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Voltar à primária. Nesta escola "aberta a todos" fica o novo espaço cultural da cidade

A Escola Gonçalo Ribeiro Teles, no Bairro da Boavista, foi inaugurada em Setembro, mas ainda anda a dar os últimos retoques. Esta semana inaugura-se o auditório, com um concerto de Tito Paris.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Jornalista
Escola Arq. Gonçalo Ribeiro Telles
Rita Chantre
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É a maior escola básica de Lisboa e surgiu em Setembro, do maior investimento de sempre (11 milhões de euros) da autarquia na área da educação. A obra entra na reabilitação do Bairro da Boavista (as antigas barracas estão a ser demolidas, ergueram-se edifícios de habitação municipais, uma igreja e um centro de saúde), em Benfica, encostado a Monsanto e marcado por décadas de fragilidades. Mas porquê uma escola tão grande? Não porque tenha um número de alunos excepcional, mas porque o projecto foi desenhado a pensar numa escola aberta à comunidade.

"Em 2017-2018, quando começámos a preparar o futuro bairro, quisemos trazer para aqui dois grandes equipamentos: o pavilhão desportivo [inaugurado em 2019] e a escola [aberta em Setembro de 2024], pensada para funcionar como um espaço cultural fora do horário lectivo, aberto a todos. Queríamos trazer a cidade para um bairro municipal que produz cultura", dá conta Ricardo Marques, presidente da Junta de Freguesia de Benfica.

Festas de São José
DR/JFBFestas de São José

O conceito não é novo — em Lisboa, há anos que o Liceu Camões recebe peças de teatro, concertos ou sessões de cinema abertas à população e tem ganhado força lá fora, em países como França ou Alemanha — mas demarca-se do habitual. A ideia é aproveitar espaços em desuso enquanto estão fechados, ao mesmo tempo que se aproxima a comunidade do universo escolar

Do jardim de leitura à orquestra

Olhe-se então para o espaço, com a luz a entrar por todo o lado, áreas amplas e a vegetação sempre a comunicar pelas janelas, pensadas ao pormenor pelos arquitectos João Santa Rita e Paulo Palma, do Atelier da Praia, cujo projecto foi reconhecido com vários prémios na área. No exterior, o prado, onde vão aparecendo esquilos, mistura-se com os passadiços, com vista para o Parque Florestal de Monsanto. Logo ali, nas traseiras da escola, há um pequeno auditório ao ar livre, preparado para receber espectáculos, sejam apresentados por alunos, entidades parceiras ou quem vem de fora. A área comunica por janelões com outro auditório, no interior, cuja inauguração oficial está agendada para esta quinta-feira, 17 de Abril, com um concerto de Tito Paris.

Jardim de Leitura
Rita ChantreJardim de Leitura

Do lado direito, por uma janela, vê-se o "jardim de leitura", onde os professores podem levar as crianças para uma aula ao ar livre ou onde "pode acontecer a apresentação de um livro", exemplifica o presidente da Junta. Há ainda a biblioteca (que ainda não se sabe exactamente como vai funcionar) e, na ala oposta, as salas de música (para aulas e ensaios da escola e de instituições parceiras), o ginásio (onde se treina basket, ginástica, mas também a patinagem artística do vizinho Fofó - Clube Futebol Benfica ou o râguebi do Grupo Desportivo Direito) e a sala de eventos. Lá dentro, acontece de tudo, do teatro a conversas, mas também ensaios da Orquestra Geração, projecto de desenvolvimento e coesão social através da música, com sede aqui mesmo, na escola primária do Bairro da Boavista.

Orquestra Geração
DR/JFBOrquestra Geração

Na dança há articulações com a Cifrão Dance School, também tem aqui lugar o projecto Voz em Liberdade, de Martim Vicente, e há incursões no teatro amador. No exterior, vai existir ainda uma horta comunitária e por todo o recinto podem acontecer desde missas como festas da comunidade de origem cabo-verdiana do bairro"Queremos que esta escola se torne num local para ir ao fim da tarde, onde as pessoas se encontrem tendo a cultura como motivo. Esta é também uma forma de descentralizar a cultura", dá conta o presidente.

Almoço organizado pela comunidade cabo-verdiana
DR/JFBAlmoço organizado pela comunidade cabo-verdiana

Nessa missão, a seguir a Tito Paris virão nomes como Nininho Vaz Maia (em Junho), Helder Moutinho ou Fátima Travassos (ambos em Setembro). Tudo faz parte de um longo work in progress no Bairro da Boavista, um gueto de onde poucas vezes se sai e onde ainda se diz "vou a Benfica", pela noção de clivagem em relação à vida em volta.

Estúdio BBV com as crianças do projecto Retrocas
DR/JFBEstúdio BBV com as crianças do projecto Retrocas

Em 2022, outro dos passos para abrir mais o bairro ao resto do mundo foi a ampliação do estúdio de som BBV, inaugurado em 2013, onde hoje todos os interessados, do bairro ou não, podem ir gravar e experimentar. "Os pedidos eram tantos que fomos praticamente obrigados a ampliar", reconhece hoje Ricardo Marques. A lição é esta: havendo oferta, há procura. 

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