Tenho acompanhado a vida do grupo bbgourmet ao longo dos anos. Gosto de quase todos os restaurantes, nem sempre simpatizo com as zonas escolhidas para abrir as lojas mas, regra geral, até tenho tido boas experiências.
Excepção à regra, que me leva directo ao assunto: este foi o primeiro bbgourmet que me desiludiu. Já lá tinha ido uma vez ao almoço e tinha ficado com aquela sensação amarga. Serviço pouco simpático (o que não acontece nos outros), comida assim-assim, espaço vazio, frio... Bom, pensei, tive azar. Afinal, pelo que me venderam, este era “o” bbgourmet, o restaurante mais criativo de toda a irmandade.
Com esta em mente e já que ia com tempo, pedi a ementa, fiquei de olho em três ou quatro pratos e, como não conseguia decidir, optei pelo menu carta branca, uma degustação de seis pratos, que costumam ser da ementa – para sítio criativo podiam fazer pratos fora do menu... Adiante. “Tem alergias?”, “Não”; “Há algum ingrediente que não goste?”, “Não”; “E da carta? Algum produto que não goste?”, “Não”. Feito o despiste, começou a viagem.
Enquanto esperava, ataquei a óptima broa escura do couvert. Vinha cortada em tiras, trazia pasta de azeitona – preferia uma manteiga, mas não me fiz de esquisito – e estava deliciosa, fresca, ainda com alguma humidade, essencial na broa.
Gostei da surpresa do primeiro prato: um caldo verde com scone de chouriço. Quer dizer, a ideia é boa, já a execução deixa muito a desejar. Pedi instruções, “é para pôr o scone na sopa?” e ouvi como resposta, “como quiser”. Optei por comê-los separados. Banal o scone, leve sabor a chouriço, algum açúcar que não vinha nada a calhar, banal a sopa, com pouco sabor e pouca couve para o caldo.
No segundo prato, a coisa melhorou. Espargos grelhados, creme de maçã e amêndoa. Espargos frescos, saborosos, com aquele suave sabor da grelha, nem de mais, nem de menos, a casar bem com o leve puré de maçã, as amêndoas laminadas e duas finas rodelas de laranja, que davam o toque ácido. Gostei muito. E animei.
Mas depois, voltei a ficar de pé atrás. Veio o atum braseado com um duo de feijões e vinagreta de alcaparras. Bom feijão verde cortado fino, feijões de soja idem, mas o atum estava seco, quase esturricado e demasiado salgado. Nem no interior conservava frescura. Tanto o meu como o da minha companhia estavam no mesmo ponto, uma pena.
Quarto prato, borrego e pêra bêbeda. Muito boa a carne, laminada em fatias finas, bem tenra, mal passada. Juntou bem com a pêra e com as batatas fritas às rodelas – que eram poucas para a quantidade de carne.
O limpa-palato (ou a pré-sobremesa) não me aqueceu nem me arrefeceu. Um iogurte grego com frutos vermelhos, numa apresentação fraquinha, sobretudo quando comparada com os restantes pratos.
E foi então que chegou o melhor da noite. E a prova de que o bbgourmet é, de facto, forte em pastelaria: a sobremesa Ipanema tropical. Bonita de ver, óptima de se trincar. Uns triângulos de pistáchio e abacaxi, com texturas diferentes, sob um coulis de manga. Excelente.
Mas não foi suficiente para me tirar aquela sensação amarga que tinha sentido da primeira vez. Há muito para afinar, há que abraçar de vez a ideia da criatividade – tirando a bonita apresentação, não vi nada que me surpreendesse – e há que melhorar o serviço. Por 42€ à cabeça, com vinho, sem sair de lá cheio, saiu caro.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.