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Saiba mais sobre a 4Play, a série da RTP2 gravada no Porto

Escrito por
Inês Bastos
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A série da RTP2 foi pensada para o Porto e aqui foi gravada, com produtora local e realizador com sotaque nortenho. Fala de sexo com tanta naturalidade que pode chocar algumas almas mais sensíveis, mas desengane-se quem pensa que é assunto tratado de ânimo leve. A primeira temporada da 4Play – que termina a 21 de Dezembro – explora muitos mais temas e as personagens são tudo menos unidimensionais. Fomos a jogo e sentámo-nos à mesa com o elenco principal e o realizador.

A história

Diga “olá” ao João, ao Lourenço e ao Bruno. Estes três amigos querem escrever uma série e para isso precisam de um bom enredo. Nesse sentido pensaram que a melhor forma de coleccionarem histórias sexuais era criar um jogo onde cada conquista vale pontos. Há engates que valem mais do que outros e ganhar é o objectivo final. A eles junta-se Carolina, a melhor amiga de Bruno, que apenas observa o jogo “de fora” e absorve as histórias que os amigos contam. As conquistas são religiosamente registadas num quadro de pontuações.

© Marco Duarte

Era uma vez...

É assim que começam todas as histórias de encantar, certo? Esta história não é de encantar nem é para crianças. Mas também não é uma nova versão mais apimentada dos Morangos com Açúcar, como muita gente pensa. É verdade que se fala de sexo abertamente mas até podíamos dizer que esta série bem portuguesa (e portuense, já agora) é um estudo de caso. Queremos “estudar de que forma os sentimentos de sempre se mantém na sociedade de hoje, onde tudo é fugaz”, diz Luís Porto, o realizador.

Se nos primeiros cinco ou seis episódios há muita comédia, depois do público se afeiçoar às personagens os problemas começam a surgir. Há amores, desamores, paixões assolapadas e murros no estômago.

E como é que se faz o pessoal em casa rir sem recorrer a piadas fáceis (ainda por cima nesta temática)? Deixam-se as personagens a nu. Não literalmente. Ok, às vezes também. "Queremos o público fique a conhecê-las tão bem ao ponto de saber que aquela personagem naquela situação só pode dar asneira", explica o realizador. 

No final dos episódios, a pontuação é actualizada.

Há uma pergunta que é frequentemente colocada: porque é que a Carolina não joga? A resposta parece já estar na ponta da língua de Luís Porto: “Não joga porque estes três homens estão, basicamente, a medir pilas. E fazem-no para se validar. Uma mulher não precisa disso para se provar”. 

Mas atenção, a 4Play não é, nem quer ser, moralista nem educacional. Trata-se de entretenimento e o objectivo não é mais do que proporcionar aos espectadores uns bons 20 minutos a rir ou a sofrer com estes amigos.

'E esta série é baseada em factos reais?', perguntar-se-á quem nos lê por esta altura. Sim, é.

Esta conquista devia valer mil pontos

Tudo começou quando Tiago Paiva (que agora dá vida a João, um dos amigos) foi viver para Lisboa, em 2010, para estudar representação, produção e composição musical. Vivia da música mas queria apostar na representação, por isso decidiu inspirar-se na sua vida e na dos seus amigos para criar uma série. Começou a escrever e mostrou o que tinha a Luís Porto, o realizador, e a Laura Milheiro, a produtora. O esboço foi reescrito, convidaram Jaime Monsanto (director de actores da 4Play e pai da personagem Carolina) e reformularam os dois primeiros episódios da série.

“A produtora gostou, tivemos alguns patrocínios pequenos, fizemos um casting para mais de 500 pessoas, definimos o elenco principal e gravámos o episódio piloto”, afirma o próprio Tiago.

Depois seguiram-se dois anos de persistência até conseguirem fechar com a RTP. Um dos actores, Pedro Manana (Bruno na série) começou também a trabalhar na história e cinco meses depois o argumento ficou escrito. Marta Freitas, dona dos restaurantes Cruel e Vingança, cá no Porto, fez a revisão final e também aparece em alguns episódios como empregada de limpeza na casa dos amigos. Os quatro actores principais fizeram todos o casting – apesar de ter sido Tiago a ter a ideia. Dizem que não eram um grupo de amigos antes de começarem este projecto (alguns nem se conheciam), mas para quem os vê agora numa mesa de café parecem amigos de infância.

