1. Esporão no Porto
    © DREsporão no Porto
  2. Esporão no Porto
    © DREmpada de rabo de boi do Esporão no Porto
  3. Esporão no Porto
    © Marco DuarteCucos com vegetais

Crítica

Esporão no Porto

5/5 estrelas
  • Restaurantes | Restaurantes
  • preço 3 de 4
  • Baixa
  • Recomendado
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A Time Out diz

O Esporão no Porto é um restaurante, com pratos portugueses e sazonais, mas também é uma loja e um espaço para workshops e provas de vinhos e azeites. A carta tem a assinatura do chef Carlos Teixeira e e a decoração, de Christian Haas.

Crítica

Escrevo este texto em stress, de ritmo cardíaco elevado, nada atlético, com vontade de arrancar meia dúzia de brancas das têmporas e de chorar, sem ninguém ver, um bocadinho sobre o teclado. É assim quando se gosta: entra-se na pele de um fedelho que escreve uma carta apaixonada, e que sabe que nunca nada será suficientemente bom ou digno do objecto amado. Esta crítica é o reflexo desse drama pueril. A editora da revista liga-me pela terceira vez: “Como é Ricardo, isso sai ou não?”. A minha mulher chama-me para jantar, mas eu só consigo pensar naquele azeite que abriu a refeição. Um Cordovil da Herdade do Esporão feito com azeitonas verdes de sabor amargo, picante e evidentemente trufado, que tingia de dourado vivo o pão feito com massa mãe, levedado lentamente, com muito ar, acidez e crosta crocante, da padaria local Masseira. Sobre um prato de cortiça do Alentejo (abro aqui um parêntesis para referir a bonita decoração do espaço, orgânica, de linhas suaves e mesas comunitárias), umas tiras da escura, densa e agridoce broa de Avintes compunham o simples e despretensioso couvert (3,50€).

Para entradas pedimos a tentadora empada de rabo de boi (7,50€) e um escabeche de coelho com pão torrado (6€). Um golpe de faca na massa sedosa da primeira, carregada de manteiga e que se desfazia ao contacto com a língua, soltava um incrível cheiro a estufado, apurado durante horas. Imaginava, enquanto provava, um convívio amistoso da carne desfiada, da cenoura, dos cominhos, da pimenta preta, dos flocos de sal, tudo dentro da panela. Ao lado, uma salada com gomos de laranja limpava o palato entre garfadas. Igualmente bom (ou talvez melhor ainda), estava o escabeche, com um coelho de carne saborosa, cozinhada no ponto, misturado com cebola e cenoura doces, salsa a saber a salsa (aleluia), e regado a vinagre, também de produção própria, que dava frescura e robustez ao conjunto. Se isto começava assim, nem queria imaginar o que nos esperava.

O bacalhau na brasa com açorda alentejana e pele de porco crocante (19€) pareceu-nos uma boa ideia para primeiro prato. O lombo alto, bem demolhado, de textura suave e a soltar-se em lascas, assentava sobre uma açorda e um piso alentejanos de forte sabor a alho e coentros, muito aromático. Um clássico da cozinha regional trazido para os dias de hoje de uma forma elegante e equilibrada.

O último prato antes da sobremesa foi um desfecho apoteótico: uma língua de vitela inteira (16,50€), visualmente deslumbrante, cozinhada lentamente, bem temperada, gorda, muito tenra e que foi cortada à colher. Uma vez na boca, era possível sentir o músculo a derreter. Uma experiência tão boa que não queria que acabasse nunca. A acompanhar, grão de bico e grão de bico crocante (e surpreendente) cozinhado num jus de carne e enchidos. Um prato fabuloso, digno de uma relação séria.

Rematámos a refeição com um pudim Late Harvest (7€), feito com um vinho doce da Herdade do Esporão de colheita tardia, muito parecido na sua consistência e sabor a um pudim Abade de Priscos. Vinha com gelado e gomos de laranja e redução de hortelã. Somadas as partes, a doçura, a acidez e a frescura equilibravam-se na perfeição.

Um último parágrafo para falar dos bons vinhos, sob a chancela da Herdade do Esporão, que acompanharam a refeição. Um vinho de Talha Branco 2018, intenso e cítrico com um final longo, e um Quinta dos Murças Tinto Reserva, bem encorpado. Por último, uma salva de palmas ao jovem chef Carlos Teixeira e à sua equipa de cozinha e de sala que merecerem estas cinco estrelas e um lugar no meu coração.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Rua do Almada, 501
Porto
4050-039
Preço
40 a 50€
Horário
Ter-Sáb 11.00-00.00
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