. Desde que nos mudámos para cá que existia uma vontade grande de abrir um restaurante dedicado a esta cozinha, de abrirmos a porta de casa a um público novo”, revela Becruzo, o responsável de comunicação do grupo. De facto, a porta de casa está sempre aberta: não existe um sistema de reservas, basta aparecer, sentar e ser recebido de braços abertos. Como um “tens fome? tens de comer!” da nossa própria avó.
O objectivo é sair de barriga cheia e quentinha. “A carta é curta e clara, estamos focados nos pratos mais clássicos da nossa cozinha e em apresentá-los da maneira mais fiel possível”, acrescenta Becruzo. Nessa linha de pensamento, os preços são mais acessíveis e as porções maiores do que no irmão mais velho, o Alto. “Aqui despimos o conceito de alta cozinha, do ‘chique’, para vestir a tradição.”
Ao sentar-se no Nani, é, desde logo, convidado a escolher uma bebida para acompanhar a refeição. Há limonada e kompot caseiros (2€), no entanto, o destaque vai para os vinhos. “A maioria das pessoas opta pelos vinhos laranja, pela sua peculiaridade”, indica Becruzo, segundos antes da mesa do lado pedir uma garrafa (28€). Se estiver com vontade de carnes, esta é a escolha certa para acompanhar a sua refeição.
O churrasco, ou khorovats (14€/15€), é bastante comum no Cáucaso e não poderia faltar no Nani. O conceito soa-nos familiar, mas o vínculo fica por aí. O churrasco caucasiano é bastante diferente na sua composição: depois da carne estar preparada, é deitada numa cama de pão tradicional ('lavash') e cebolas marinadas, acompanhada por ‘ajika’, um molho ancestral georgiano. É recomendado que o complemente com os pickles de casa (3€).
Outro dos pratos em que a carne brilha é nos famosos khinkali (8€), uma espécie de dumpling, muito comum na Geórgia. Antes do fecho da massa e subsequente cozedura, o ‘bolinho’ é enchido com o caldo da confecção da carne. Depois da primeira trinca, a tradição é beber o caldo e, só depois, desfrutar do khinkali como um todo. Apesar da delícia e sabor doméstico da sua massa, não se entusiasme demasiado. É suposto deixar a parte de cima dos bolinhos no prato. “É uma tradição que vem dos mineiros, que pegavam nos khinkali com as mãos sujas, comendo à volta até só a 'pega' sobrar”, conta o responsável de comunicação, entre trincas.
Se não é fã de carne, não se preocupe. A grande maioria dos pratos tem uma versão vegetariana, igualmente tradicional. Por exemplo, os khinkali são também oferecidos com recheio de queijo e ervas típicas. “Os queijos são um componente essencial da cozinha do Cáucaso, estão sempre presentes”, acrescenta. De facto, o queijo é a estrela de um dos pratos mais conhecidos desta gastronomia, o khachapuri (14€) – um ‘barco’ de pão fresco, recheado com diferentes queijos caucasianos, completo com uma gema de ovo em cima. Este delicioso barquinho é um clássico dos momentos em família na Geórgia: várias pessoas juntas à volta da mesa, a atacar o prato enquanto está quentinho.
Dentro dos pratos principais, há ainda outro destaque. Pergunte à equipa ou vá ao Google: a sua composição vai lembrar-lhe algo. O lobio (8€) é uma espécie de cozido, à base de feijão e tomate, lentamente confeccionado, de maneira a que o feijão absorva a complexidade de sabores das ervas aromáticas e do tomate. “Esta é uma representação excelente da cozinha de Leste – pegar em ingredientes considerados simples e transformá-los em algo muito saboroso e especial, através do tempo e cuidado a eles dedicados”, acrescenta Becruzo.
E para rematar a refeição, não poderia faltar a pakhlava (6€). Não se preocupe, não é um erro. A pakhlava é, na verdade, bastante diferente da conhecida baklava. As camadas de massa folhada e amanteigada são comuns a ambas, mas a delícia arménia opta pelas nozes picadas com especiarias e o xarope de cravinho para adocicar. Segundo a tradição, deve ser acompanhada por um chá (2,5€), que funciona como uma espécie de digestivo na cozinha caucasiana, um pouco como o café na típica refeição portuguesa.
Um mês depois de abrir, já há vários planos e intenções para o Nani Bistrot: o de ter uma esplanada é certo, o de começar a abrir todos os dias está em discussão. Entretanto, de quinta-feira a domingo, as portas da casa da avó esperam-no ansiosamente.
Rua da Torrinha 86. 934 258 359. Qui-Seg 12.00-16.00 / 19.00-23.00
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