Volta e meia acordo em sobressalto, sempre por causa do mesmo pesadelo. À minha frente, em cima de uma mesa de madeira corrida (cujo fim não consigo ver), tenho espumas. Espumas de tudo e de mais alguma coisa. Espumas de yuzu, de tomate seco, de ostra, de castanha do Pará, de tangerina, de cabeça de camarão. Bolhas de ar e líquido que quando assentam na língua, atingindo o zénite da sua existência, morrem sem glória, sem terem maravilhado ninguém. Nunca ouvi dizer: “Ai que espuma tão boa, tão incrível. Quero levar em saquinhos para casa”. Demasiado aparato para tão pouco proveito (além de que deixam quem as come com ar de parvo – “Devo continuar a fingir que estou a mastigar? Ainda tenho alguma coisa na boca?”). À quarta espuma que como, choro, e peço para me mandarem para o Inferno. Lá, certamente, haverá churrasco.
Não comi espumas no Mood Restaurant & Sushi Bar, mas esta introdução tem uma razão de ser. Quando um ingrediente é bem cozinhado e apresenta uma boa textura, o prato melhora. Não há nada mais maçador do que obrigar a língua sempre ao mesmo processo de deglutição. Sempre aos mesmos movimentos mecânicos. Aquilo é um parque de diversões, gente, é uma rave. São milhares de papilas gustativas num festival à espera que o prato suba ao palco. Se lhes oferecem má comida, a malta desiste e assobia.
Pedi o combinado de sushi do menu executivo do dia – infelizmente as opções da carta só estavam disponíveis à noite e eu ia com vontade de uma tábua de queijos, de umas amêijoas à Bulhão Pato, de um empadão de rabo de boi, etc. E entre niguiris de peixe branco com raspa de lima, rolos fritos com queijo Philadelphia, makis com uma porção mínima de atum e com a alga mal presa, fatias de sashimi de salmão e gunkans do mesmo, tudo me soube exactamente igual: a arroz e a peixe insípido.
O sushi é uma coisa requintada, não é para ser feito em linha de montagem. Por isso, não tardou que as minhas papilas gustativas começassem a reclamar a devolução do dinheiro dos bilhetes. Os crepes de camarão e as gyosas, servidos de entrada, também sofriam de aborrecimento. Mas a sobremesa, uma torta de citrinos doce com uma bola de gelado de limão a equilibrar os sabores (voilá, não é assim tão difícil), o atendimento atencioso, o espaço acolhedor e a conta agradável (31€ para duas pessoas com café e copo de vinho) evitaram que este se tornasse em mais um dos meus pesadelos gastronómicos.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.