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Não faltam festivais de música em Portugal. Só no ano passado, segundo a Aporfest – Associação Portuguesa Festivais de Música, houve mais de 300. E continuam a ser anunciados novos eventos. A maior parte é mais do mesmo, mas o Square, que se realiza entre esta quarta-feira, 29, e sábado, 1 de Fevereiro, em Braga, com extensões às outras cidades do quadrilátero urbano do Minho, não é só mais um. É diferente.
A iniciativa partiu da Câmara Municipal de Braga, que entrou em contacto com a editora e promotora portuense Lovers & Lollypops quando se estava a candidatar a Capital Europeia da Cultura em 2027. “Havia a ideia de fazer um festival de música assente nestas quatro cidades – Braga, Guimarães, Famalicão e Barcelos – e entraram em contacto connosco”, recorda Márcio Laranjeira, à frente da Lovers.
“Na altura, olhámos para o panorama dos festivais e para a região e tentámos propor algo que, de certa maneira, acrescentasse alguma coisa, que não fosse mais só um, num território e num mercado em que é fácil ser mais um”, detalha o programador. Surgiu então a ideia de “mapear o Atlântico”, num programa interligado pelo oceano e inspirado nas suas margens, com conferências e showcases de novos artistas.
Braga acabou por não ser eleita a Capital Europeia da Cultura – essa vai ser Évora. “Mas criou-se esta nova coisa que são as Capitais Portuguesas da Cultura. E quando Braga soube disso, optou por aproveitar o trabalho feito durante a candidatura para a Capital Europeia da Cultura e, mesmo sem a capacidade de fazer todos os projectos, escolher alguns que podiam fazer sentido neste novo contexto”, explica Márcio. “O Square foi um deles.”
Um festival aberto ao exterior
Uma das particularidades do Square é a maneira como o alinhamento foi desenhado, por 25 parceiros de programação e através de open call internacional, que “deu a conhecer muitas coisas novas”. É uma maneira de trabalhar e programar diferente daquela a que a Lovers & Lollypops se habituou em festivais, como o saudoso Milhões de Festa, em Barcelos, ou o Tremor, que se espraia pela ilha açoriana de São Miguel.
Entre os curadores convidados, estão editoras como a Nyege Nyege, do Uganda, a River Down, do Panamá, ou a peruana Buh; festivais como os espanhóis Monkey Week e IWA Fest ou o brasileiro Novas Frequências; espaços como a Basilica Hudson, em Nova Iorque, ou o Cafe OTO, meca londrina da música experimental. Mas também dinamizadores nacionais, como a Amplificasom, a Bantumen, a Bazuuca, a gig.ROCKS!, o FMM Sines, o MIL, a Revolve ou o Triciclo.
“Cada um dos 25 parceiros indicou um artista”, aponta Márcio. O trabalho da organização passou apenas pela selecção de “estruturas que tivessem a aposta em música nova, e importante para o circuito onde estão a trabalhar, no seu ADN”. A estes 25 nomes juntaram-se outros tantos seleccionados pela promotora portuense, a partir da open call. “Recebemos 1040 candidaturas de artistas, de todo o lado, de todos os espectros, de todos os géneros”, revela. Nem 15% eram portugueses.
Destes 50 nomes, há alguns que se destacam. Como o duo pós-punk Comfort, de Glasgow, ou Arianna Casellas y Kauê, a trazerem a América Latina para o norte de Portugal, esta quarta-feira, 29, em Guimarães. Ou a banda de pós-hardcore portuguesa Hetta mais o colombiano Julián Mayorga a fazer da cumbia música electroacústica e experimental, no dia 30, em Barcelos. Ou a rapper Mynda Guevara e a inovadora basca Verde Prato, a 31, em Famalicão. Ou, no último dia, em Braga, Gushes, Maria Reis, Asmâa Hamzaoui & Bnat Timbouktou, Cantes Malditos e não só.
Enquanto os concertos se desdobram por várias salas de Guimarães (29), Barcelos (30) e Famalicão (31), durante as tardes desta semana, as manhãs e as noites são passadas em Braga, respectivamente em conferências, actuações ao vivo e DJ sets. Só no sábado, 1 de Fevereiro, é que não se passa nada fora de Braga.
Pensar o futuro. E no futuro
As conferências do Square foram escolhidas a dedo. “Não queríamos um festival com 200 conversas, queríamos ter poucos momentos de programação – só três por dia – mas com bastante profundidade. E em que fosse possível falar de coisas que fossem queridas e próximas das pessoas que estão nestes territórios”, afirma Márcio. Para traçar esta componente teórica, pediram ajuda ao programador Carlos Gonçalves.
“Partimos da polissemia da palavra margem para desenhar estas conferências, estas conversas”, destaca Carlos. “Ou seja, olhámos para as margens físicas do Atlântico, mas também para a margem em oposição ao centro, e até para uma margem financeira, à falta de melhor palavra. Interessava-nos muito tocar todos estes diferentes significados do que a margem poderia ser.”
“Só não queríamos que parecesse tudo a correr, nem muito técnico, mas que funcionasse mais como uma bagagem teórica para o que estava a acontecer nos showcases e concertos. Que houvesse uma ligação entre as realidades e as vivências dos artistas que vêm e aquilo de que se vai falar”, desenvolve Carlos.
A ideia é que este trabalho não fique por aqui. “Partimos da premissa que é um projecto que poderá ter continuidade. Ou seja, estamos a lançar as bases para que exista uma continuidade e uma repetição. Mas até ao momento ainda não temos essa certeza”, anuncia Márcio Laranjeira. “Será a analisar após esta primeira edição. Porém, os indicadores que estamos a ter até agora são muito bons, a nível de interesse, a nível de bilhetes, essas coisas. Para um primeiro ano está muito bem.” Tomara que para o ano esteja ainda melhor. O Minho merece um festival destes.
Quadrilátero Urbano do Minho (vários locais e cidades). 29 Jan-1 Fev (Qua-Sáb). 15€-50€
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