O leite como motor de desenvolvimento social
Foi em 1920, em Eiriz, uma freguesia de Paços de Ferreira, referência no Norte de Portugal pela quantidade e qualidade de gado bovino e pela produção de leite e manteiga, que se começou a escrever a história da Leitaria da Quinta do Paço. Mais concretamente, na Casa do Paço, a residência da família do engenheiro Alexandre Aranha Furtado de Mendonça, um homem que se dedicou à lavoura e à criação de gado para a produção de leite e que acabou por ter um papel de relevo na marca e "em toda a história dos lacticínios na zona norte", explica Alexandra Sotto Maior, directora de marketing da Leitaria da Quinta do Paço à data da reportagem, em Dezembro.
Nesse mesmo ano, no Porto, na Praça Guilherme Gomes Fernandes – desde sempre ligada ao comércio de produtos alimentares (chegou a chamar-se Praça de Santa Teresa e, mais tarde, Praça do Pão, já que era lá que se vendia o que chegava de Valongo) –, o prédio com os números 47-51 era arrendado à Sociedade Fomento Internacional Lda., de César Batista Dinis e Amélia Silva Dinis, ligados à venda e à distribuição de produtos lácteos.
"Em 1927, esta exploração passou para a firma A.C. Lopes & Comandita, de Artur Correia Lopes e Júlio César das Neves" e, no mesmo ano, "para Vicente Ferreira Peres, José Pedro de Macedo Afonso e Arnaldo Fernandes Troviscal, que alteram a designação para Troviscal, Peres e Macedo Lda., tendo como objectivo comercial a exploração de lacticínios e representações", de acordo com dados recolhidos por Alexandra. Em Outubro de 1928, a firma volta a sofrer mudanças e transforma-se em Peres, Sousa e Campos Lda., continuando a actividade do "comércio de lacticínios e outros produtos agrícolas". É nesta altura que Alexandre Aranha Furtado de Mendonça volta a entrar em acção e é "obrigado a fornecer o leite necessário à actividade comercial da Leitaria". O contrato é feito a 31 de Dezembro de 1928.
A marca Leitaria da Quinta do Paço é registada em 1934, numa altura em que o depósito e a venda de leite eram feitos no rés-do-chão e os escritórios ficavam no primeiro e segundo andar.
Numa época em que não existiam vacinas ou suplementação alimentar, o leite era o alimento por excelência de crianças, idosos e doentes, apesar de as condições de produção e distribuição não serem as melhores. Assegurar boas práticas de produção, tratamento, recolha e distribuição de leite era imperativo.
A tentativa de criação de uma associação dos produtores de leite iniciou-se em 1936, altura em que se produziam em Portugal mais de 100 milhões de litros de leite. Mas só em Novembro de 1956 é que foi criado o Grémio Nacional dos Industriais de Lacticínios. No ano seguinte, foi nomeada a primeira comissão directiva, presidida por Furtado de Mendonça.
Entre 1950-60, quando todos os processos de tratamento e engarrafamento de leite começaram a ser industrializados, à fábrica de Eiriz juntava-se uma estação de recolha em Paranhos, um armazém de garrafas e acondicionamento de leite na Rua da Ribeira Grande, no Amial, um depósito de venda no novo Mercado do Bom Sucesso, inaugurado em 1952, e o posto de venda da Praça Guilherme Gomes Fernandes.
As leiteiras, que calcorreavam as ruas com garrafas à cabeça, passaram a fazer parte da paisagem e da rotina dos dias na cidade. Conta-se que os fiscais da Câmara tentaram taxar as "entregadeiras" como vendedoras ambulantes, mas a Leitaria alegou que as "senhoras eram de facto empregadas da casa e apenas faziam chegar ao domicílio dos clientes as encomendas". Em 1964, a Peres, Sousa & Campos Lda. ganha um concurso importante: o do abastecimento do leite da cidade e de outros centros urbanos do Norte.