O pedido, como se pode ver pela ausência de estrelas pintadas em cima – e pela dupla distribuição em baixo, que eu sei bem que já foram ver –, foi satisfeito. Não será para se tornar regra, claro, mas sim excepção. Aconteceu que de todas as vezes que fui ao Il Fornaio 178, restaurante inaugurado no início do ano perto do Bessa, e um verdadeiro caso de sucesso, fiquei rendida às pizzas e achei tudo o resto, não arranjo expressão melhor, fraquito. Eis o porquê.
As pizzas - 4 Estrelas
Primeiro dado importante: são napolitanas. Quer isto dizer que são ligeiramente mais altas que a tradicional pizza romana, baixa e estaladiça, têm as bordas gordas e trazem alguma humidade no centro. Segundo dado importante: cozem num forno xpto, marca napolitana Stefano Ferrara, feito de pedra vulcânica, forrado a pastilha dourada e alimentado a lenha. Terceiro e mais importante dado: são excelentes.
De todas as que já provei, destaque para a Pesto, com presunto DOP, rúcula e pesto, bem composta em quantidade de ingredientes, apenas com a massa, os queijos e o molho a irem ao forno, os frios a serem acrescentados depois (como deve ser – não há pior que presunto quente, bof!); e destaque para a Tartufo, com mozarela, cogumelos e creme de trufa negra, de sabor forte, mas em equilíbrio perfeito com a massa. As duas a chegar à mesa no ponto, com as bordas tostadinhas, a massa com altura e humidade certas. Muito boa também a Calzone Vegetariana, com molho de tomate, mozarela, caponata – uma espécie de guisado de beringela tradicional da Sicíla – e manjericão. Aqui a massa ligeiramente húmida, diferente das calzones tradicionais.
Quanto a tudo o resto que entra naquele forno e que entrou também na minha boca, leva a mesma classificação: muito bom. Tanto o pão de pizza do couvert, para mergulhar em azeite e vinagre balsâmico, como a bruschetta com caponata e alcaparras, numa base de pão alto, fofo e cheio de sabor.
A restante comida italiana - 2 Estrelas
A vaga de italianos tem sido grande no Porto (no país inteiro, mesmo) e o nosso palato está cada vez mais habituado a provar comida italiana de qualidade – e a saber que está muito ligada à qualidade dos produtos. Não quero com isto dizer que no Il Fornaio 178 os produtos sejam de má qualidade, mas, em comparação com as pizzas, os pratos ficam uns furos a baixo.
Veja-se a carbonara, numa massa sensaborona (há excelentes marcas italianas de massa à venda até em grandes superfícies), com panceta cortada em grossos pedaços, num molho à base de ovo, demasiado líquido, todo concentrado no fundo do prato, a precisar de mais tempero – sal, pimenta, parmesão, pecorino, qualquer coisa para lhe dar vida. Vejam-se também os arancini, uns croquetes com risoto de cogumelos e queijo provolone, a chegar no ponto certo de fritura, sem qualquer pingo de óleo, mas com um interior seco, sem sal e com pouca união dos elementos. Fraquita também a panacota, com o sabor a nata a predominar, uma suposta compota de fruta da época que era afinal um conjunto de frutos vermelhos bastante ácidos (pareceram-me congelados) e algum suspiro. Demasiado doce o tartufo de chocolate, uma sobremesa recomendada pela empregada, com uma trufa de chocolate, chocolate branco e mascarpone, a deixar ainda sentir alguns grãos de açúcar.
Considerações finais
Serviu a separação para sublinhar que o Il Fornaio 178 é um óptimo sítio para comer pizzas, mas um sítio pouco interessante para sobremesas e pastas. Avaliando também o ambiente, o serviço e o preço (média de 20€ por pessoa), vai tudo para as quatro estrelas. Sempre cheio, empregados bastante simpáticos e solícitos e uma conta final ajustada ao que se come e bebe.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.