À conta deste restaurante passei uma bela vergonha à frente do meu patrão. Numa visita a Lisboa em trabalho, há uns anos, almocei no Frankie Hot Dogs por recomendação de um colega. Lembro-me que no menu havia uma diversidade de cachorros quentes tão grande que ainda hoje tenho a impressão de ter abanado ligeiramente o rabo de excitação, qual canídeo feliz.
Pedi o cachorro mais exuberante, não me chamasse eu Ricardo, mas os guardanapos entalados no pescoço a proteger a gravata não a salvaram de uma evidente nódoa de gordura, salientada sisudamente pelo meu chefe durante a reunião da tarde. Quando o Frankie abriu na Baixa, esfreguei as mãos (abanei o rabo, talvez?), vesti um fato de treino miserável e fiz-me à estrada. A Rita, minha mulher, rogou-me uma praga quando me viu à porta e rezou um bocadinho (tenho a certeza) para não ser vista comigo durante a refeição.
Mas vamos aos cachorros, as estrelas. O meu, o Boss (4,95€), trazia uma boa salsicha estaladiça, estilo Frankfurt, enrolada numa saborosa tira de bacon tostada, mais cheddar derretido. O molho de mostarda e mel e o de barbecue equilibravam com um toque doce os sabores salgados. A cebola crocante criava textura e, por cima, um ovo estrelado com a gema a escorrer. Ipso facto, a fast food tal e qual como ela deveria sempre ser: gordurosa, boa e viciante.
A Rita, com o seu El Perro (4,95€) na mão, pensava que havia casado com um neandertal sem regras à mesa.
O dela não deixou memória: uma salsicha igualmente boa, mas envolta em alface iceberg, num guacamole banal e sem grande sabor, tomate, molho de iogurte e umas tortilhas gordurosas.
Por cada dois pedidos, um ficava sempre aquém do desejado. Aconteceu o mesmo com as entradas. As batatas fritas texanas com chilli com carne eram mais fogo de vista do que outra coisa (2,95€). Já as mini-corndogs (3,35€) – umas bolas de salsicha envoltas em queijo ou bacon, panadas e fritas – tinham um polme surpreendentemente leve e fofo. Divertidas para roer enquanto se espera pelos cachorros. Mais uma vez, a pinã colada estava aguada, mas a limonada de maracujá era boa (ambas a 1,55€).
Fui a contar com um pouco mais de constância entre a comida servida nesta refeição e entre a que se serviu em Lisboa – até porque pela refeição na capital daria quatro estrelas, mas talvez os anos me tenham tornado um pouco mais exigente.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.