Há quem dobre a roupa interior por cores, ou esfregue os dentes 37 vezes de cada lado. Em cima e em baixo. O meu transtorno obsessivo-compulsivo não é tão minucioso mas é a fraqueza perfeita para me tornar o alvo de chacota da Rita, a minha mulher, que, mal entrou no Gion, não perdeu a oportunidade.
“Tens a certeza de que queres comer aqui? Não te vais sentir mal? Se calhar era melhor fazeres jejum. Não te fazia mal nenhum fazeres jejum.” As mesas estavam enviesadas em relação à parede e, adepto da simetria, não suporto coisas que não estejam paralelas.
Suei frio enquanto descia as escadinhas (dissimuladamente, claro, para não dar parte de fraco), e as mesas desalinhadas (para que coubessem mais porque o espaço é pequeno) foram rapidamente esquecidas à conta do bom atendimento. Rápido, atencioso e informado, foi dos melhores nos últimos tempos.
Uma espécie de amuse-bouche (não pedido mas cobrado) chega sob a forma de pequenos cubos de peixe branco e salmão fritos, marinados em molho togarashi, uma mistura de especiarias (2€). Ao mesmo tempo, pousam duas cervejas japonesas, uma Asahi e uma Kirin, bem frescas (ambas a 2,80€).
A saborosa panqueca okonomiaki vem bem servida de camarão e polvo, com alface e lascas de bonito que se agitam no prato em contacto com o calor. Por cima, uma maionese de ostras (10€). Um prato pelo qual o chef Bruno Cardoso, ex-Terra, se apaixonou quando foi ao Japão.
Depois, seguiram-se outros mais leves e frescos, bem cuidados, como as fatias de sashimi de peixe branco, atum, salmão e vieiras com tobiko, ovas de peixe voador, rematadas por cebolete e molho ponzu (11€); um temaki generoso com salmão e abóbora caramelizada, que lhe dava uma textura e doçuras fora do comum (5€); e ainda um set de gunkans (10€) e outro de niguiris (9€) com algumas falhas, mas perdoáveis. Um niguiri de salmão com molho miso revelou-se gorduroso e pesado, e um gunkan de salmão com um ovo de codorniz demasiado gelatinoso. Pequenos contratempos compensados por um niguiri de xaréu com yuzukosho, um condimento feito à base de pimenta e yuzu, um citrino, muito aromático e perfumado, e por um gunkan de corvina com ceviche de tomate e coentros. Óptimos.
A tarte de chocolate negro com um dulcíssimo caramelo de miso e uma outra merengada feita com yuzu, muito suave e nada amarga, são duas sobremesas altamente recomendáveis neste Gion (ambas a 5€).
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.