Gostava de experimentar a comida vietnamita sem ter que sair do Porto? Agora já é possível. Onde? No VietView, o primeiro restaurante vietnamita da cidade, onde é possível experimentar alguns dos mais típicos pratos deste país asiático.
Crítica
A viagem ao vietname borregou. Era preciso comprar uma máquina de lavar roupa nova e substituir o chão da varanda que ficou destruído depois das obras de revestimento a capoto do prédio. Acabámos, portanto, por ir de férias para o meio do Alentejo (também ele tomado de assalto pelos turistas); a dormir numa rulote cheia de entradas de ar e vespas asiáticas na casa de banho; e a atolar o carro num banco de areia mal chegámos ao alojamento. Se a minha mulher já estava descontente com a mudança de planos, ainda mais ficou. E ninguém quer, a bem da boa convivência planetária, que a Rita se aborreça. Sugeri-lhe, em compensação, sob o incrível céu estrelado alentejano (até saquei uma app com as constelações e tudo), irmos ao novo Viet View, em Cedofeita, o primeiro restaurante no Porto dedicado à gastronomia daquele país. Um gajo tenta.
Mas fiquei com a sensação de que a emenda foi pior do que o soneto. Logo a abrir a refeição gastámos 8,50€ em entradas que não me levaram nem a Hanói, nem a Ho Chi Minh, mas sim ao AKI (com esse dinheiro podia ter comprado um suporte novo para o chuveiro, que todos os dias ameaça despenhar-se lá do alto, pensei). O edamame (3€), umas vagens de soja ainda verdes, chegaram numa tacinha. Os feijões tinham uma boa cozedura. Estaladiços, saíam dos casulos com facilidade, mas o seu sabor inócuo, causado pela falta de tempero (nem sal, nem picante), fez-me pensar que o simples tremoço não lhes fica nada atrás. Contudo, eram viciantes da mesma forma. Os rolinhos Primavera que se seguiram (5,50€), folhas de arroz enroladas e recheadas com frango, massa vermicelli de arroz e vegetais (couve roxa, cenoura, coentros e alface), apoiaram-se no molho de amendoim, de toque agridoce, para, mais uma vez, corrigirem a falta de sabor do conjunto. Não eram do outro mundo, não voltava lá por causa deles, e na minha cozinha só não ficam melhores porque a massa cola-se-me toda aos dedos.
Umas asinhas de frango cozinhadas ao estilo vietnamita (6€), marinada s em molho de peixe à base de anchovas, entretiveram enquanto os pratos principais ficavam prontos. A carne era tenra e suculenta, a pele estaladiça e crocante, e o sabor doce e fumado. O molho, ao lado, com um intenso sabor a mel, tornava-as gulosas. Havia pouco por onde falhar.
Chegou, entretanto, o pho, o caldo típico do Vietname, muito aromático e inebriante, cujo sabor é obtido através da cozedura dos ossos e das cartilagens da carne, juntamente com uma série de especiarias que despertam os sentidos, como o cravinho, o anis, o cardamomo, o gengibre... Pensei seriamente que no Verão de 2016 faleceria com um enfarte do miocárdio após comer um pho onde boiavam malaguetas capazes de rebentar com a escala de Scoville e com uma temperatura ambiente de 36º C lá fora. Assim é o meu amor pelo pho.
O do Viet View (12,50€) não estava mau, com os seus fios de massa de arroz translúcida a boiar num simpático molho que anima as papilas gustativas, com fatias de carne de vaca (que também mereciam um pouco mais de sabor) e malaguetas pouco assustadoras. Por cima, cebolinho e um toque de lima. Um bom prato para quem se quer iniciar na cozinha tipicamente vietnamita, mas que não vai entusiasmar quem já é batido nestas andanças. Um maior comprometimento com as receitas e uma aposta em produtos de melhor qualidade fariam toda a diferença.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.