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Milhares amassaram o próprio pão. E milhares perceberam, durante os confinamentos dos dois últimos anos, que fazê-lo não é assim tão fácil. Nem que obter uma reacção de Maillard homogénea e digna – aquela reacção química que dá cor e sabor aos alimentos através das altas temperaturas – é tão fácil quanto parece. Marina Teixeira, de 30 anos, foi uma dessas muitas pessoas. E passou dias a fio na cozinha do apartamento que tinha acabado de arrendar, combinando farinhas, massa-mãe, sal e água nas proporções certas. No caso dela, o final foi feliz e saboroso.
Hoje é dona da OhPa! Padaria Artesanal que ocupa o espaço do antigo café Caloirinho, na Praça Coronel Pacheco. “Tudo começou quando vim para Portugal fazer o mestrado em Sociologia, em 2019. Mas meteu-se a pandemia e, sinceramente, comecei a pensar em mudar de área”, diz Marina, acrescentando que a comida foi sempre uma “grande paixão”. “Lembro-me de quando era pequena o meu pai plantar, lá na nossa casa no interior de São Paulo, muitas das coisas que nós comíamos e isso fez com que eu sempre desse muito valor à proximidade do produto. E o meu avô, que é bem italiano, secava tomates ao sol”.
Talvez por isso é que Marina tenha focaccias para venda, resquícios dessa genética, quem sabe. Na sua pequena padaria tem, todos os dias, pão de trigo e pão de trigo e centeio (ambos a 3,60€), pão de queijo (1,20€/uni.) e um especial que vai mudando: pode ser de espelta, de nozes e passas, de azeite com alecrim, de azeitonas, de sementes, ou de abóbora e nozes (4,20€). “São pães de massa-mãe, utilizo farinhas biológicas, moídas em mó de pedra para preservar a qualidade do grão, e fermentações naturais e longas”, diz a padeira que criou, durante a pandemia, a plataforma online Eu Fiz Pão, que lhe permitiu sobreviver durante os meses mais conturbados. “A dada altura, os meus amigos começaram-me a encomendar pão de forma regular. Toda a gente andava a fazer pão, é certo, mas eu continuei”, ri.
Os rolinhos de canela (2€), generosos na especiaria e na doçura, também estão lá sempre. Os brioches aparecem às sextas-feiras e sábados (6€), e os brownies e as cookies de chocolate com pedaços de noz, quando Marina tem um bocadinho mais de tempo (a partir de 1,80€). O trabalho é árduo. Todos os dias faz entre 30 e 50 pães sozinha, sem contar com estes docinhos que se exibem na pequena vitrina. Mas não se importa. “A comida é abraço que faz a gente feliz. A comida é a essência da vida”, remata sorridente.
Praça do Coronel Pacheco, 76. 93 847 7638. Ter-Sex 11.00-18.00. Sáb 10.00-14.00