1. Mito
    © João SaramagoMito
  2. Bacalhau assado
    © João SaramagoBacalhau assado
  3. Costeleta de porco
    © João SaramagoCosteleta de porco
  4. Soufflé frio de chocolate
    © João SaramagoSoufflé frio de chocolate

Crítica

Mito

4/5 estrelas
  • Restaurantes | Fusão
  • preço 2 de 4
  • Baixa
  • Recomendado
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A Time Out diz

Antes de cruzarmos a ombreira da porta éramos dois tântalos esfomeados. Duas personificações do filho de Zeus que, diz a mitologia grega, foi sentenciado ad aeternum a ficar com fome e sede, amarrado a uma árvore, num vale abundante em vegetação e água. Sempre que Tântalo tentava colher os frutos das árvores, os ramos afastavam-se. Sempre que tentava beber água, ela fugia.

No Mito, o primeiro restaurante do chef Pedro Braga, que passou pelas cozinhas do Reitoria e do Tenra antes de embarcar nesta aventura a solo, perceberam isso assim
 que entrámos e, antes que nos desse uma fraqueza, o serviço, atencioso, foi dos mais rápidos que já presenciei no Porto. Em menos de nada, tínhamos à frente um couvert composto por pão escuro, acabado de cozer, e uma manteiga de sriracha, ligeiramente picante, que deu vontade de comer à colher.

A carta, com várias opções para partilhar, está dividida em quatro secções: quentes, frios, no carvão e doces. Arrancámos com uns croquetes de boi velho – a carne maturada é uma aposta do chef, já que no menu há ainda um costeletão com um mês de maturação. A dos croquetes, tenra e desfiada, estava bem temperada, cheia de sucos, e ligava muito bem com uma maionese de chouriço.

A Rita pediu umas gulosas asas de frango tandoori, escoltadas por um molho de iogurte com pepino, lima e coentros que lhes cortava a untuosidade, e ainda um arroz de tamboril para duas pessoas. Vinha solto e com generosos pedaços deste peixe magro, e alguns camarões levemente cozinhados, a boiar num caldo temperado com sriracha, coentros e cebolete.

A Rita estava feliz. A comida, o (forte) cocktail Medronho Sour e eventualmente as minhas piadas parvas estavam a fazer efeito, por isso fiz a minha jogada: pedi o tutano. O segredo para a felicidade está em agradar ao outro primeiro. Happy wife, happy life, como se costuma dizer. Por cada duas coisas que ela peça, eu peço a terceira sem direito 
a reclamação. E se o tutano com crosta de camarão crocante pode parecer estranho, a verdade é que nos levou numa viagem 
aos confins da Ásia. A textura gelatinosa
 da medula, as especiarias asiáticas, a lima
 e os coentros por cima fizeram deste prato arrojado um petisco divinal, que nos deixou, literalmente, agarrados ao osso.

Depois, as sobremesas. Escolhemos sem hesitar a rabanada de matcha com gelado de bacon e xarope de ácer da qual toda a gente fala. Ela adora rabanadas, eu nem tanto. E o mais bonito de perceber que funcionamos como casal, e que isto é para a vida, é que gostamos do mesmo tipo de comida. Era uma boa rabanada, sem dúvida, mas implicamos com os bocadinhos de bacon que compunham o gelado. Baralhavam o palato e eram desconfortáveis. Pedimos ainda uma pavlova de frutos vermelhos, com groselhas, amoras e cerejas maceradas, por cima de um suspiro meloso a saber a menta fresca. Estava bom, mas ainda assim um bocadinho aquém dos pratos salgados. É um restaurante de quatro estrelas, a puxar para as cinco. Ou seja, quase um banquete digno dos deuses do Olimpo.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Rua José Falcão, 183
Porto
4050-317
Preço
Até 40€
Horário
Seg, Qua-Qui 12.30-15.00/ 19.30-23.00, Ter 12.30-15.00, Sex 12.00-15.00/ 19.30-01.00, Sáb 19.00-01.00
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