[title]
Marta não tem medo. Acha, aliás, um desafio emocionante abrir restaurantes, dar-lhes graça e personalidade, e pôr-lhes em cima das mesas pratos apetitosos, de lamber os dedos. Dona do Boteco Mexicano, junto ao jardim da Cordoaria, e do Cruel, na rua Picaria, abriu na porta ao lado deste, o Espécie, um restaurante vegetariano, com uma carta pensada pelo chef João Pupo Lameiras e que dá vontade de a pedir de uma ponta à outra – das entradas às sobremesas.
“Este espaço já era meu há alguns anos. Já foi a Taqueria e a Taqueria Ilegal e um restaurante para grupos. Mais recentemente comecei a pensar que queria fazer algo aqui com o qual me identificasse e pensei num vegetariano, porque percebi também que na Baixa havia muito pouca oferta de restaurantes vegetarianos com comida boa”, explica Marta Almendra, uma das mais dinâmicas empreendedoras gastronómicas da cidade. Para fugir “aos pratos frios e sem graça e às saladas do costume, convenci o João a fazer a carta”.
O resultado é uma viagem pelo mundo em cima da mesa, da Ásia à América Latina, com “uma preocupação sazonal, onde aparecem pratos de conforto nas estações frias e outros mais frescos nas estações quentes”, adianta o chef. A sopa de milho, servida fria ou quente, com óleo de chili, coentros e chalota frita (4€); o pastel de massa tenra com queijo, cebola e pimento (3,5€/uni.); e o KFC - Korean Fried Cauliflower, uma das estrelas da companhia, com couve-flor frita, molho picante coreano, sésamo e ceboleto (6,50€) são bons arranques de refeição.
Seguem-se, depois, uma espécie de ovos rotos, é mesmo assim que se chama esta combinação de ovos cozinhados a baixa temperatura com batata, molho holandês, tomate seco, pickles e ervas (8€); um bonito prato de aguachile de abacate com jalapeño, lima, coentros, cebola roxa e totopos caseiros, muito fresco e aromático (8€); e uns gulosos cogumelos à Pequim, em que estes fazem a vez do tradicional pato e vêm acompanhados de crepes a vapor, alho francês, pepino e pele de soja crocante. Tudo para mergulhar no delicioso molho hoisin de tâmara (11,50€).
Schnitzel de beringela (12€), polenta cremosa com ragu de jaca verde (12€), moqueca de algas (12,50€) ou caril de feijoca e batata doce (13€) completam o menu, que inclui muitas opções vegan. “Gosto de ver que as pessoas entram aqui com uma ideia preconcebida em relação ao vegetarianismo (e eu nem sou vegetariana, apesar de gostar bastante) e saem com outra completamente diferente. Cá dentro dá-se uma mudança de mentalidades”, sorri Marta.
Enquanto os doces não aterram na mesa, há tempo para apreciar o espaço. Ilustrações de vegetais de Miguel Ramos enchem as paredes, e as mesas de madeira ou com tampos de mármore estão rodeadas de bonitas cadeiras antigas que fazem lembrar as que existem nas casas das avós. Há ainda muitos vasos com suculentas, uma cristaleira encostada a uma parede, que guarda pratos e caixas de bolachas, e, descendo as escadas, uma esplanada, boa para os dias quentes e resguardada e aquecida nos dias mais frios.
“Entusiasma-me criar um projecto de raiz. Pensá-lo e trabalhá-lo. Não tenho medo nenhum de abrir e fechar quando acho que é tempo disso”, remata a dona. E eis que a vistosa banana frita com paçoca, gelado de amendoim e regada com caramelo de miso aterra sobre a mesa (6€).
Rua da Picaria, 84. 96 733 6147. Seg-Dom 12.30-23.00.