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Mudar o mundo de forma “divertida e positiva”. Continua a ser esta a missão de Andreas Noe, “o viajante do lixo” que se aventurou a percorrer o litoral de Portugal a pé, para alertar para o impacto do plástico e do desperdício nos ecossistemas. Agora, anuncia uma nova Plastic Hike, desta vez em filme e exposição, com um programa que se desdobra em vários eventos, workshops, palestras e performances. Ainda não há datas, mas deverá acontecer entre Junho e Setembro.
Natural de Constança, uma cidade alemã na fronteira com a Suíça, Andreas mudou-se para Portugal há cerca de três anos, depois de passar férias no país. Veio para cá numa caravana de 1982, onde vive em movimento. Com a natureza a seus pés, começou a reparar no lixo, que contamina a costa portuguesa, os oceanos e os nossos pratos. Quando a preocupação se tornou demasiado insuportável, despediu-se do seu emprego como consultor na área da biologia molecular para se tornar activista ambiental.
“A cada minuto livre, eu aproveitava para surfar. Mas, sempre que atravessava o areal, só encontrava plástico. Decidi que tinha de fazer algo para resolver o problema”, recorda o alemão, que criou um canal de YouTube e uma página de Instagram, para partilhar a sua jornada como The Trash Traveler, inclusive com o seu ukulele e músicas de intervenção bem-humoradas. “Consciencializar, mas sem apontar o dedo. É esta a minha abordagem, porque é mais fácil receber uma mensagem quando não estamos na defensiva.”
Um ano depois, já uma espécie de influencer, comprometeu-se a recolher plástico durante dois meses, desde a praia da Foz do Minho, em Caminha, até aos areais de Vila Real de Santo António, no Algarve. A vontade era tanta que nem a pandemia o demoveu de percorrer mais de 800 quilómetros, de 15 de Agosto a 11 de Outubro de 2020. Chamou-lhe Plastic Hike e só parou para acções de sensibilização e o contacto há muito desejado, ainda que mais distanciado, com outros activistas, empresas e organizações ambientais, como o artista Xico Gaivota e a associação Marmeu. Atrás foi uma dupla de videógrafos.
“Entrevistámos muitos ambientalistas [suspiro]. A ideia era criar uma curta-metragem. Acabámos com um documentário com mais de uma hora”, revela à Time Out, por entre risos. “Queremos muito voltar a percorrer o mesmo caminho, mas com o filme, para mostrar ao sul o que se está a fazer no norte e vice-versa.” Por outro lado, acrescenta, querem ir às escolas e às universidades, com palestras e workshops, “porque as crianças e os mais jovens estão já muito despertos para estas questões e são os primeiros a voluntariar-se para ajudar”.
O plano é simples: conversar sobre a urgência de limitar o plástico de uso único e de adoptar comportamentos mais sustentáveis, bem como mostrar a dimensão do problema através de resíduos sólidos transformados em obras de arte, como a prancha de surf de Andreas. Construída pelo checo Štěpán Řezníček “a partir de placas de espuma isolante de dois velhos frigoríficos”, inclui calhas de madeira, para reforço, e lixo encontrado na península de Peniche, desde beatas até máscaras descartáveis.
Promover a criação de peças únicas, feitas de plástico encontrado nas nossas praias, é outro dos objectivos do projecto, intimamente ligado à economia circular e à reutilização de materiais. “A caminhada não teve a ver com limpar praias. Teve a ver com mostrar o que estamos a fazer ao planeta, como é preciso parar. E a arte é uma das melhores formas de impressionar as pessoas e de as pôr a pensar”, esclarece Andreas, que convidou mais de 20 artistas para transformar mais de 1400 quilos de plástico, recolhidos durante a longa caminhada pela costa portuguesa.
O documentário, que será o mote para vários eventos por todo o país, será acompanhado por essa exposição, de carácter itinerário, que também está a ser preparada. “Em 2022, talvez possa levar o projecto até à Alemanha. Estou em Portugal, porque adoro o país e surfar, mas este problema não é só dos portugueses. É um problema global.” E é preciso fazer tudo o que está ao nosso alcance, incluindo responsabilizar os governos e as indústrias mais poluentes, realça Andreas, que defende a implementação de políticas ambientais, desde limitar a produção e consumo de plástico até taxar as embalagens de utilização única. “É preciso investir em soluções sustentáveis.”
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