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‘The Changeling’. Fadas e parentalidade, num conto para adultos

‘The Changeling’ leva trolls e fadas do folclore europeu a Nova Iorque. Estreia a 8 de Setembro na a Apple TV+.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
LaKeith Stanfield e Clark Backo
©DRLaKeith Stanfield e Clark Backo, em 'The Changeling'
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Inspirado em lendas do folclore europeu, The Changeling tem como cenário um submundo de magia que se esconde nas sombras de Nova Iorque. Adapta o livro homónimo de Victor LaValle, autor norte-americano dedicado ao terror e ao fantástico, que escreveu em 2017 este conto de fadas para adultos. A história acompanha a odisseia de Apollo (LaKeith Stanfield) em busca da mulher, que desaparece após cometer um crime inqualificável. Mas nem tudo é o que parece. A série estreia a 8 de Setembro (sexta-feira) na Apple TV+.

A Time Out teve acesso aos oito episódios desta temporada e, apesar de a informação divulgada pela Apple não abordar directamente a ideia central desta história, não vale a pena estarmos com rodeios – a pista principal está no título. Na mitologia celta, um “changeling” (que em português pode ser traduzido para “criança trocada”) é uma criatura deixada por fadas no lugar de um bebé raptado, mantendo o mesmo aspecto, uma lenda que chegou a ser tema de um episódio da série Sobrenatural, chamado “The Kids Are Alright”, ou mesmo o título original do filme A Troca (2009), com Angelina Jolie, num enredo inspirado em factos verídicos sobre a troca de duas crianças, só para dar dois exemplos (há muitos mais). Ora, neste The Changeling, o mito regressa aos ecrãs na versão de LaValle: um caldo de mitologia trazida para a actualidade, com trolls (e uma ligação interessante a trolls cibernéticos), bruxas e fadas, acrescentando ingredientes que estão na ordem do dia.

LaKeith Stanfield
©DRLaKeith Stanfield, em 'The Changeling'

Em 2017, ano da publicação de The Changeling, o multipremiado escritor afro-americano explicou ao Los Angeles Times porque mistura várias dimensões numa só obra. “Uma das grandes vantagens do terror e da ficção especulativa é o facto de colocarmos muitas vezes as pessoas em situações dramáticas e desproporcionais. À sua maneira, coisas como o racismo, o sexismo, o classismo e os preconceitos contra os doentes mentais são questões dramáticas e de grandes dimensões na vida real. Para mim, muitas vezes faz sentido juntar as duas coisas. Se escrevesse sobre eles directamente, receava que se tornassem demasiado expositivos e aborrecidos, à falta de um termo melhor.”

Nesta história, acompanhamos Apollo, um livreiro caçador de edições raras que se apaixona por Emma Valentine (Clark Backo), uma bibliotecária aventureira. Apollo cresceu com a mãe, após terem sido abandonados pelo pai, que deixou ficar o livro infantil que ambos liam, chamado To The Waters & The Wild. Uma obra fictícia na série que no original literário se chama Outside Over There e é bem real. Um livro escrito e ilustrado por Maurice Sendak (O Sítio das Coisas Selvagens), e publicado em 1981, precisamente sobre uma jovem que tem de salvar a sua irmã mais nova depois de esta ter sido raptada por duendes. O livro em questão é um dos principais elementos de suporte da narrativa, em que conhecemos um submundo nova-iorquino entre o terror e o fantástico, polvilhado com questões sociais e novas tecnologias. A história inclui um narrador omnipresente, cuja voz na série é do próprio Victor LaValle, que nos vai guiando pela mitologia e pela vida de Apollo e da sua mãe Lilian (Adina Porter), uma emigrante do Uganda que chegou sozinha aos Estados Unidos e acabou por se casar com um homem branco, um simpático embora misterioso polícia chamado Brian West (Jared Abrahamson), que deixa de fazer parte do pequeno agregado familiar quando Apollo é ainda criança. Anos mais tarde, Apollo casa-se com Emma, têm um filho, mas quando este nasce começam os problemas. Estará a mãe deprimida ou o bebé não é mesmo um bebé?

Numa entrevista à revista Esquire, em Março, a propósito do lançamento do seu último livro Lone Women, o autor revelou que acompanhou a rodagem da série (também é produtor executivo) e há outra adaptação a caminho. “Participei nas filmagens em Nova Iorque e em Toronto. Estive no cenário todos os dias e pude vê-los a fazer esta coisa que – e sei que sou tendencioso – acho mesmo que vai ser fantástica. Além disso, estamos a fazer The Devil in Silver [livro publicado em 2012] para a AMC como uma minissérie de seis episódios para contar a história toda.”

O elenco conta com a participação de Samuel T. Herring, vocalista dos Future Islands, que interpreta William Wheeler, homem que se torna amigo de Apollo e o acompanha na missão de encontrar Emma. Já a criação e o argumento adaptado da série estiveram a cargo da britânica Kelly Marcel, co-argumentista do filme Ao Encontro de Mr. Banks (2013) e também responsável pela adaptação do livro As Cinquenta Sombras de Grey (2016) ao cinema. The Changeling é uma co-produção da Apple Studios e da Annapurna, produtora responsável por séries como Dead Ringers (Prime Video) ou Pam & Tommy (Disney+). Os três primeiros episódios estreiam no dia 8 de Setembro, seguidos da estreia de um episódio por semana até 13 de Outubro. Esta primeira temporada não abrange todas as páginas do livro original, o que leva a intuir que a produção espera avançar com uma segunda temporada.

AppleTV+. Estreia a 8 de Setembro (T1)

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