Não quero dar ideias estapafúrdias, nem complicar a vida aos residentes da Foz, mas se cortassem o trânsito na zona do Passeio Alegre, a Cantareira teria tudo para se tornar the next big thing. O sítio é bonito, a vista é belíssima e qualquer restaurante que se monte ali, com uma comida decente, tem tudo para correr bem. Vou muito à Casa de Pasto da Palmeira, várias vezes fico na esplanada e nunca gostei de ver os carros a passar à frente. Interrompe a conversa, distrai os comensais. Preferia que fosse tudo um empredrado com esplanadas bonitas. Enquanto isso não acontece (será que vai acontecer um dia?), fiquemo-nos pelo que já existe.
E o que existe é este Pisca, aberto desde o Verão na Cantareira. Uma casa de petiscos e tapas, com dedo de uma das donas do Traça, uma boa esplanada aquecida, um andar de baixo pequenito e um andar de cima onde fica a sala de jantar propriamente dita.
Comecei por pedir uma tábua de queijos para comer na esplanada, com uma garrafa de vinho. De um gouda, um cura amarela, um gorgonzola, um da Ilha e um Serra (9,50€), achei a dose bem servida mas, exceptuando o gorgonzola muito bom e com alguma cremosidade, nenhum dos queijos era nada do outro mundo. A coisa não começava bem, até porque o empregado também não soube explicar quais eram os respectivos queijos assim que a tábua chegou.
Já sentados à mesa, provou-se o couvert, com bom pão fresco, mal cozido, um azeite de qualidade e sal para o temperar – coisa muito em voga há um par de anos mas que tem vindo a desaparecer. A apresentação estava algo tosca, mas eu gosto deste trio, sobretudo quando os ingredientes têm qualidade.
Poucos minutos depois chegava o primeiro prato, um mix de cogumelos grelhados com gema de ovo (6,50€). A gema a ser misturada pelo empregado à chegada. Veredicto? Banal, com pouco ovo para o conteúdo e nada que ficasse na memória ou desse vontade de dobrar a dose.
Recapitulando: até agora, e exceptuando o pão, estava a achar o Pisca fraquito. Mas eis que chega a tortilha (6,50€). E que tortilha. Simples, sem grandes invenções, apenas com batata e cebola, mas excelente. Húmida como se quer, a cebola al dente, um leve picante. E aqui, sim, podia ter pedido para virem mais duas. Mas deixei espaço para o resto. Foi a decisão acertada.
Engraçados os calamares com limão e ali-oli de amêndoa (8€), com o polme enxuto, a desparecerem da mesa em menos de nada (sempre sinal de sucesso). Muito, muito bons os croquetes de presunto – serão os mesmos do Traça? –, com óptimo recheio. Gostei também do tártaro de carne com tostas e batata pala (11€). A carne em pedaços grandes, o tempero no ponto, as batatas muito boas, umas tostas fininhas a acompanhar. E gostei ainda do toque de modernidade dado ao arroz de polvo (13,50€), com o molusco no ponto, o arroz mais para o solto, a trazer algum picante no molho.
Para finalizar, uma mousse de chocolate caseira com amêndoas torradas por cima. Muito simples, muito boa.
Contas feitas, com vinho, pagou-se 25€ à cabeça. Tirando os tiros ao lado iniciais, comeu-se bem, bebeu-se a preços acessíveis; o serviço foi bom – ainda que feito com muita rapidez, mas talvez seja essa a onda da casa.
Era só tirar os carros à Cantareira e nem teria que subir ao andar de cima.
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