Nem todo o vintage é bonito, convenhamos. Há peças que sim senhora, ficam bem lá em casa, como aquele jarrão de porcelana herdado da avó que nunca sairá de moda. Há outras que, enfim, ou levam uma boa remodelação ou o melhor é despedirmo-nos delas, agradecendo os serviços decorativos prestados à casa. Com a comida acontece o mesmo. Há modas que ficam e outras que devem partir. Como o sushi de fusão. Mas isto sou eu.
O Subenshi veio de Aveiro e instalou-se perto do Jardim da Cordoaria. Tem uma varanda engraçada de onde este pode ser admirado através das frondosas copas. Mas também tem um hosomaki com morangos e ananás a cheirar a mofo (sentido figurado), saído de um baú que já não era aberto desde o início deste século.
Pedimos umas gambas selvagens em tempura, envolvidas em amêndoa laminada e rematadas com molho agridoce e cebolinho. O quente, o crocante e o doce misturavam-se bem, mas a minha companhia queixou-se de que estavam “passadas”, e com razão, eu queixei-me de que nem se deram ao trabalho de limpar a tripa, que deixou um gosto azedo na boca (9,95€/4 uni.). Uma pena. Seguiram-se, depois, umas gyosas de porco com uma massa mole e indolente e um recheio básico (5,80€/4 uni.). E ainda antes do combinado de sushi e sashimi que deixámos nas mãos do chef, chegou a terceira e última entrada: um mochi com uma grave crise de identidade. Esta especialidade japonesa, tradicionalmente feita com uma pasta de arroz glutinoso e recheios variados, assemelhava-se mais a um petisco italiano chamado arancino, que consiste numa bola de arroz frita com carne picada. Este era igual, mas no interior trazia uma pasta de salmão pouco perceptível e atractiva (4,80€/2 uni.). Se a ideia era inovar, correu mal.
O Benshi L, o tal combinado (23,95€/20 uni.), parecia uma feira popular, com bocados de fruta no meio dos makis, que nem sempre ligavam bem com o resto, rolos que em vez de alga tinham ervas aromáticas secas à volta, mais tomate seco, mais cogumelos, mais não sei o quê. E o peixe, esse, ficava cada vez mais dissolvido no conjunto.
Chamem-me puritana, o que quiserem, mas o sushi é delicadeza. É o expoente da cozinha nipónica. E o meu pai sempre me disse que com a comida não se brinca. Achei, contudo, piada a um rolo de peixe branco e abacate. Surpreendentemente fresco e agradável.
A tarte de feijão azuki salvou, um pouco, a refeição. Doce na medida certa, o recheio vinha suportado por uma massa delicada e fina a lembrar os pastéis de Tentúgal (4,80€). Óptima.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.