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Neonia: neste novo museu interactivo vive um Porto alternativo

Da Torre dos Clérigos a espaços históricos que encerraram, o novo museu interactivo quer prestar homenagem ao Porto. Com arte, tecnologia, ciência e muita história.

Ana Catarina Peixoto
Jornalista, Porto
Neonia é o novo museu interactivo no Porto
DRNeonia é o novo museu interactivo no Porto
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No número 116 da Rua de Ceuta há um Porto que vive dentro da própria cidade e que se quer dar a conhecer. Nele estão representados locais e momentos emblemáticos, como a Torre dos Clérigos, o Mercado do Bolhão e a noite de São João, mas recordam-se também edifícios e histórias portuenses do passado, como o Cinema Águia D'Ouro, o Palácio de Cristal ou a antiga Central Eléctrica do Freixo. Este lugar chama-se Neonia, o novo museu interactivo que abriu portas este mês e que quer ser uma homenagem ao Porto, com tecnologia, arte e história à mistura.

O espaço conta com 18 salas, todas dedicadas a temáticas da cidade, e oferece uma visão retro-futurista e com um filtro cyberpunk, inspirado nas luzes néon, projecções, sonoplastia, jogos de luz e tecnologia interactiva. “É quase o contrário de um museu porque, em vez de apenas contemplarmos, temos interacção e intervenção”, sublinha Aquiles Barros, um dos fundadores do Neonia.

O Neonia abriu no centro do Porto em Abril de 2024
Hugo Castro

No Neonia faz-se uma viagem ao Porto do passado e do presente. Há, por exemplo, um espaço que simula o desaparecido cinema Águia d’Ouro, onde é possível recordar, através de um filme, um momento na cidade desconhecido por muitos: quando, em 1917, dois espanhóis escalaram a Torre dos Clérigos, perante os olhares de cerca de 150 mil pessoas e sem qualquer equipamento de protecção, para promover uma marca de bolachas. Há ainda uma representação da Torre dos Clérigos, montras interactivas com nomes de ruas emblemáticas da cidade e uma sala que representa o Mercado do Bolhão.

Se ainda se lembra do Café Imperial, que encerrou nos anos 90, pode entrar numa sala que simula este espaço, com as cadeiras originais do antigo café e com vários objectos que começam a funcionar automaticamente quando os visitantes se aproximam. Mais à frente, surge um labirinto de espelhos "infinitos" que viaja desde o Alto Douro Vinhateiro até às caves de Vinho do Porto, uma sala do mar em homenagem ao Infante D.Henrique, os jardins do Palácio de Cristal em formato néon e uma sala da noite de São João, com cerca de 600 balões iluminados feitos com resina.

Neonia
Hugo CastroUma das salas do Neonia representa a noite de São João, com mais de 600 balões feitos de resina e iluminados

 

Um museu "atípico" que nasceu de um sonho com 30 anos

O Neonia era o sonho de Vera Mata há mais de 30 anos. "Quando tinha 16 anos fui a Paris, um mês depois de ter aberto o Parc de la Villette, com o museu da ciência e da indústria, e fiquei fascinada com aquele espaço. Pensei que um dia gostaria de ter uma coisa assim no Porto. Não um museu normal, mas um museu que junte a arte, na parte cenográfica, com ciência, tecnologia e história”, explica à Time Out. Vera seguiu o seu percurso, estudou Engenharia Química no Porto e fundou uma empresa de desenvolvimento de perfumes e de aromatização de espaços. Mas sempre com este sonho em mente.

Alguns anos depois, tentou tirar a ideia do papel: "Tentei arranjar investidores que tivessem interesse no projecto quando o turismo no Porto começou a aumentar, mas não consegui ninguém". Não desistiu. Oito anos depois, em 2021, numa conversa informal com Aquiles Barros, Vera encontrou alguém que acreditou na ideia e quis avançar com projecto. A única condição, refere Aquiles Barros, era "o espaço ser no centro do Porto”. Juntamente com Marta Araújo, também doutorada em química, fundaram a Illusionarium, empresa responsável pela criação de espaços como o Neonia. 

À entrada do museu há uma Torre dos Clérigos "dobrada", feita por um artista das Canárias
DRÀ entrada do museu há uma Torre dos Clérigos "dobrada", feita por um artista das Canárias

A inspiração para um museu com este conceito veio também das várias viagens que Vera Mata e Marta Araújo fizeram pelo mundo. “Fomos buscar tecnologia semelhante, mas sempre adaptada à localidade. Nunca quisemos ser genéricos. Os espaços que visitámos são genéricos: têm uma história, mas é uma história inventada e romantizada. No nosso caso, é a história do Porto”, explica Marta Araújo. O projecto teve um investimento de capitais próprios entre seis e sete milhões de euros, estando a aguardar o resultado de uma candidatura ao apoio do Turismo de Portugal.

Para o nascimento deste conceito contribuíram também vários artistas, como Rodrigo Rodriguez, um escultor das Canárias que fez a Torre dos Clérigos para este espaço; Andy Harbeck, um designer de Los Angeles que fez várias das peças e pinturas inspiradas no universo cyberpunk; e ainda Mariana Duarte Santos, uma artista de Lisboa que ficou encarregue de pintar uma parede com o Mercado do Bolhão.

O objectivo, acrescenta Vera Mata, é que este seja “um Porto alternativo, um Porto dentro da própria cidade”, um Porto não só para quem vem de fora, mas também para mostrar outro lado da cidade a quem lá vive. Para isso, a investigadora leu e pesquisou várias histórias, contadas sobretudo por historiadores portuenses como Joel Cleto e Germano Silva. “Histórias que não são tão turísticas, mas que nós queríamos contar, histórias sempre felizes, porque a ideia é que as pessoas descontraiam aqui dentro”, acrescenta.

O espaço conta tem 18 salas e oferece uma visão retro-futurista e com um filtro cyberpunk
Hugo CastroO espaço conta tem 18 salas e oferece uma visão retro-futurista e com um filtro cyberpunk

A abertura do Neonia está a ser gradual, enquanto se vão afinando detalhes. Os responsáveis esperam vários visitantes estrangeiros, mas também portugueses e ainda uma parte significativa de alunos das escolas. “O nosso objectivo não é educar, mas sim entreter. Mais do que chamar de museu interactivo, somos um museu atípico, precisamente porque queremos atrair, queremos envolver e queremos entreter. Queremos ser um espaço para famílias poderem explorar, em que todos os elementos da família gostam mais de umas coisas e menos de outras. Há sempre qualquer coisa para toda a gente”, termina Marta. 

Rua de Ceuta, 116 (Porto). Seg-Dom, 10.00-21.00. Preços especiais de abertura: 22€ (adulto), 17€ (3-17 anos ou > de 65 anos), entrada livre para crianças com menos de 3 anos. 

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