1. Ammar
    ©João Saramago
  2. Ammar
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  3. Ammar
    © João SaramagoAmmar
  4. Ammar - Esplanada
    © João Saramago

Crítica

Ammar

3/5 estrelas
  • Restaurantes
  • preço 3 de 4
  • Leça da Palmeira
  • Recomendado
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A Time Out diz

“Gosto de o ver comer.” Uma das características das mulheres do Norte é gostarem de ver os homens comer bem. Especialmente o que cozinham para eles, dedicadas e cheias de complacência, enquanto verbalizam mentalmente um “Come filho, que estás tão magrinho” mesmo que isso não seja, de todo, verdade.

Durante a semana, quando vamos tomar café depois do jantar, ele empanzina-se sempre com fatias de bolo de bolacha, cheesecakes de frutos vermelhos ou palmiers com chocolate. Fecha os olhos enquanto os saboreia e vestígios dessa alarvice de fim de noite ficam-lhe espalhados pela barba e bigode. “Um charme” que apela, depois, à minha intervenção.

Não foi diferente quando agarrou no pão morno e estaladiço do couvert do Ammar, o restaurante em Leça da Palmeira com vista para o oceano. Semicerrou os olhos em aprovação e balbuciou de boca cheia um “é bom”, ao mesmo tempo que lhe barrava as três manteigas disponíveis: uma com azeitonas, outra com sabor a avelã e outra feita com leite de ovelha. As duas últimas foram as preferidas. Ao lado, um prato com rodelas de porco bísaro, cheias de gordurinha boa, entretinha-nos enquanto esperávamos pelas entradas.

Pedi um carpaccio de barriga de atum com molho asiático. A barriga de atum, ou otoro, como dizem os connaisseurs, é a parte mais nobre e suculenta deste peixe (daí o preço, 9€) e tem o dom de me transformar num cão de Pavlov, cheia de reflexos condicionados. Ele optou por uns ovos rotos com espargos e cogumelos (6,50€), pelos quais também salivava.

O peixe estava fresco, no ponto, mas do molho asiático não rezou a história. E as duas panelinhas que chegaram à mesa não davam indícios do famoso petisco espanhol. Não havia batatas (como assim, não há batatas?). Num tacho vinham uns ovos mexidos com cogumelos shiitake e espargos e, no outro, a mesma coisa, mas com os ovos mais líquidos, menos cozinhados. Estava bom de sabor, apesar de saber fortemente a orégãos – essa erva daninha que se não se tem mão nela acaba por contaminar tudo o resto –, mas com esta mania de reinterpretar tudo e mais alguma coisa, sentimos que nos tinham vendido gato por lebre.

O magret de pato com gnocchi de batata doce, cebola caramelizada e redução de laranja estava bom (16,50€), com a carne rosada, mal passada, ligeiramente rija mas perdoável, uma pele crocante e estaladiça, perfeitamente golpeada aos losangos, e uns gnocchi saborosos que se desfaziam na boca. Já a espetada de camarão selvagem de Moçambique e lulas merecia mais sal (17,50€). Morremos um pouco na praia, diga-se. E ela que estava ali tão perto, logo do outro lado da estrada.

As sobremesas e os cocktails foram a tábua de salvação. Um Ammar com rum Plantation 3 Stars, morango, lima e manjericão, e um mojito de maçã verde, fresco (ambos a 8€), puseram-nos a falar pelos cotovelos, com eles sobre a mesa, cada vez mais perto um do outro. Só nos calámos quando o creme de limão, framboesas e merengue (5,50€) e o Ammagnum, um gelado de manteiga de amendoim com doce de leite (7,50€), chegaram, brilhantemente harmonizados com um Limoncello e um moscatel. Foi um ponto final bonito, num espaço bonito, com uma vista bonita.

É um restaurante três estrelas, a puxar para as quatro. Foi por pouco. Também foi por pouco que a conta excedeu os 100€. Um valor acima do justo, mas esta é só a minha opinião. Quem sabe Ammar, há ir e voltar, e até mudo de ideias.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Rua de Fuzelhas, 5
Leça da Palmeira
4450-683
Preço
40€ a 50€
Horário
Ter-Sex 12.30-00.30, Sáb 15.00-00.30, Dom 12.30-18.00
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