Sabíamos ao que íamos. José Canelas (sala) e Maria da Soledade (cozinha), corpo e alma da mítica Casa Nanda durante quase 40 anos (juntamente com a dona Fernanda, que lá permaneceu), partiram para outra aventura no final do ano passado, numa altura em que a comida tradicional portuguesa parece caída no esquecimento pelos restaurateurs.
Abriram o Senhor Zé ali para os lados dos Poveiros. E o senhor Zé abriu-nos a porta com uma recepção cordial e calorosa que só sai genuína depois de muitos anos a virar frangos – apesar de não termos comido nenhum nesse dia.
Entretive-me a roer a boa broa, enquanto deitava uma mirada aos recortes de revistas e jornais encaixilhados nas paredes a dar conta da abertura deste novo restaurante. Não sobrava espaço nem para mais um louvor.
O serviço de sala foi irrepreensível. Sabe bem um atendimento cortês de vez em quando. Não se porem de cócoras ao lado da mesa enquanto anotam o pedido ou não te tratarem por tu quando perguntas onde é a casa de banho é um luxo nos dias que correm. Não que aprecie grandes formalismos, mas o respeito de e por quem nos serve deve ser mútuo.
Sugeriram (com um notório conhecimento) um Lello branco do Douro, mais acidulado, para acompanhar a refeição. O couvert vinha num tríptico a pedir mais afinação (2€). As pataniscas traziam generosas lascas de bacalhau mas a precisar de mais tempo a escorrer. Os rissóis de camarão vinham com grossos pedaços do mesmo, mas o pódio, esse, foi para o croquete, com uma boa fritura, vinha cheio de carne e bocados de chouriço. A tradição bateu-me ali logo em cheio.
Seguiu-se um arroz de berbigão suave, leve, muito aromático, à conta dos coentros incorporados na calda, e a saber bastante a mar (9€), mas faltou-lhe a fanfarronice dos filetes de peixe-galo frito com açorda do mesmo que se seguiram (14€). A carne branca e luzidia do peixe desprendia-se da pele bem frita e escorregava pela garganta libidinosamente. A açorda, cuja gema crua foi misturada à nossa frente, estava igualmente saborosa e era enriquecida pelas ovas do peixe. Rematámos a refeição com um leite-creme queimado caseiro e comedido. E questionava-me, entre colheradas, se esta crónica iria para a parede também.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.