Para os menos informados, LSD quer dizer Largo de São Domingos. Em tempos antigos, a Rua das Flores era conhecida pelos terrenos hortícolas e florícolas que existiam naquela zona. Pouco tempo depois de a rua ser aberta iniciou-se a construção da bonita e imponente Igreja da Santa Casa da Misericórdia do Porto, e muito mais tarde a centenária Araújo e Sobrinho, que brevemente vai dar origem a um novo projeto hoteleiro.
Este gastronómico Largo de São Domingos, conta agora, além do DOP e Traça, com o mais recente LSD. Projeto repartido entre os donos da Casa de Pasto da Palmeira e o recém-regressado ao Porto Cândido Pereira (ex-Terra). Saúdo este regresso pois considero-o um dos bons chefes de sala da cidade do Porto.
O LSD tem duas salas, divididas pela cozinha e copa. Se na cozinha, primam as madeiras pintadas de creme e o tijolo burro, as salas e portadas apresentam-se em tons mais requintados e quentes de cinza esverdeado, creme nos rodapés altos e castanhos nas cadeiras e sofás num estilo moderno indefinido. Mesas sem toalhas e candeeiros longos com aço a dar modernidade. Copos de boa qualidade para uma lista de vinhos 100% Sogrape. É escusado e é limitador.
Ao almoço, menu mais leve e fresco. Por 12€ temos entrada e prato principal e por mais 3€, sobremesa. Experimentámos os espargos com ovo, uma ligação clássica, com o ovo mal passado e clara em gelatina. Os espargos salteados estavam pouco crocantes e algo moles por dentro. Nada de especial. O atum com molho satay foi servido com arroz basmati com ananás e pimento vermelho. Para este preço, o atum era de boa qualidade, quase cru por dentro como deve ser e com uma maionese de amendoim e outros frutos secos, coco e malagueta a compensar o pouco sal do atum.
Estava bem.
Ao jantar e no capítulo entradeiro, experimentámos croquetas de terrincho (6€), nome derivado das ovelhas da raça churra da Terra Quente, com massa em consistência mole, a lembrar alheira, e com o sabor suave do dito a ligar bem com o doce de pêssego e o perfumado do zimbro. Dos piqueniques e merendas do comboio que ia para Bragança, os saudosos ovos verdes (5€). Estes de alheira, originais, com muita salsa. Faltava a cebola picada a sentir-se, ligeiramente picantes e com um presuntinho extra a realçar os salgados. Boa fritura e saborosos.
O Carne, Carne, Carne (35€ para duas pessoas) é um tríptico, com carpaccio em que a carne vem enrolada em enjoativo queijo Philadelphia a matar por completo a original água de coentros; tártaro do melhor que já provei, onde a mostarda, cebola, salsa e carne de excelente qualidade mostram a sua arte; e um naco de carne grelhada, com uns excelentes palitos grossos de batatas fritas e mostarda a acompanhar. Prato carnívoro onde o primeiro momento deve ser revisto.
O rabo de boi (16€) bem estufado e apurado, vem com a carne desfiada e remontada em escalope, crocante e levemente glaceada, acompanhada com cebolinhas al dente e um puré de baunilha suave. Tem doçura, acidez e raça.
Nos peixinhos, o polvo numa caldeirada (17€), não se desfazia, mas embrulhado no molho de caldeirada a saber a mar estava agradável. As amêijoas eram banais e a batata doce, que funciona bem com este pernudo de oito patas, estava demasiado doce. So-so para este prato.
Nas sobremesas saúda-se o bonito carrinho de queijos, com variedade (Serra, amarelo de Castelo Branco, Ilha, Taleggio, Gouda Holandês, Camambert, entre outros) tão esquecidos nos nossos restaurantes e que tão bem sabe para iniciar ou terminar a refeição. Todos em perfeito estado de conservação, bom sabor, servidos com compota de cebola e abóbora.
Fico muito contente quando vejo turistas na nossa cidade serem tão bem tratados e recebidos, como vi neste LSD e reforço que o serviço é simpático e descontraído. Com sala cheia o espaço é algo barulhento, mas no exterior pode jantar-se na explanada. Por muito pouco teve direito às quatro estrelas. No entanto, a criatividade e consistência de algumas das propostas fizeram pender para o sentido ascendente. Não alucinou mas bateu com alguma intensidade.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.