O último a inventar um novo conceito para um novo restaurante nesta cidade é um ovo podre. Portanto, aqui vai o meu contributo. Porque não um daqueles restaurantes japoneses com escorregas de noodles (se quiserem saber do que falo procurem no Youtube) onde a malta está bem oleada (esta parte é já da minha inteira criatividade) e tem de correr (aos encontrões e escorregadelas) se quiser comer alguma coisa de jeito, estilo Jogos Sem Fronteiras da Comida. Se estiverem todos nus, a experiência é ainda melhor. Pelo menos para quem vê.
Era uma daquelas noites que pedem margaritas, comida de rua de lamber os dedos e, quem sabe, um bailarico mais tarde. Prometeram-me tudo isso no Boteco Mexicano, um restaurante que junta a gastronomia brasileira e mexicana, do chef Luís Américo. Também me disseram que era descontraído — demasiado até, já que os funcionários passaram por nós carregados de tortilhas de pacote, sem grande pudor em exibir a sua origem.
Tendo em conta que íamos animadíssimos por causa das boas referências, pedimos uma catrefada de pratos. A ligeireza com que estes começaram a sair da cozinha rapidamente se tornou num pesadelo, uma vez que estávamos sentados numa minúscula mesa para dois. Custava ter esperado que terminássemos os totopos (também de pacote, 6€) que vinham acompanhados por um bom guacamole cítrico e cheio de texturas e um muito fresco pico de gallo, antes de nos servirem o próximo prato? O restaurante não estava assim tão cheio. E não me pareceu ver a malta da cozinha no lodo.
Sem grande opção de estruturar a refeição à minha maneira, atirei-me aos pratos quentes para que não arrefecessem. A picanha na brasa chegou suculenta, mal passada, com uma grossa tira de gordura a entranhar os seus sucos na carne (8,50€). Depois, uma coxinha de frango que de inha não tinha nada. Era gigante (dá bem para duas pessoas) e enfadonha também. A pasta de carne demasiado moída enrolava-se na boca juntamente com a massa frita ainda meia crua (2,50€). Reparei que o casal ao nosso lado levou uns bons 40 minutos a degluti-la. O bobó de camarão estava saboroso. O molho aromático, ligeiramente picante a animar a boca, e adocicado pelo leite de coco, trazia uns rechonchudos camarões cozinhados no ponto. Duas colheradas encheram-me de um ténue ânimo (12,50€). Mas foi sol de pouca dura.
Depois de três especialidades brasileiras, o burrito revelou-se uma ofensa à cultura mexicana. Era mau. Enrolado numa tortilha de pacote fria vinha a mesma pasta de frango das coxinhas, um creme de abacate com uns feijões que mal se notavam, e alface (5€). Petiscámos ainda do ceviche que ficou para o fim. Este prato do Peru, ácido por causa do leite de tigre em que cozinha o peixe, é tradicionalmente acompanhado por milho e batata doce para equilibrar os sabores e que aqui não existiram (7€). Resumindo, estava impossível, bom só mesmo para criar aftas.
O conceito é giro? É. O espaço é engraçado? Sim. Foi uma desilusão? Enorme. Não basta ter só boa intenção. Disso está o Porto cheio.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.