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Dificilmente esperaríamos encontrar um artista plástico entre folhas de sismogramas e cadernos de registo meteorológico, embrenhado na busca de informação e material para trabalhar. Por estes dias, encontramos não um, mas seis artistas a circular pelos espaços do Instituto Geofísico da Universidade do Porto (IGUP), a pretexto do Paralaxe, projecto de criação e investigação em arte que parte do trabalho científico para pôr em confronto as práticas, discursos e metodologias presentes em ambos campos.
Este cruzamento entre arte e ciência concretiza-se através de uma interacção com as estruturas do edifício, que nos próximos dois meses será a segunda casa de Luísa Abreu, Diana Geiroto Gonçalves, Carolina Grilo Santos (fundadoras), Dinis Santos, Diana Carvalho e Hernâni Reis Baptista. “Interessava-nos cruzar a investigação em arte com áreas que não fossem muito óbvias à prática artística”, introduz Luísa Abreu.
Depois de encontrado o interesse comum, as três artistas plásticas procuraram espaços onde pudessem submeter-se a um contexto diferente. Nenhuma tinha background científico ou predilecção pela ciência — apenas o trabalho de Carolina Grilo Santos arranha a superfície de temas como astronomia, geografia ou geologia —, mas esta impôs-se no projecto mal surgiu a oportunidade de trabalhar no IGUP.
“A ciência não é exactamente um tema, mas um ponto de partida para abordar a relação de pesquisa”, nota Diana Geiroto Gonçalves. Esta será descortinada durante a residência artística que dará aos artistas o acesso a materiais de arquivo, processos e instrumentos de trabalho dos investigadores residentes e espaços de produção do trabalho. “Existe essa abertura para os artistas verem e manipularem os arquivos”, refere Carolina, sublinhando que esta também engloba “o grupo enorme de artistas convidados para colaborar na plataforma online e na publicação [em papel que será lançada a posteriori]”.
O projecto contempla uma grande diversidade de linguagens e práticas artísticas, como fotografia, escultura ou som, e conta com propostas de artistas como Teresa Arega, Carlos Mensil ou Francisco Venâncio, e investigadores e docentes como Helena Sant’Ovaia (também directora do IGUP) ou Rui Moura. Embora cada artista trabalhe individualmente, o Paralaxe quer envolver a comunidade (artística e não só) e abrir o próprio IGUP ao público.
“É um espaço que está muito próximo [na Serra do Pilar], mas que ainda é pouco conhecido, e isso é muito curioso”, reconhece Luísa Abreu. Nesse sentido, será desenvolvida uma programação paralela com dias abertos, visitas, conversas, uma exposição final prevista para Novembro e o lançamento da publicação em Janeiro.
Embora tenham começado apenas em Julho a residência artística — inicialmente agendada para Abril e adiada por força da pandemia —, Luísa, Diana e Carolina já pensam numa segunda edição do projecto, que se pretende que seja “muito elástico”. “Há muitas possibilidades de formatos e espaços de interacção e colaboração”, aponta Luísa Abreu. Futuramente, o projecto poderá abrir-se à investigação não científica, mas a próxima paragem deverá ser o Observatório Astronómico do Porto.
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