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Num confortável cantinho junto à Avenida dos Aliados, a tradição ainda é o que era: doce, familiar e acolhedora. Os Doces Conventuais de Arouca ganharam asas e chegaram ao Porto, através do negócio de família de Jorge Bastos, que tem como missão levar a herança de um mosteiro a vários locais. Desde Dezembro de 2024 é possível provar e comprar, no centro do Porto, a doçaria conventual arouquense — das apetecíveis morcelas aos charutos de amêndoa e outras iguarias —, com origem nos conventos de outros tempos, exímios na tarefa de os confeccionar há longos anos.
Abrir uma loja num centro turístico mais forte “sempre foi um sonho” para Jorge, que continuou o legado iniciado pela sua tia-avó e que, actualmente, conta com duas lojas físicas em Arouca e, mais recentemente, uma no Porto. O sonho concretizou-se não só com o desejo de expandir o negócio, mas também face aos pedidos de vários clientes “que visitavam Arouca e que queriam ter forma de comprar a doçaria a partir de outros locais”. “Em Arouca, a doçaria conventual é um produto de referência. Temos o cliente local e temos também o turista, porque Arouca cresceu muito em termos turísticos. Vamos sentindo um bom feedback e as pessoas acabam também por nos incentivar a crescer”, explica o responsável.
Para este espaço, localizado na rua do Dr. Artur de Magalhães Basto, “traz-se um pouco de tudo o que existe em Arouca”, sendo a doçaria convencional o grande foco do negócio. “Temos também outros produtos que são produzidos em Arouca, como o mel, os licores e o pão-de-ló, que é um doce regional e que não é produzido por nós, mas também tem uma casa própria na cidade”, acrescenta.

Entre a oferta variada, os produtos mais requisitados são as morcelas doces (2,50€/unidade), feitas com doce de pão, amêndoa, manteiga, canela e açúcar e que chegaram a ser vendidos na antiga Confeitaria Cunha, no Porto, e também os famosos charutos de amêndoa (2€/unidade), um doce de ovo e amêndoa envolto em folha de hóstia.
Outras opções a provar são o doce de chila (2,50€/fatia); o pão de São Bernardo (10€/pequeno); as típicas castanhas doces (8€/25 unidades); a barriga de freira (12€/250g), que consiste num doce em forma de creme, à base de ovo e amêndoa; e as roscas de amêndoa (9€/seis unidades). Também vindos directamente de Arouca estão, entre outros, a coroa rainha (4€/unidade), um doce vegan com miolo de pão, amêndoa, canela e açúcar, e as pedras parideiras (9€/6 unidades), um doce de nozes e farinha de centeio coberto com calda de açúcar.
Os produtos são confeccionados diariamente na fábrica dos Doces Conventuais em Arouca e transportados diariamente para a loja do Porto, garantindo que os doces são sempre frescos e saborosos. “É um produto que tem de ser diário ou quase diário. Aliás, um dos principais motivos que nos levou a ambicionar um dia podermos abrir uma loja aqui é precisamente este aspecto. É um doce muito difícil de revender porque, inevitavelmente, acaba por ser um produto caro e com pouca validade”, explica Jorge.

O espaço, recentemente inaugurado, está localizado num edifício típico da cidade e a decoração conta com vários elementos ligados a Arouca – desde a figura de uma monja à entrada a uma montra que dá destaque a todos os produtos para que quem passe perceba o tesouro que ali vive. Toda a preparação e trabalho de decoração da loja foi feita por pessoas de Arouca, "do carpinteiro ao electricista", uma vez que já conhecem o conceito dos históricos Doces Conventuais de Arouca. “As pessoas conhecem o produto, o conceito e aquilo que já temos em Arouca. Já conhecem a forma como nos apresentamos e, então, é mais fácil”.
Do mosteiro para o mundo
Jorge Bastos tem nas mãos um negócio que vem de família e que faz questão de fazer perdurar com a tradição e a qualidade que sempre lhe foram associadas. A doçaria conventual começou por ser confeccionada pelas monjas, sendo que as suas receitas ficavam entre as paredes do Mosteiro de Santa Maria de Arouca. “Quando se dá o fim das ordens religiosas, deixa de haver a mobilização de freiras e há necessidade de ir ao povo buscar criadas para ajudar nas lides diárias. E uma dessas criadas, e das últimas criadas do mosteiro, foi a tia-avó do meu pai”, explica Jorge.
As receitas acabaram por sair do mosteiro, foram transmitidas à família Bastos e começaram a ser comercializadas. “Depois, é a sequência óbvia. Da minha tia-avó para a minha avó; da minha avó para o meu pai; e do meu pai para mim”, refere Jorge, acrescentando que aprendeu a fazer estes doces ao ver a sua família a fazê-los da forma mais tradicional possível.

Até hoje a doçaria conventual continua a ser um dos grandes tesouros gastronómicos de Arouca e com uma característica que a distingue de produtos típicos de outras regiões: “Desde o tempo em que se produzia no mosteiro até hoje, este doce nunca deixou de ser comercializado”. Começaram por ser vendidos às portas de casa, nos cafés da vila e em algumas acções nos aeroportos e espaços comerciais, até que, em 2018, Jorge decidiu abrir a primeira loja física em Arouca. A partir daí, nunca mais parou. O processo de confecção dos Doces Conventuais de Arouca “continua a ser o mesmo, feito de uma forma tradicional”, com a história e as receitas a resistirem ao tempo e agora com mais uma casa para os acolher.
Rua do Dr. Artur de Magalhães Basto, 12 (Porto). 10.00-20.00.
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