Quero começar este texto com um esclarecimento. Não tenho nada contra a comida vegetariana. “Oh!, oh!, mas porque haveria de ter, Francisco?”, perguntarão alguns que me lêem. Porque eu sei muito bem que há por aí gente que acha que não é comida digna e que gosta de fazer as piadolas costumeiras, do tipo, “e depois do vegetariano, onde vamos comer?”. E sei disto porque tenho amigos assim. Então, quero aqui frisar que gosto de restaurantes vegetarianos.
Do mesmo modo que simpatizo com restaurantes em sítios originais. Ok, é um segundo esclarecimento. Por isso, até foi com algum entusiasmo que percebi que este Lupin (lê-se lupin acentuando o “in”? Ou lê-se à francesa, estilo “lupan”? Alguém aí para me esclarecer?) funcionava no rés- -do-chão de uma casa perto do Campo Alegre. Gostei do jardim arranjado à entrada, da simpatia com que fui recebido e de estar composto das duas vezes que o visitei. Não gostei, e isso foi logo um ponto negativo, da acústica da casa. Chamem-me esquisitinho se quiserem mas, mesmo com música num volume considerável, há aqui qualquer falha que fez com que a conversa da mesa do lado entrasse na nossa e, como consequência, todos acabassem por falar mais baixo – ou seja, se tem roupa suja para lavar, este não é um bom sítio.
Gostei, volto a dizer, do atendimento, da simpatia – e alegria, muita alegria, como quem acredita que aquilo que vende é o melhor do mundo – com que explicam o menu, explicam cada prato, falam da filosofia do sítio, “tentamos ter o máximo de produtos biológicos”, e até com o que servem.
Assim como gostei do couvert. Bom pão, azeite biológico com muito sabor e, ao jantar, um hummus delicioso, com forte presença do grão, cortado por alguma acidez do limão.
Na primeira visita provei a sopa do dia, um creme de alho francês sem grande sabor, e um dos pratos também do dia, um burrito. Um burrito a sério, recheado com feijão preto, milho, arroz integral e bocados de tofu. O veredicto: massa com a grossura certa, produtos bons, mas falta de sal, e de um acompanhamento mais interessante que uma montanha de folhas de alface só com um leve tempero. O strudel de maçã de sobremesa sabia bem, mas tinha excesso de forno, ou seja, veio um pouco seco. Valeu-lhe o gelado.
Na segunda volta fui ao jantar para poder provar mais alguns pratos. Vieram vários, mas, nalguns, a história foi a mesma: o excesso de sabor de um dos ingredientes fez com que chegasse ao fim já ligeiramente embuchado (ou enjoado). Foi assim no soufflé de queijo de cabra, salada de endívia e maçã. Um prato lindo, cheio de cor, com flores comestíveis, fruta desidratada, uma salada de verdes bem temperada, uma maionese adocicada e um soufflé aparentado da quiche, que acabei já a custo. Foi assim na sopa de cebola, miso e sementes de girassol, com cebola em excesso. Foi assim com a massa de conchas al dente, duxelle de chalotas, shitake e cenoura e beurre blanc de Alvarinho, com o sabor das chalotas demasiado forte que, a juntar ao molho, deixava um sabor amargo na boca a cada garfada.
Boas as chamuças de tofu bio, (podiam ter mais conteúdo), feitas no forno, com puré de batata doce roxa, alho francês grelhado e mousse de ervilhas – outro prato bonito, colorido e um dos melhores. Bom também o risoto de cepes e boletos, com cebolinhas confitadas e queijo da Ilha. Excelente a mousse de chocolate amargo, com bolacha esfarelada e gomos de laranja.
Quando acabou o desfile de pratos percebi uma coisa que ninguém me tinha dito: o Lupin faz quase alta cozinha vegetariana. Ou melhor, faz pratos bonitos, bem apresentados, variados, com boas combinações de produtos, mas precisa ainda de equilibrar sabores. Até porque, por 20€ por pessoa ao jantar e 10€ ao almoço, a fasquia quer-se elevada.
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