Tenho um bom amigo, que me costuma acompanhar nestas andanças, e com o qual perco longas horas a falar de comida, a trocar impressões sobre detalhes de pratos e a discutir refeições passadas, presentes e futuras. E quase sempre que acabamos um jantar ou almoço num sítio novo, eu faço-lhe a mesma pergunta: ‘’Voltavas?’’ Ora se faço esse exercício com ele, obviamente que faço comigo. Voltavas Francisco? É que isto da crítica Time Out, gostam sempre de me relembrar os senhores que me desafiaram a escrever, envolve a comida, o espaço, o serviço, o ambiente, blá, blá, blá. Por isso, ponho as coisas na balança e avalio bem antes de me atirar com certezas para as estrelas.
Segui o meu ritual assim que saí do Terminal 4450. ‘’Voltavas Francisco?’’ Voltava. Perguntei ao meu amigo. ‘’Voltavas Alberto?’’ (nome fictício, meus caros) e a resposta foi a mesma – já aconteceu discordarmos terminantemente e ter voltado para tirar as dúvidas, tal como aconteceu não saber responder e voltar ao local do crime. No caso, não. Foi acordo à primeira vista.
É verdade que não fiquei deslumbrado com todos os pratos que chegaram à mesa – sobretudo os acompanhamentos –, mas no geral comi bem, comi diferente e fui muito bem servido. Noves fora, são quatro estrelas. E voltavas porquê, Francisco? Logo para começar pelo sítio. Um terminal na verdadeira acepção da palavra, e cuja entrada se faz por uma manga a sério, primeiro para uma sala com um balcão de check in (acredito que funcione em dias de maior tráfego), depois para a sala do restaurante em si, com uma cabine de DJ (acredito que esteja ligada em dias de maior tráfego), com uma parede onde o quadro das partidas e chegadas foi substituído por um painel com os cocktails da casa, no mesmo lettering (acredito que sejam mais pedidos em dias de maior tráfego).
Ó Francisco, está a ser mauzinho! Não estou. Mas fui lá jantar num dia de semana e mesmo assim a casa estava composta. Só acredito que deva ter ainda mais animação aos fins-de-semana. O que me dá mais uma razão para querer lá voltar.
Voltarei porque comi lá um Black Angus histórico. Uma suavidade no corte, a derreter-se na boca – nunca imaginei que um bocado de carne se desfizesse assim –, muito bem tostada na grelha por fora, muito mal passada por dentro, para temperar com um pouco de flor de sal a gosto. Excelente.
Comi também um costelão dos bons, mas fiz o erro de prová-lo só depois do Black Angus. E isto não é como aquela velhinha regra dos vinhos: primeiro serve-se o melhor, depois o da gama abaixo. Soube-me bem, a carne também era muito boa, o mesmo método de confecção, mas ao lado da outra, desculpa lá costelão, mas não me surpreendeste tanto.
Nota para os acompanhamentos. Tive direito a seis (três por carne) e, à parte da dupla dose de batatas fritas que pedi, deixei-os ao critério do empregado. Engraçados os cogumelos Portobello grelhados; muito bons os palitos de polenta fritos com parmesão ralado por cima (voltarei só para comê-los como snack); banal o esparregado, mas feito com espinafres frescos; fracas as batatas fritas, em gomos finos, pouco crocantes, pouco quentes; bom o feijão preto, mas a pedir arroz para acompanhar.
Voltarei para comer a bola com rosbife. Uma invenção interessante, com a bola tradicional de queijo e enchidos bem fresca, a servir de pão para entalar umas finas fatias de rosbife, cebola caramelizada e verduras. Cortadas em cubos, mas sem se desmontar. E voltarei para comer as óptimas asinhas de frango, fritas no ponto, saborosas, e para pincelá-las com o molho ligeiramente picante.
Ah! E se voltarem a fazer as pipocas de chouriço e cominhos, mesmo que pouco crocantes como estavam, avisem que o Francisco volta.
Última nota para as sobremesas, que não me encantaram por aí além. Um bolo de chocolate com ganache de chocolate e avelãs pouco doce, normalzito; uma docíssima tarte de maçã muito fria (pena), com custard baunilhado quente, mas o resultado ainda assim também banal.
Tudo isto, para quatro pessoas, com duas garrafas de vinho, saiu a 35€. Justo para a quantidade e qualidade da carne. Citando o ilustre ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, no seu não menos ilustre papel como Exterminador Implacável: "I’ll be back".
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.