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O fim de tarde é de calor, típico de Verão, e a vista para o rio Douro convida a sentar e a pedir algo fresco para beber e petiscar. Na Rua do General Torres, em Gaia, nasceu um espaço que permite tudo isto e muito mais. Chama-se Tão Longe, Tão Perto e é um wine bar que serve vinho da torneira. Confuso com este conceito? Aqui o vinho chega ao copo a partir de torneiras que estão ligadas directamente aos barris/kegs. É uma forma mais sustentável de consumo e ainda com a vantagem de se tratar de vinho exclusivo vindo de pequenos produtores portugueses.
“Queremos ser uma plataforma, descontraída e descomplicada, de comunicação dos produtores, com um vinho de qualidade e a um preço acessível”, explicam Carlos e Ana Carolina Chaves, casal brasileiro sócio deste novo espaço, juntamente com o argentino Ariel Kogan que, com a sommelière e empresária Gabriela Monteleone, fundou o conceito no Brasil.
Tudo aqui convida a um ambiente descontraído. Há cadeiras e sofás confortáveis, mesas altas, um balcão exterior, uma grande janela com vista para o Douro e a música suave que vai ecoando pelo espaço. A meio, saltam à vista as grandes protagonistas: as torneiras de onde jorram seis vinhos (dois tintos, dois brancos, um rosé e um orange), vindos de quatro produtores nacionais – a Quinta do Javali e Pormenor (Douro), a APRT3-Wine Creators (Lisboa) e a Textura Wines (Dão).
Os vinhos são de baixa intervenção e podem ser servidos em jarros com tamanhos que vão de 100 ml (3,50€) a 1 litro (27€) e ainda em cálices de vinho do Porto da Quinta do Javali – Tawny (5€) e Reserva White (7,50€) – e garrafas growlers, com capacidade de 500ml e 1 litro, que podem ser enchidas e levadas para casa. Até porque, indica Ana Carolina, a ideia é também “criar uma comunidade à volta do vinho, fazer com que o vinho circule”.
Os barris, de 20 ou 30 litros, vão sendo reabastecidos e, garantem os responsáveis, conservam a qualidade e a frescura do vinho sem oxidação durante vários meses. “A ideia é ir renovando com outros produtores, experimentar e apresentar coisas novas. Todos os vinhos que estão nos kegs foram feitos para este projecto, foram escolhidos por nós e pelos produtores e são vinhos que não estão em garrafas, são exclusivos”, sublinham. Em breve, estará também disponível numa das torneiras uma sidra portuguesa da marca Humus Wines.
No Tão Longe, Tão Perto, a alma do negócio é a sustentabilidade. Ao servir o vinho da torneira para o copo, reduz-se a produção, transporte e desperdício de embalagens de vidro e, ao mesmo tempo, promove-se a economia circular e facilita-se o acesso a vinhos de qualidade nacionais, oriundos de um ambiente de pequena produção e a preços competitivos. No entanto, "o objectivo não é acabar com as garrafas de vidro". “Não queremos isso, o que queremos é conseguir diminuir um pouco o desperdício de vidro, de rótulos e de rolha”, explica Ana Carolina.
Mas nem só de vinho se faz este bar. Para acompanhar a bebida, há uma selecção de queijos e enchidos artesanais, também eles assinados por pequenos produtores portugueses. Pode escolher entre a tábua de queijos do restaurante e queijaria Ponte dos Cavaleiros (15€), que reúne queijos de cabras e ovelhas nativas da Serra da Estrela, curados por até 120 dias; os enchidos (17€) feitos a partir do porco preto de raça alentejana, criado com alimentação natural e curado até 36 meses, da marca Absoluto; uma tábua mista de queijos e enchidos (19€) e ainda azeite da Quinta do Noval (Douro), azeitonas da Quinta Mourisca e pão de fermentação natural vindo directamente da Padaria Madan, na Foz do Douro.
Uma viagem de São Paulo para Gaia
A primeira casa Tão Longe, Tão Perto nasceu em 2020 no bairro de Barra Funda, em São Paulo. Mas a história começou há mais de dez anos, quando Ariel Kogan, natural da Argentina, se mudou para o sul do Brasil e entrou no negócio da importação de vinhos. Ariel percebeu que, ao contrário do que acontecia na Argentina, o consumo de vinho no Brasil não era algo do quotidiano nem estava acessível a muita gente.
Ariel pegou no conceito das food trucks e criou a "Los Mendozitos", para vender vinho de pequenos produtores em copos de acrílico. Na altura da pandemia, foi preciso pensar numa solução para continuar a levar o vinho a mais pessoas. Com a sommelière Gabriela Monteleone, organizou encontros online com produtores para que não se deixasse de provar, discutir e comentar vinho. As garrafas eram enviadas para a morada de cada participante para, depois, serem discutidas com os produtores.
“Conversavam sobre todos os assuntos que envolvem vinho, a produção, o respeito com a vinha, todo o processo produtivo, as dificuldades, as questões que enfrentam no Brasil”, enumera Carlos Chaves, acrescentando que foram cerca de 30 encontros que acabaram por ser transformados no livro Conversas Acerca do Vinho. Com o fim do confinamento, Ariel decidiu abrir um espaço próprio que reunisse tudo e com o conceito do vinho da torneira: o Tão Longe, Tão Perto. Em 2023 conseguiu salvar 4240 garrafas de vidro e até Maio deste ano foram poupadas 2266 garrafas.
O segundo espaço abriu em Junho deste ano em Gaia, com Ana Carolina e Carlos Chaves ao leme. Ana Carolina é formada em publicidade, Carlos trabalha no mercado financeiro. Mudaram-se para Portugal há dois anos, quando surgiu uma oportunidade de trabalho no Porto. No ano passado, contam, o percurso ganhou um novo rumo: "O Ariel é meu cunhado. Em 2023, veio cá passar o aniversário dele e sugeriu, já que eu sempre tive o sonho de fazer algo com gastronomia e já conhecia o mundo do vinho, abrir um espaço aqui. A cidade já respira vinho, já tem esta ligação incrível”. E assim nasceu o primeiro Tão Longe, Tão Perto em território português.
Rua do General Torres, 367 (Vila Nova de Gaia). Quar-Dom, 17.00-23.00.
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