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No número 116 da Rua de Ceuta há um Porto que vive dentro da própria cidade e que se quer dar a conhecer. Nele estão representados locais e momentos emblemáticos, como a Torre dos Clérigos, o Mercado do Bolhão e a noite de São João, mas recordam-se também edifícios e histórias portuenses do passado, como o Cinema Águia D'Ouro, o Palácio de Cristal ou a antiga Central Eléctrica do Freixo. Este lugar chama-se Neonia, o novo museu interactivo que abriu portas este mês e que quer ser uma homenagem ao Porto, com tecnologia, arte e história à mistura.
O espaço conta com 18 salas, todas dedicadas a temáticas da cidade, e oferece uma visão retro-futurista e com um filtro cyberpunk, inspirado nas luzes néon, projecções, sonoplastia, jogos de luz e tecnologia interactiva. “É quase o contrário de um museu porque, em vez de apenas contemplarmos, temos interacção e intervenção”, sublinha Aquiles Barros, um dos fundadores do Neonia.
No Neonia faz-se uma viagem ao Porto do passado e do presente. Há, por exemplo, um espaço que simula o desaparecido cinema Águia d’Ouro, onde é possível recordar, através de um filme, um momento na cidade desconhecido por muitos: quando, em 1917, dois espanhóis escalaram a Torre dos Clérigos, perante os olhares de cerca de 150 mil pessoas e sem qualquer equipamento de protecção, para promover uma marca de bolachas. Há ainda uma representação da Torre dos Clérigos, montras interactivas com nomes de ruas emblemáticas da cidade e uma sala que representa o Mercado do Bolhão.
Se ainda se lembra do Café Imperial, que encerrou nos anos 90, pode entrar numa sala que simula este espaço, com as cadeiras originais do antigo café e com vários objectos que começam a funcionar automaticamente quando os visitantes se aproximam. Mais à frente, surge um labirinto de espelhos "infinitos" que viaja desde o Alto Douro Vinhateiro até às caves de Vinho do Porto, uma sala do mar em homenagem ao Infante D.Henrique, os jardins do Palácio de Cristal em formato néon e uma sala da noite de São João, com cerca de 600 balões iluminados feitos com resina.
Um museu "atípico" que nasceu de um sonho com 30 anos
O Neonia era o sonho de Vera Mata há mais de 30 anos. "Quando tinha 16 anos fui a Paris, um mês depois de ter aberto o Parc de la Villette, com o museu da ciência e da indústria, e fiquei fascinada com aquele espaço. Pensei que um dia gostaria de ter uma coisa assim no Porto. Não um museu normal, mas um museu que junte a arte, na parte cenográfica, com ciência, tecnologia e história”, explica à Time Out. Vera seguiu o seu percurso, estudou Engenharia Química no Porto e fundou uma empresa de desenvolvimento de perfumes e de aromatização de espaços. Mas sempre com este sonho em mente.
Alguns anos depois, tentou tirar a ideia do papel: "Tentei arranjar investidores que tivessem interesse no projecto quando o turismo no Porto começou a aumentar, mas não consegui ninguém". Não desistiu. Oito anos depois, em 2021, numa conversa informal com Aquiles Barros, Vera encontrou alguém que acreditou na ideia e quis avançar com projecto. A única condição, refere Aquiles Barros, era "o espaço ser no centro do Porto”. Juntamente com Marta Araújo, também doutorada em química, fundaram a Illusionarium, empresa responsável pela criação de espaços como o Neonia.
A inspiração para um museu com este conceito veio também das várias viagens que Vera Mata e Marta Araújo fizeram pelo mundo. “Fomos buscar tecnologia semelhante, mas sempre adaptada à localidade. Nunca quisemos ser genéricos. Os espaços que visitámos são genéricos: têm uma história, mas é uma história inventada e romantizada. No nosso caso, é a história do Porto”, explica Marta Araújo. O projecto teve um investimento de capitais próprios entre seis e sete milhões de euros, estando a aguardar o resultado de uma candidatura ao apoio do Turismo de Portugal.
Para o nascimento deste conceito contribuíram também vários artistas, como Rodrigo Rodriguez, um escultor das Canárias que fez a Torre dos Clérigos para este espaço; Andy Harbeck, um designer de Los Angeles que fez várias das peças e pinturas inspiradas no universo cyberpunk; e ainda Mariana Duarte Santos, uma artista de Lisboa que ficou encarregue de pintar uma parede com o Mercado do Bolhão.
O objectivo, acrescenta Vera Mata, é que este seja “um Porto alternativo, um Porto dentro da própria cidade”, um Porto não só para quem vem de fora, mas também para mostrar outro lado da cidade a quem lá vive. Para isso, a investigadora leu e pesquisou várias histórias, contadas sobretudo por historiadores portuenses como Joel Cleto e Germano Silva. “Histórias que não são tão turísticas, mas que nós queríamos contar, histórias sempre felizes, porque a ideia é que as pessoas descontraiam aqui dentro”, acrescenta.
A abertura do Neonia está a ser gradual, enquanto se vão afinando detalhes. Os responsáveis esperam vários visitantes estrangeiros, mas também portugueses e ainda uma parte significativa de alunos das escolas. “O nosso objectivo não é educar, mas sim entreter. Mais do que chamar de museu interactivo, somos um museu atípico, precisamente porque queremos atrair, queremos envolver e queremos entreter. Queremos ser um espaço para famílias poderem explorar, em que todos os elementos da família gostam mais de umas coisas e menos de outras. Há sempre qualquer coisa para toda a gente”, termina Marta.
Rua de Ceuta, 116 (Porto). Seg-Dom, 10.00-21.00. Preços especiais de abertura: 22€ (adulto), 17€ (3-17 anos ou > de 65 anos), entrada livre para crianças com menos de 3 anos.