Dos mesmos donos do BH Foz, o Trattoria 179 é inteiramente voltado para a cozinha italiana. Estão na carta algumas das famosas pizzas do BH, mas também há bons pratos de massa, boas sobremesas e uma completa carta de vinhos.
Crítica
Não posso dizer que tenha sido um bom garfo desde o início. Que era uma criança cheia de refegos, bochechas proeminentes e um apetite voraz. Consta que era um martírio. Que a sopa escorria pelos azulejos da cozinha antes de ser deglutida a custo. Felizmente, fiz as pazes com a comida e essa relação prosperou, tornou-se natural e funcional. Mas como todos os grandes acontecimentos da vida exigem uma ruptura, a minha aconteceu quando fui viver para Itália sozinha. Foi lá que descobri que os pomodori podem ser maduros, vermelhos, de polpa doce (até então, os tomates em minha casa, do quintal da minha avó, tinham uma cor verde, de serem colhidos antes do tempo, e, por isso, demasiado ácidos. Uma moda que nunca entendi). Foi lá que provei um sem-número de pizzas de massa fina e estaladiça e quase todos os tipos de pasta fresca – do rigatoni à tagliatelle, dos ravioli recheados com ricota aos tortelloni com prosciutto di Parma. Por cima? Trufas e lascas de queijo parmesão, fios de azeite translúcido e acidulado, azeitonas carnudas, folhas de rúcula selvagem, rodelas de bresaola ou de provolone affumicato. Era e é impossível não gostar de uma culinária assim.
Cheguei ao Trattoria 179 com as melhores referências e começou tudo muito bem. Um serviço impecável, aliado a um espaço agradável, bonito e acolhedor, com uma elegância sofisticada sem cair na ostentação, e um couvert a acompanhar o nível. Este, trazia tiras crocantes de pão de alho e pão escuro para molhar no azeite com vinagre balsâmico e três manteigas com infusões saborosas: de alho e malagueta, e de chouriço, mais clássicas, e de passas e amendoim, mais adocicada e fora da caixa.
Três arancini grandes, gulosos e com uma boa fritura deram início à refeição. Um com espinafres e um forte sabor a parmesão, outro de carne e ervilhas a pedir um pouco mais de recheio, e outro de camarão e arroz nero com tinta de choco (7,50€). Por cima, um bom molho de tomate, com a doçura e a acidez bem equilibradas, e pequenos pedaços de cebola tenra a animar o palato. Mas melhor ainda eram os ravioli de massa fresca feita na casa, al dente, recheados com cogumelos, e com trufa e lascas de parmesão por cima. Um trio formidável, uma vez que a salinidade do queijo e a untuosidade da trufa realçam o sabor neutro dos cogumelos, bonitos especialmente pela sua textura na boca. A envolver tudo, um pesto caseiro com um forte sabor a tomate e seco e muita frescura do manjericão (8€). Muito bom.
Quis continuar na massa fresca, por isso, para prato principal, pedi a lasanha à Bolonhesa (14€), um clássico que tinha tudo para correr bem. Isto se: 1) a massa, apesar de muito boa, estivesse um pouco mais al dente, para que a estrutura em camadas se aguentasse mais estável; 2) o queijo utilizado fosse menos intenso – à terceira garfada começa a tornar-se enjoativo. 3) não tivesse o drizzle de vinagre balsâmico (tão anos 2000) a adocicar e a abafar um prato que era, na verdade, bem saboroso. Seguiu-se um ossobuco cozinhado lentamente em vinho e ervas, que resultou numa carne tenra com um jus bem condimentado. Por baixo, um risoto alla milanese com açafrão e grão semi-rijo, plácido e tranquilo, bom sem ofuscar a proteína, muito consciente do seu papel (15€). Veio ainda para a mesa um cacciucco, uma caldeirada de mariscos com gnocchi (15€). Estes, bem cozinhados, nadavam num molho intensamente marinho, com lagostim, mexilhões, camarões e lulinhas.
Esta trattoria precisa de acertar algumas agulhas, mas está num bom caminho. É difícil falhar com uma gastronomia tão boa, especialmente quando se gosta dela. Como parece ser o caso.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.