1. Cantinho do Avillez - Porto
    © João SaramagoCantinho do Avillez
  2. Cantinho do Avillez - Porto
    © João Saramago
  3. Cantinho do Avillez - Vieiras Marinadas - Porto
    Fotografia: João SaramagoVieiras marinadas do Cantinho do Avillez
  4. Cantinho do Avillez - Porto
    Fotografia: João Saramago

Crítica

Cantinho do Avillez

4/5 estrelas
  • Restaurantes | Português
  • preço 3 de 4
  • Flores
  • Recomendado
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A Time Out diz

Com os seus tempos áureos no final do século XIX, início do XXI, quando ligava o rio à cidade e tinha um importante papel mercantil – há casas centenárias que ainda persistem e merecem ser exploradas –, a Mouzinho da Silveira perdeu força nas últimas décadas. Mas, quiçá graças ao fenómeno das low cost, que têm feito renascer a Baixa, hoje a rua está outra vez a entrar na moda.
 E entre as novidades que todas as semanas acontecem no eixo Aliados–Ribeira, ninguém fica indiferente à estreia de José Avillez no burgo. O Cantinho do Avillez chegou ao Porto com as bases da casa mãe, com as mãos do chef residente José Barroso e com um staff muito rodado e que sabe o que está a fazer.

Impressiona logo pelo número de empregados na sala. Nos dias de hoje é de aplaudir a coragem em prol da qualidade e prontidão do serviço. Se algo falta, há sempre alguém ao nosso lado para servir. Neste ponto nota máxima.

O estilo é descontraído e a decoração também. Ora quadros com moinhos de café ou bases de mesa metálicas, ora louças e faianças na parede, ora tábuas de cozinha de madeira. Azul nas madeiras e nos candeeiros suspensos e branco nas paredes.

Na mesa, com individuais de papel, azeitona galega com alho, laranja e tomilho, manteiga de trufa, um creme de tomate a lembrar um gaspacho mais consistente e um cesto com deliciosa e húmida broa, tostas estaladiças de queijo, e pão de centeio muito bom e fofo. Acima do normal e tudo com personalidade.

Nas entradas provei a Portuguesinha (3€), duas maravilhosas empadas de massa areada e estaladiça, com sabores de cozido à portuguesa, com couve, cenoura, carne de vaca, chouriço e hortelã. O recheio estava aveludado, compacto e com um sabor do outro mundo. Que coisa boa! Imperdíveis. Experimentei a farinheira em crosta de broa de milho e coentros (6,95€), servida numa sertã, sabor intenso, pedaços de gordura de porco saborosa a contrastar com o crocante da cobertura. Já o atum de conserva caseira com maionese de gengibre e lima (6,35€) estava uma desgraça. O atum, visualmente a parecer consistente, estava pastoso e sem sal. Nem o limonado do gengibre, nem o picante adocicado da pimenta rosa, nem o leve avinagrado do molho salvavam um prato que poderia ser original e patriótico.

Curiosamente o atum na chapa com molho miso e legumes salteados (19,50€) era dos Açores e de uma frescura exemplar. Notava-se pelo corte, em que se desfazia por onde passava a faca. Vinha selado, quase cru por dentro, consistente na boca, fresco pelo gengibre e oriental pelo miso.

A alheira crocante com ovo a baixa temperatura, tomate fumado e arroz de grelos (18,50€), vinha embrulhada em kataffi.
 Na alheira, as carnes estavam na consistência certa, ela tinha pouca gordura no interior, estava pouco fumada, mas com bom paladar. Dava prazer sentir a gema a escorregar por cima da alheira bem frita e do tomate seco levemente fumado. O arroz de grelos é que era desnecessário. Unido com manteiga – o que lhe conferia uns laivos de risotto – tinha umas gotas de limão/lima que destoavam com o equilíbrio da alheira.

Já os pregos são fantásticos. Muito alho laminado, louro, bem fritos na molhanga e com o pão (numa das versões) bem molhado no mesmo. As boas batatas fritas caseiras e um ovo bem estrelado em cima fazem deles uma escolha acertada e genuína.

Nas sobremesas, os lambões não devem perder a avelã3 (5,50€), composta por espuma, raspas e gelado. Sou suspeito, por ser o meu fruto seco favorito, mas estava aqui uma sobremesa para não esquecer. A colher ia ao fundo, passava pelas várias camadas e as texturas estavam perfeitas. O toucinho-do-céu com sorvete de framboesa (5,50€) desiludiu. Primeiro pela combinação com o sorvete que pelo frio matava o doce e depois pelo doce em si estar apenas banal. Esperava-se mais açúcar, mais glicerina, mais amêndoa, o toque da banha de porco, enfim, mais de tudo para um doce que era quase nada.

Difícil pagar menos de 30€ por pessoa, o que o coloca num patamar onde algumas falhas de concepção deveriam ser evitadas. Mas não deixa de ser um espaço que deve ser visitado, onde nos sentimos muito bem e onde a regra é, felizmente, o muito bom.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Rua Mouzinho da Silveira, 166
Porto
4050-416
Preço
Até 40€
Horário
Seg-Sex 12.30-15.00/19.00-00.00; Sáb-Dom 12.30-00.00
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