Sempre gostei da Casa Ferreira. Não apenas da comida, muito caseira, muito boa, mas do conjunto em si. Daquele serviço atencioso e rápido, do sítio com paredes de pedra e sempre cheio de locais ao almoço, do balcão de entrada onde se ajustavam as contas e, volta e meia, se bebia um digestivo. A nova Casa Ferreira não tem este encanto. A mudança para a Rua do Breiner trouxe-lhe talvez o dobro do espaço e, ao que parece, pelo menos à hora do almoço, menos gente. As conversas dos outros ouvem-se mais, as mesas do principio da sala ficam ocupadas e lá ao fundo há um vazio - suponho que os grupos da noite dêem conta do recado.
Quanto à comida, garante o actual dono, filho do fundador, está tal e qual na mesma. "É a minha mãe que cozinha. Os pratos são iguais". A ementa é, aliás, a mesmíssima coisa. Está a canjinha e a alheira de bacalhau, estão lá os filetes de bacalhau com salada russa (que delícia!) e o bife à Ferreira, com queijo e fiambre, está a broa no couvert, tudo. Comi a sopa de espinafres do dia, uma açorda de bacalhau deliciosa, muito leve, pedaços de peixe, um ovo em cima para destruir, e um rolo de carne com queijo e fiambre, um pouco puxado ao alho demais. De sobremesa uma tarde de limão merengada sem grande história. Mas nada que nunca tenha acontecido na antiga casa.
Feitas as contas, com 7/8 à cabeça, há que dizer que não se sai encantado como nos tempos antigos, pela falta de alma na casa, mas sai-se igualmente bem alimentado. No final de contas, é isso que importa.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.