Nunca voltes ao lugar onde já foste feliz. Não concordo com “As Regras da Sensatez” cantadas por Rui Veloso, sempre achei a letra da canção muito deprimente, mas confesso que quase tive de dar a mão à palmatória neste caso.
A Adega São Nicolau é um daqueles lugares que fazem as pessoas felizes por antecipação. Como, por exemplo, quando a menina que atende o telefone aceita uma reserva para duas pessoas ao almoço. Assim que desligamos a chamada, o corpo transforma-se num autómato, deixa de conseguir pensar no trabalho, e foca-se nos bons bolinhos de bacalhau, estaladiços, quentes, quase a queimar a língua, cheios deste peixe, que antecedem a refeição.
A comida estava boa como sempre. Mas fria e desfasada nunca sabe tão bem. E é com alguma tristeza que tenho notado que o serviço de sala em Portugal se tem degradado de forma generalizada. É uma arte em declínio, e nós com tantas boas escolas de hotelaria...
Mas esta crítica tem uma razão. Eu e a minha amiga, pedimos uma dose de arroz de pato, outra de filetes de polvo com arroz do mesmo. O arroz de pato dela chegou primeiro. Quando não chega tudo ao mesmo tempo, está o caldo entornado. Lembro-me sempre do episódio em que num almoço em Fátima, com os meus pais e a minha irmã, eles, que pediram todos o mesmo prato, acabaram de comer ainda antes de o meu ter chegado à mesa. Acabei a trincar uma sandes no carro porque estavam com pressa de ir embora.
Numa dose generosa, o arroz de pato estava sequinho e saboroso, e cheio de grandes pedaços de carne e de presunto. Ela estava feliz, eu desconsolada. Entretanto vem o arroz de polvo, mas sem os filetes. Perguntei à menina que nos atendia se tinha acontecido alguma coisa na cozinha. Respondeu-me como se eu não tivesse nada a ver com o assunto e, cinco minutos depois, pousa-me os filetes à frente sem um pedido de desculpa, sem uma delicadeza de qualquer espécie. Estavam, claro, tenros por dentro e crocantes por fora, bem temperados com limão e coentros, quentinhos, acabados de sair da fritadeira, como sempre os conheci. Pena o arroz estar tão frio.
Mas, hei, Adega, não estamos a acabar este namoro. Isto foi só um queixume de um apaixonado, que ficou à espera pendurado.
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