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Há três meses, Mafalda Barbosa não imaginava pisar um palco profissional tão cedo. Já tinha queda para o teatro, era presença assídua nos clubes da escola, mas só com a entrada para o Clube de Teatro do Teatro Nacional São João (TNSJ) é que teve “a primeira experiência a sério”. Em Janeiro fez parte do grupo de 15 adolescentes, entre os 14 e os 18 anos, que arrancou com o projecto e que, durante 12 semanas, se encontrou aos sábados para improvisar e representar em salas do TNSJ e do Teatro Carlos Alberto (TeCA).
Chegada a hora da apresentação final, há um nervoso miudinho que toma conta do auditório do TeCA. No ensaio geral, passa-se em revista cada cena e cada fala sob o olhar atento de Emílio Gomes. Bem antes de aqui chegar, o actor e coordenador começou por lançar ao grupo o desafio do improviso. “Era um misto de emoções: nervosismo, medo de errar e de olhar para um monte de gente desconhecida e bloquear”, recorda Igor Dias.
Depois de uma fase inicial dedicada a jogos de construção teatral, cada participante construiu uma ficha de personagem com “nome, idade, profissão, trauma, sonho ou história insólita”, revela Emílio Gomes. “Depois foi feito um corta e cose destes mundos completamente diferentes que resultou num guião baseado no absurdo”.
A peça, que acabou por estrear sem nome, retrata “cenas do quotidiano que podem passar despercebidas e que aqui fazem as pessoas rir e pensar”, nota o formador. Um grupo que faz comentários xenófobos e homofóbicos num jardim ou um padre que vai a uma leitura de sina foram algumas das personagens saídas do imaginário dos jovens.
O cenário minimalista - reduzido a duas cadeiras, um banco e um cinzeiro - é uma constante nas formações dadas por Emílio Gomes, já que “o que se pretende aqui é ver o actor-criador”. “Se for preciso, eles criam o próprio cigarro [com gestos]”, explica.
Além de se passar conhecimentos técnicos e cultivar a auto-estima e confiança, tenta-se incutir sentido de responsabilidade e compromisso. Emílio Gomes salienta que, após o entusiasmo inicial, às vezes é preciso “lembrar que, para tudo acontecer, não se pode estudar só na véspera, porque uma coisa é ter o texto memorizado e outra é tê-lo solidificado”.
No final, tanto o formador como os formandos fazem um balanço positivo daquele que se espera que seja só o primeiro capítulo do Clube de Teatro do TNSJ. Luísa Corte-Real, responsável pelo centro educativo da instituição, nota que o grupo foi assim nomeado - e não “oficina”, como em formações pontuais dadas anteriormente - “já com a intenção de não haver um fecho”. O ponto de encontro para jovens que se interessem pelo teatro tem regresso marcado, pelo menos, para Janeiro do próximo ano, altura em que deverá passar a acontecer todos os meses.