Há coisas que me deixam com a pulga atrás da orelha. Os putos quando estão silenciosos há muitas horas; o IRS que entra logo à primeira no portal das finanças; a sogra que me sorri sem motivo aparente... Isso e restaurantes que se focam num produto específico e enchem a carta de pratos feitos com o mesmo. Salvo raríssimas excepções, as incursões a espaços deste género acabaram sempre com as minhas papilas gustativas a padecer de um aborrecimento mortal.
No Lhau! Lhau! Maria!, na Baixa, a estrela é o bacalhau. Começámos pelo que nos parecia mais seguro: umas pataniscas com um bom rácio entre o peixe, os ovos, a farinha e a cebola picada. Quentes, estaladiças e bem temperadas, dispensavam a típica armadilha para turistas – o queijo da Serra derretido sobre as mesmas. A acompanhar, um arroz de tomate a saber mais a coentros do que a este fruto (8€). Depois, arriscámos. Pedimos as peles de bacalhau crocantes com pimentão vermelho. O reaproveitamento das partes menos nobres do produto estrela (grande característica de restaurantes com este perfil), quando é bem feito funciona muito bem em entradas e sobremesas, ou a complementar certos pratos principais. Mas estas eram banais e com uma maionese de bacalhau que não sabia a bacalhau – não deixaram memória (6€). Contudo, instiguei a Rita, minha mulher, a comê-las porque, segundo a sabedoria popular, as peles de bacalhau fazem crescer determinadas partes anatómicas interessantes. Mas ela não foi na cantiga.
Nos pratos principais repetimos a jogada. Um mais tradicional e outro mais arriscado. O bacalhau com grão, estava bem feito, mas tinha pouco sabor. O puré de grão era normal, o crocante era normal, o bacalhau era normal e nem sempre o normal é bom. A cebola caramelizada que ligava o prato era boa e salvou um pouco a cena (14€).
Restaurantes que se posicionam no mercado com esta bandeira, deveriam ser mais criativos e apresentar o produto de formas mais diversificadas, caso contrário caem na monotonia. Foi o caso do último prato, o bacalhúrguer (9€), um hambúrguer de bacalhau seco, pouco diferente de uma patanisca, que não se deveria apoiar no queijo e no fiambre para corrigir essa falha. Também trazia um pedaço de porco desfiado que me deixou com a pulga atrás da orelha. Tenho quase a certeza que não era suposto aquilo estar ali.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.