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RAMPA: Um novo palco para a arte da cidade e do mundo

Escrito por
Maria Monteiro
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A programação artística independente no Porto remonta a 1960 e 1970, tendo-se evidenciado no início deste século, também por causa da falta de apoios à cultura. Sempre fizeram parte do mapa da cidade espaços autogeridos como os entretanto desaparecidos W. C. Container ou Pêssego Prá Semana, ou os ainda resistentes Maus Hábitos e Uma Certa Falta de Coerência. “Um contexto cultural e artístico dinâmico exige este tipo de locais de experimentação, não só de práticas e discursos artísticos, mas também de pensamento crítico”, explica Nuno de Campos, artista visual portuense sediado em Nova Iorque e um dos impulsionadores da RAMPA.

A vontade de "criar um espaço que pudesse acolher propostas curatoriais independentes” levou a que se reunissem, em seu torno, criativos de diferentes áreas e com algum currículo internacional. A RAMPA, associação cultural que abriu portas em Maio, junta artistas, curadores, investigadores, designers e arquitectos para funcionar como ponto de encontro entre o contexto artístico local e o internacional.

“A ideia foi activar uma série de redes e relações que estas pessoas foram acumulando ao longo do seu percurso profissional”, afirma Alexandra Balona. A curadora, investigadora e crítica, cuja intervenção incidirá nas artes performativas, sublinha que o nome do projecto alude “ao ponto de chegada e partida que quer ser ao trazer cá agentes culturais internacionais ou promover os artistas locais”.

A RAMPA apresenta-se como um lugar de abertura e experimentação que privilegia o conteúdo e o discurso em detrimento da forma ou expressão artística. “O desafio será convocar vozes e olhares que ampliem a nossa capacidade de reflectir sobre as problemáticas mais urgentes à escala global”, diz Nuno de Campos. Questões ligadas ao género, etnia, descolonização e descentralização de práticas curatoriais e do pensamento são alguns dos temas que atravessam a programação.

A visão multidisciplinar do espaço torna-o uma tela em branco – no sentido metafórico e literal, já que vai preservar o carácter cru e despido das suas paredes –, para receber propostas de todo o tipo de criadores, e mesmo de não-criadores. “Não havendo hierarquização de disciplinas, tanto podemos ter um screening como uma performance ou uma exposição”, nota o designer Sérgio Alves.

Segundo Nuno de Campos, o espaço “está ao serviço da cidade”. Lança-se com Lost Lover, exposição que tem curadoria da sul-africana Lara Koseff e se traduz num programa de vídeo que “explora alegorias de desejo de uma nova realidade romântica, política ou social”. Até 20 de Junho, pode ver obras de dez artistas contemporâneos de origem africana, emergentes e consagrados, e ainda uma instalação de Grada Kilomba, artista interdisciplinar e escritora portuguesa a residir em Berlim, com uma forte circulação internacional – e cujo livro Memórias da Plantação foi agora finalmente editado em Portugal.

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