O nome soava-me a algo pretensioso: Wish. O apelido fazia pensar que dali não vinha nada de bom: Restaurante & Sushi. Assim mesmo com “e” comercial, numa mistura de cozinhas que me deixam sempre desconfiado. Sou assim, nunca vi com bons olhos esta mania dos restaurantes quererem ser os faz-tudo da comida. É raro, raríssimo, conseguir jogar-se bem em dois campeonatos. E neste sítio, pelos preços altos que pediam, pelo espaço que era, uma bonita sala na Foz Velha, mais temia que os pratos não estivessem à altura do conceito.
Bem sei que a ideia funcionava nos tempos do extinto Shis, e que a equipa do Wish não é muito diferente: o mesmo chef, António Vieira e o mesmo sushiman, Miguel Fragoso. E que, apesar de ser um restaurante de praia, o Shis era tudo menos um restaurante de praia convencional. Era chique, como este. Era arranjado, como este. Estava sempre composto, como este. Tinha boa luz de dia e de noite, como este. Tinha sempre as toalhas bem engomadas, como este. E era decorado pelo Paulo Lobo, como este. Até as letras do nome são semelhantes. Ora experimente dizer vezes seguidas Shis-Wish-Shis-Wish-Shis-Wish e veja se não se confundem – tente fazê-lo sem se babar, s.f.f.
Posto isto, impõe-se saber: será o Wish o Shis renascido, mas num outro corpo? Saí de lá convencido que sim. E saí de lá contente. Comi bem, fui muito bem servido. Aliás, digo à vontade que alguns dos melhores empregados da cidade trabalham aqui.
Já lá tinha ido almoçar num domingo de sol, poucas semanas depois da abertura, para dividir um belo combinado de sushi e uma fresca salada de lavagante com abacate, toranja e espargos. Um daqueles almoços bons, arrastados (as cadeiras são muito confortáveis), que entrou pela tarde, com vinho à mistura e, mesmo com a conta fechada cedo, não houve um único olhar de impaciência, nem empregados a fazer muito barulho para propositadamente convidar os clientes a sair.
Voltei para jantar numa quinta-feira. Fui cedo, e o restaurante foi enchendo, enchendo e enchendo, mas nem a sala cheia atrasou ou atrapalhou o serviço. (E pronto, vou ter de dizer: jantei lá no mesmo dia do senhor presidente do FC Porto, da mulher, do Paulo Gonzo e do Paulo China. Estavam todos juntos? Não digo.)
Arranquei com umas boas torradas, com pão fresco servido à unidade e azeitonas com alguma acidez. E arranquei bem.
Tinha decidido deixar a ementa de sushi para outras núpcias e focar-me só na extensa carta com cozinha de inspiração internacional, mas não resisti a pedir o sushi set de entrada, com sete peças variadas. Gunkans e uramakis feitos com peixes frescos, bom arroz, bons ingredientes, poucas modernices. Pedi também os raviólis de pato com foie gras, redução de vinho do Porto e pancetta. Um prato adocicado mas muito bom. Os raviólis feitos com massa caseira, o pato saboroso, bem desfiado, com a gordura e a doçura do conjunto a serem cortadas pelas tiras de alho francês queimado. Um prato que pede um copo de vinho com algum corpo
E por falar em vinhos: a carta é longa mas cara, muito cara. Há vinhos de topo, mas no geral com preços acima da média.
Excelente o tornedó com escalope de foie gras e trufa, pedido mal passado, a chegar à mesa só selado em cima e em baixo, com as bordas em sangue. Carne incrivelmente tenra e fofa, a acompanhar com um gratinado de batata e bons legumes assados. “Se quiser reforçar os acompanhamentos é só pedir”, disse o empregado. E como eu gosto destes pormenores...
Por sugestão do mesmo empregado pedi também um lombo de pescada com lâminas de lavagante e puré de limão. Um prato com um aroma fresco do limão, uma espécie de sashimi de lavagante em cima e o molho do marisco a escorrer sobre o lombo de pescada que já apresentava alguma secura, o que é pena, e precisava mesmo do molho.
Terminei com uma bomba chamada fondant de caramelo com frutos do bosque. Pegando noutra francesice, é um petit gâteau de caramelo no qual basta espetar o dente de um garfo para sair uma piscina de caramelo a ferver. Perfeito. Ao lado, um molho (ou coulis, pardon) de frutos vermelhos e os próprios frutos.
Sem vinho a conta chegou aos 75€. Sem vinho. É caro, muito caro. Apesar de ter comido bem. E de saber que vem na linha do que se passa na restauração do Porto, onde os preços estão cada vez mais altos. Mas pronto, Francisco, uma vez não são vezes.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.