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De egoísta tem pouco, já que a vontade de partilhar Portugal (e alguma da sua diáspora) é muita. O L’Égoïste, o novo bar e restaurante do Renaissance Porto Lapa Hotel, que tem ao leme os chefs Duarte Batista, na cozinha, e Ricardo Tiago, na pastelaria, parece querer conduzir os clientes que se sentam à sua mesa numa viagem por terra e por mar, de norte a sul do país, do interior até ao litoral. O resultado? Um menu que tem tanto de divertido e inusitado como de familiar e saudosista.
Inspirados pelo receituário tradicional português, deram uma nova roupagem e interpretação a alguns dos pratos mais típicos da nossa gastronomia, como a sapateira recheada – que surge na carta como uma ode às marisqueiras e cervejarias portuguesas – e que em vez de ser servida com pão tostado, vem para a mesa com panquecas salgadas (24€). Ou o prato "Zé do Pipo, onde está o bacalhau?", onde o peixe, “escalfado em leite”, esconde-se sob um puré de cebola assada, espuma de batata e picles caseiros (30€). Quer mais outro exemplo? O pudim Abade de Priscos é servido com um merengue em chamas, gin tónico e grelos (10€). Sim, grelos, leu bem.
Mas nem todos os pratos saltam fora da caixa. E ainda bem. Outros há que mantêm na sua raiz o sabor da tradição. “'No Reino dos Míscaros' é o prato que mais me caracteriza”, começa por explicar Duarte Batista sobre a massada de fregola (um tipo de massa de sêmola enrolada em bolas pequenas) que foi colocada sobre a mesa. Saborosa e reconfortante, vem acompanhada de cogumelos silvestres, duxelle de cogumelos, cogumelos salteados e caldo de carqueja (26€). “Quando era miúdo lembro-me de ir apanhar cogumelos com a minha avó. Depois, sentávamo-nos os dois à lareira a arranjá-los”, recorda.
Uma carta daqui e d’além-mar
A viagem tem, então, início nos croquetes de rabo de boi e maionese de trufa (10€), nos pratinhos de pica pau com novilho, pickles caseiros e batata chips (16€) e nos croquetes de batata trufada com maionese de tomilho e salsa (10€). Nas entradas, brilham ainda tábuas de queijos e enchidos (24€), amêijoas à Bulhão Pato (22€) e tibornas de bacalhau (16€), além de um prato de cavala picante das Conservas Pinhais, servido com puré de cenoura e caril (17€), que resulta numa homenagem à indústria conserveira nacional.
Ainda antes dos pratos principais, há duas pit stops onde pode recuperar energia para a viagem. Uma está dedicada a sopas e saladas e outra aos snacks, de onde se destaca uma gulosa e diferente francesinha, apresentada num pão panado em panco e frito numa manteiga de ervas. Dentro leva as tradicionais carnes e no topo um ovo estrelado (22€).
"O Mar da Póvoa" representa tudo o que vem de bom do oceano e é, talvez, um dos melhores pratos do menu: acerta-nos como se levássemos com uma onda de água salgada na cara. Preparado com o peixe e o marisco mais fresco do mar da Póvoa de Varzim, é acompanhado por migas de coentros e molho de caldeirada poveira (33€). Ainda nesta etapa aquífera navegam o "Pela Costa Vicentina", com carabineiro, feijão branco, espirulina, guisado de marisco e algas (45€) e o "Fundo do Oceano", um risoto de tinta de choco com lula e molho de alvarinho (29€).
"O Nosso Porco à Algarvia", uma presa de porco preto ligeiramente fumada com amêijoas, pickles, coentros, açafrão e puré de batata fumada (30€) e um lombo de novilho com molho cervejeiro, ovo e batata frita (27€), num tributo ao bife cervejeiro, rematam as carnes. Nota ainda para o bonito prato vegetariano "Sem Culpa", composto por gnocchi de beterraba, legumes e caril verde de manjericão (24€) – um prato sem lactose, glúten ou sulfitos.
Se o menu do chef Duarte Batista anda sobretudo por território nacional, as sobremesas de Ricardo Tiago soltam amarras e procuram portos de outras latitudes para atracar. O "Portugal pelo Mundo" (16€), logo a abrir, reinventa os canollis italianos apresentando quatro recheios diferentes, inspirados em países por onde os portugueses andaram nas “viagens quinhentistas”. Requeijão e paracuca para Angola; quindim para o Brasil; bebinca para Goa e bolo de banana caramelizada para São Tomé e Príncipe.
Também os mochis japoneses levaram com divertidos recheios que relembram a nossa pastelaria, como o pastel de nata, as clarinhas de Fão, o pastel de feijão e a queijada de laranja (8€/2 unidades ou 12€/4 unidades). Há ainda um prato de “fruta fresca, colorida, muito bem apresentado, sem ter um ar aborrecido ou chato”, diz o chef pasteleiro”; um outro de assinatura composto por uma mousse de queijo de ovelha, compota de ameixa, tapenade de azeitona e tostas (14€). Há também vários gelados caseiros e ainda uma sobremesa “mais romântica” para quem não resiste ao apelo do chocolate: uma mousse de chocolate negro 72% temperada por sumac, que lhe dá um toque fumado, e kalamansi, um citrino, com puré de batata-doce (12€).
Se ainda tiver espaço, dê uma espreitadela à carta de cocktails inspirados nos ecossistemas portugueses, como o Floresta Laurissilva, um cocktail que deve ser saboreado em três momentos. O primeiro, mais cítrico e floral, leva Citadelle gin, jasmim, erva príncipe e maçã. O segundo, frutado, doce e aveludado, é composto por Plantation rum, folha de malagueta, maracujá e sabugueiro. E, por último, o terceiro, mais térreo, com sabor a especiarias e a fumado, é preparado com Corralejo tequila, perro de San Juan mezcal, cogumelos selvagens e fumo (17€). Há ainda cocktails clássicos e uma generosa carta de vinhos. Às sextas-feiras e sábados, ao jantar, tudo é acompanhado por live acts de DJ’s e música ao vivo.
Rua de Cervantes, 169. 22 976 9810. Seg-Dom 11.00-23.00.
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