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Dois dias depois de Gonçalo Castel-Branco ter avançado para tribunal, através da sua empresa LOHAD, contra a CP, a Fundação Museu Nacional Ferroviário (FMNF) e Chakall, exigindo um compensação de dois milhões de euros, é a vez dos acusados responderem. Em comunicado, a CP “refuta as acusações infundadas da empresa” e acusa o empresário de “criar ruído mediático e confundir a opinião pública”. Já Chakall destaca a qualidade das viagens preparadas por si e afasta-se da polémica.
The Presidential ou Comboio Presidencial by Chakall? O nome pode ser diferente, mas a experiência não. Ou até é, mas apenas no que diz respeito à forma e à curadoria. De um lado, nasceu a ideia que tirou o comboio de 1890 do Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento, do outro há a utilização dessa mesma ideia sem aqueles que a criaram. De forma simples, assim se pode resumir o processo legal iniciado pela LOHAD, que a CP revela ter sabido “através da comunicação social”.
Num comunicado divulgado esta sexta-feira, a CP fala de “insinuações, acusações e falsidades”. “É crucial esclarecer que a CP nunca teve qualquer parceria ou qualquer relação comercial com a LOAHD. A única relação comercial que a CP manteve com o senhor Gonçalo Castel-Branco foi através da empresa Trajetórias & Melodias, Lda”. Empresa essa que antecedeu a LOAHD, hoje responsável, por exemplo, pelo festival gastronómico Chefs on Fire.
“Até ao momento, a CP não foi notificada de qualquer acção judicial e, por isso, não comenta o que desconhece. No entanto, caso venha a ser notificada, agirá em conformidade”, lê-se no comunicado. Fora do país, numa resposta enviada à Time Out através da sua assessoria, Chakall diz também não ter sido ainda notificado. “Não vou comentar algo que desconheço”, argumenta. De recordar, porém, que os tribunais se encontram encerrados até 31 de Agosto para férias judiciais. “O único processo judicial existente é uma acção interposta pela CP contra a Trajetórias & Melodias, Lda., visando cobrar um valor em dívida desde Outubro de 2022. Acreditamos que esta tentativa de cobrança por parte da CP terá originado o comunicado”, desenvolve a empresa ferroviária.
Para Chakall, figura conhecida da televisão, e agora o chef responsável pelo menu servido a bordo do comboio presidencial, “só alguém com muita imaginação, desconhecimento ou má-fé pode afirmar” o que consta na acusação da LOAHD. “Não tenho qualquer relação com as eventuais dívidas que este senhor [Gonçalo Castel-Branco] ou a empresa dele possam ter com a CP. Não vale a pena meter-me nessa confusão porque não posso ajudar a resolver os problemas dele com a CP”, acrescenta Chakall na sua resposta. “Tenho 15 restaurantes em pleno funcionamento e, como podem imaginar, sobra-me pouco tempo para este tipo de situações infrutíferas.”
A “elevada qualidade do serviço”
Foi em Novembro de 2023 que a CP anunciou o regresso do comboio presidencial aos carris do Douro, depois de Gonçalo Castel-Branco ter feito a despedida no ano anterior. Com a LOHAD, o comboio partia da Estação de São Bento em direcção à Quinta do Vesúvio, no Douro, e a bordo o almoço ficava nas mãos de chefs conhecidos do meio gastronómico, grande parte premiada com estrelas Michelin, de Henrique Sá Pessoa a João Rodrigues, de José Avillez a Marlene Vieira ou Alexandre Silva e Nuno Mendes. A chegada ao Porto acontecia já de noite, depois de uma paragem na quinta e de um lanche a bordo. Nesta nova vida, o menu é sempre da responsabilidade de Chakall, que a cada viagem conta com um “chef local”, que segundo se pode ler no site da CP “adiciona um toque de autenticidade ao menu, tecendo a tapeçaria do nosso rico património gastronómico”. O preço manteve-se nos 750€ por pessoa.
“Ao longo da sua extensa história, a CP sempre se pautou pela inovação nos seus produtos e serviços, orgulhando-se de nunca ter comprometido ou usurpado o património intelectual de terceiros”, defende-se ainda a CP. E acrescenta: “A criação e reformulação dos nossos produtos históricos e turísticos, incluindo a recente introdução de novos produtos, são um reflexo desse compromisso com a originalidade e a integridade”.
“As edições do Comboio Presidencial são fruto de um protocolo da CP com a Fundação do Museu Nacional Ferroviário e o chef Chakall, visando criar um produto turístico enraizado na portugalidade. Este projecto inclui a colaboração com dez quintas do Douro e dezenas de restaurantes regionais, oferecendo uma experiência gastronómica única que promove, simultaneamente, a região e o nosso riquíssimo património ferroviário”, resume a nota, destacando “que a ideia de comboios que proporcionam experiências gastronómicas não é nova nem exclusiva”. “Tais produtos existem em vários países do mundo e são uma parte estabelecida da oferta turística de várias operadoras ferroviárias, incluindo cerca de uma dezena de exemplos em Espanha. A decisão da CP e do Museu Nacional Ferroviário de explorarem este mercado é uma iniciativa independente, fundamentada na nossa história ferroviária e na capacidade de criar um produto que honra tanto a nossa identidade como os compromissos com todos os envolvidos.”
Para finalizar, tanto a empresa de transportes como Chakall, elogiam a “elevada qualidade do serviço”, que “pode ser comprovada por qualquer pessoa que adquira um bilhete para uma das viagens das próximas temporadas”, escreve a CP, para a qual o “Comboio Presidencial é uma adição valiosa e original” à sua oferta turística.
Por sua vez, Chakall convida a que se fale “com quem viajou em algumas das viagens”, “ou então a fazerem uma viagem para tirarem as próprias conclusões”. Contactado pela Time Out, Gonçalo Castel-Branco diz não ter novos comentários a fazer.
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