É impossível entrar na Rua Ramalho Ortigão – a primeira à direita de quem desce a Avenida dos Aliados – e não reparar nos bonitos toldos em tons de chocolate, nas venezianas e nos pomposos candeeiros pretos de ferro forjado. Modernidade, requinte e bom gosto é o que salta à vista do lado de fora do Brasão, dos mesmos donos d’O Paparico.
Mas mal se entra, há um contraste engraçado. Lá dentro, o ambiente é rústico, com madeiras escuras, paredes de granito, algumas com bonitos pratos pintados, um belo painel de mosaico no chão, uns originais candeeiros de latão cobreado e louças de barro vidrado. É um curioso misto de saloon com cervejaria retro sofisticada.
Quanto ao acolhimento, não é caloroso nem de uma simpatia esfuziante, mas é eficiente.
O menu aponta para petiscos, bifes, francesinhas e alguns mariscos, para acompanhar com uma generosa lista de cervejas nacionais e estrangeiras. Realce para a portuense Sovina, que fez uma edição especial para a casa.
Resolvemos experimentar as especialidades devidamente assinaladas e começámos com uma cebola frita com maionese de alho negro (5€). Este prato é aprimorado, pois a cebola é aberta em forma de flor e é frita inteira. Muito bem frita por sinal, estaladiça e excelente como entrada para partilhar. Para cortar um pouco a sua doçura faltava só a flor de sal depois da fritura. É requintada pelo uso do alho negro, pouco usado em Portugal, e que mais não é que o alho normal (nem todas as espécies são adequadas) que passa por um processo de fermentação e envelhecimento em temperatura controlada. A maionese perde o forte sabor do alho, fica com um sabor mais neutro, mas faz um bonito pendant com esta original entrada.
As moelas estufadas (5,80€), estavam envolvidas num molho espesso com bastante tomate, picante q.b., salsa, sem receios de sal e muito bem apaladadas. Não tive complexos e o pão aterrou com competência na molhanga.
O rissol de carne com cogumelos e trufa (1,70€/unidade), era preto por fora (graças à tinta de choco), tinha uma massa mais dura do que o habitual, mas tinha um recheio de carne de vaca picada, cogumelos finamente laminados, salsa, azeite de trufa para perfumar e um pouco de maizena. Tudo muito bem refogado dá um resultado consistente.
Passámos para uns mexilhões suados (12€), grandes e carnudos, suados com bom azeite, salsa, limão e gengibre. O gengibre reforçou um pouco demais o cítrico, mas como os mexilhões eram de boa qualidade, estavam gostosamente simples. Mais uma vez o pão mergulhou com eficiência e prazer.
O bife com queijo da Serra (17€, na versão de lombo), era alto, suculento e a carne de qualidade. Chegou à mesa no ponto solicitado, com um excelente queijo como cobertura, salada mista e boas batatas às rodelas para acompanhar.
Dentro do estilo e da limitação das ofertas, a cozinha apresenta alguma originalidade, é eficiente e tudo o que experimentei é honesto e bom, muito embora nada seja realmente fascinante.
O ambiente é descontraído, com muitos turistas à mistura, boa música e espírito de cervejaria. Recomendável para conhecer e usar sem parcimónia sempre que nos apetecer este tipo de refeição com uma cerveja geladinha e bem tirada.
É um Brasão com boa ascendência e descendência.
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