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Trinta anos depois, renasce a Bedeteca do Porto

O espaço vai ser inaugurado no Brasília, com o acervo de BD da primeira bedeteca do país. “Temos a expectativa de, ainda este ano, duplicar o espólio”, diz responsável.

Ana Catarina Peixoto
Jornalista, Porto
Bedeteca do Porto
DR
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Numa das lojas do Centro Comercial Brasília – e com milhares de livros que chamam à atenção a quem por ali passa – está a renascer a Bedeteca do Porto. O espaço dedicado à leitura e promoção de banda desenhada é inaugurado este sábado, 10 de Fevereiro, e quer ser um local para armazenar e mostrar BD, mas também um incentivo a mais leitura no futuro.

A iniciativa partiu de um grupo de entusiastas de banda desenhada, numa parceria entre a associação cultural Turbina e a livraria Mundo Fantasma, também localizada no Brasília. O grupo quis recuperar o projecto da Bedeteca do Porto, criado em 1990, pelas mãos da Comissão de Jovens de Ramalde e do Comicarte – Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto. Esta foi a primeira bedeteca no país, mas acabou por encerrar poucos anos depois, tendo ficado guardado um acervo com milhares de obras.

“Fizemos um protocolo com  a Comissão de Jovens de Ramalde, recuperámos o acervo que existia e estamos a recuperar agora esta ideia. Aquele acervo esteve mais de 20 anos parado, é essencialmente material dos anos 80 e 90 e alguma coisa do início do século XXI”, descreve Júlio Moreira, um dos membros da direcção da Bedeteca do Porto, à Time Out. 

Para já, esta bedeteca vai permitir apenas a consulta e leitura presencial das publicações, mas o objectivo é que, no futuro, seja também possível o empréstimo doméstico. No total, há cerca de 4000 publicações para consulta, incluindo fanzines e revistas, sendo que está a ser feita uma base de dados, já disponível para consulta online, com todas as obras existentes nesta bedeteca.

“Agora estamos também a pedir aos autores e editores para nos enviarem novas edições e temos a expectativa de, ainda este ano, conseguirmos duplicar o espólio”, acrescenta Pedro Petracchi, também responsável pelo projecto.

O desafio de recuperar um projecto parado no tempo

A vontade em recuperar a Bedeteca do Porto efectivou-se há cerca de um ano e meio, quando a livraria Mundo Fantasma disponibilizou um espaço para acolher este projecto. “Quando surge um espaço, a ideia foi mais ou menos imediata: vamos dinamizar uma bedeteca a partir daquela que já existiu e que na altura foi a primeira que se falou no país”, refere Júlio Moreira, acrescentando que se tratou de uma iniciativa privada, um trabalho voluntário feito por sete pessoas.

Recuperar todo o espólio guardado durante vários anos tem sido também um desafio e um “trabalho nostálgico”. “São livros que já lemos há muitos anos e é divertido rever alguns deles. Mas tem sido muito trabalhoso e temos tentado ter alguma disciplina para conseguir ir fazendo esta base de dados e organizando”, sublinha Pedro Petracchi.

Outro dos desafios, acrescenta, foi organizar um acervo que estava parado no tempo e, em simultâneo, conseguir acompanhar todas as mudanças e evolução no mercado da banda desenhada: “Neste momento, por exemplo, há uma grande procura de Manga e na bedeteca original havia muito pouco desse género. É uma coisa que queremos colmatar agora, porque as novas gerações apreciam muito Manga, talvez até mais do que a banda desenhada europeia, que era a tradição portuguesa”. 

Bedeteca do Porto
DR

A bedeteca quer ser um local de descoberta, numa altura em que há cada vez mais oferta de conteúdos na área. “Antigamente, um coleccionador de BD conseguia comprar tudo o que fosse editado em Portugal porque a oferta era limitada. Hoje em dia isso seria impossível, não conseguimos ir a todas. E, nesse aspecto, a bedeteca pode permitir às pessoas que gostam de BD continuarem a comprar os livros que gostam e aquilo que desconhecem virem descobrir num sítio que tem o livro disponível, onde se podem sentar e ler. Se gostarem muito e se quiserem podem comprar”, acrescenta Pedro. 

Neste espaço, os livros e revistas estão divididos por autores nacionais, bandas desenhadas europeias e congéneres, e uma parte para as obras americanas e japonesas. “O objectivo é levar as pessoas a descobrirem coisas boas, coisas de qualidade, mas que são desconhecidas. O que, no fundo, era a nossa filosofia nos salões de banda desenhada. Agora na bedeteca é a mesma filosofia”, termina Pedro Petracchi.

A Bedeteca do Porto é inaugurada este sábado e conta com uma programação em simultâneo. Às 10.00 dá-se a abertura do Mercado do Contra de Fanzines e Banda Desenhada, havendo também uma oficina de desenho em diário gráfico e a inauguração da exposição sobre o livro Companheiros da Penumbra (15.00), com originais desta obra de Nunsky.

Pelas 18.00, o clube de banda desenhada Cão Raivoso, da Escola Soares dos Reis, vai lançar o seu primeiro fanzine. Já no dia 17 de Fevereiro está agendado um clube de leitura em torno do livro “Palestina”, de Joe Sacco”.

Shopping Center Brasília, Avenida da Boavista, 267 (Porto), Loja 503. Horário: Qua-Sab 14.30-18.00

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