Gostei logo da sala. Da parede forrada a jornais, dos sofás com capitoné, dos abat-jours. É verdade que há muito folclore da América do Sul, mas tudo arrumado, discreto, a mesma luz ténue que faz qualquer decoração parecer mais sofisticada, e um corpo feio nu parecer um corpo razoável nu, e a Frida Kahlo parecer não ter bigode.
Também gostei do humor. Na casa de banho dos homens, em frente ao urinol, uma frase lembra que temos “o futuro do país nas mãos”. Outra coisa boa, o serviço: eficiente, simpático, conhecedor. Outra ainda, os produtos: quase tudo fresco e processado na casa.
A terminar os elogios, nota alta para as margaritas. Gosto de restaurantes de margaritas; uma pessoa está a entrar na porta e já tem uma na mão e senta- se e está mais feliz. Em tempos lembro-me de ir a um mexicano, entretanto encerrado, em que antes ainda de os tacos aterrarem na mesa já toda a gente respondia por Paquito e havia raparigas, confusas com a geografia, a dançar sevilhanas. No final, pagava-se bem e comia-se mal mas ninguém queria saber. Viva la fiesta.
Não chega a tanto este Frida, de perfil mais comedido, não apenas no ambiente mas também nos condimentos.
Malagueta, em particular, é coisa que não abunda. Dir-se-ia que é tudo demasiado suave e educado. A cozinha mexicana não tem de atear um iceberg, mas tem de atear um indivíduo. E não me venham com a conversa de que a comida com muita capsaicina não sabe a nada ou de que a boca fica toda queimada. A piada da malagueta, em parte, é a boca ficar toda queimada. Também não vale o “se quiser, nós trazemos o nosso molho de piripiri”. Resulta diferente a malagueta ser incorporada antes ou depois, para além de que num restaurante deste género exigem-se mínimos.
Dito isto, estava mal o guacamole (6,50€)? Não estava. O ceviche (9,50€)? O chile en nogada (carne picada com ananás, passas e romã, tudo embrulhado num pimento poblano, por 13,50€), o mixiote, cubos de frango marinados e servidos em folha de bananeira (11,50€)? Também não. Muito menos o pescado tatemado (14,50€), uma bela tranche de robalo de qualidade dentro de uma folha de milho.
Este Frida é um restaurante sério e bonito, onde se come bem. O único problema é mesmo este: num restaurante mexicano eu quero que, pelo menos alguns dos pratos, me tragam sensações fortes e vontade de beber uma cerveja fresca.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.