“Damos valor à coragem que a RTP teve em apostar numa coisa assim tão diferente, nua e crua”, diz Pedro Manana. Verdade seja dita, quer se ame ou se odeie, nunca se viu uma série destas em Portugal. E isso, só por si, é uma conquista que devia valer uma boa centena de pontos.

Os amigos

© Marco Duarte

Bruno, 28 anos

Bruno é o mais excêntrico do quarteto. Tem a vida facilitada porque, ao ser um actor famoso que aparece na novela da noite, as pessoas sentem que já o conhecem. É, possivelmente, aquele que mais se importa com o jogo e o que vai mais longe para arrecadar os tão almejados pontos. É interpretado por Pedro Manana. 

© Marco Duarte

João, 25 anos

É o mais sensível e tímido do grupo e coloca o sexo e os relacionamentos num pedestal. Por ser o mais afectuoso, será sempre o mais susceptível de sofrer as consequências negativas dos relacionamentos fáceis. Tiago Paiva é quem lhe dá vida. 

© Marco Duarte

Lourenço, 26 anos 

Lourenço é o meio termo entre Bruno e João. É o “everyday guy” mas em versão Ken, da Barbie. Relaciona-se facilmente com as pessoas que o rodeiam e, apesar de ser um jogador nato e de gostar de estar com várias mulheres ao mesmo tempo, tem a capacidade de amar. Duarte Loc é o actor por trás desta personagem. 

© Marco Duarte

Carolina, 26 anos

Carolina é a melhor amiga de Bruno e, além de uma personalidade muito vincada, tem também uma grande liberdade sexual. Sabe bem o que quer e não tem problemas com o que as outras pessoas possam achar sobre isso. Segundo Sílvia Santos, actriz que lhe dá vida, ela está disposta a ajudar no jogo, isto é nas conquistas dos amigos, apesar não participar nele.

© Frame

Bia e Susana

Bia, interpretada por Inês Gonçalves, vê as relações de forma mais tradicional e, por isso mesmo, a sua relação com Lourenço é o arco romântico que se desenrola ao longo de toda a temporada. Ora, se estão em pólos tão opostos, como é que estes personagens se vão relacionar com a paixão que os une? Não somos de spoilers, senão contávamos.

Por outro lado, Susana, Maria Teresa Barbosa na vida real, é prima de Bia e acabou de chegar à cidade para estudar e leva com um balde de realidade gelada na cara.

Amigos, amigos, regras à parte

As regras nasceram e foram trabalhadas de acordo com as necessidades dramatúrgicas do enredo. São seguidas religiosamente pelo grupo e até já há quem as ouça na vida real: “Sempre que vou ao Plano B ouço um 'shotgun!'”, diz Tiago. De um total de 69 regras, estas são as mencionadas na primeira temporada:

  • Regra n.1: Nunca digas que te estás a cagar para o jogo
  • Regra n. 2: Shotgun – os restantes jogadores são obrigados a colaborar na conquista; Bloqueia o alvo durante 4 horas
  • Regra n. 5: Quem não pontuar nessa noite tem de compensar os outros jogadores
  • Regra n. 11: Sexo anal vale a dobrar
  • Regra n. 15: Ao juntar 3 conquistas em 24 horas, estas valem o dobro; Quatro valem o triplo
  • Regra n. 18: Virgens valem 50 pontos
  • Regra n. 20: Uma conquista impossível vale 40 pontos
  • Regra n. 21: Em caso de embriaguez mórbida, não pontua
  • Regra n. 30: Ménage – a partir de 5 participantes passa a orgia; Vale 20 por cada mulher envolvida e 50 por cada homem
  • Regra n. 68: Sobreposição de regras – optar pela que dá pontuação mais alta; excepto na orgia, onde toda a pontuação acumula

© Marco Duarte

A série tem, ao todo, 13 episódios, cada um com cerca de 25 minutos (mais coisa, menos coisa). A primeira temporada termina a 21 de Dezembro e quanto a uma segunda temporada, só o tempo (e a RTP) o dirá. Por enquanto, passa na RTP2 às quintas-feiras a partir das 00.30, apesar de nunca ter horário fixo. Os episódios que andou a perder até agora estão disponíveis no RTP Play.

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