O Tinder é muito engraçado: as pessoas instalam a app no telemóvel na esperança de comerem ou serem comidas. Primeiro, uma troca de mensagens, depois um convite para jantar. E se o repasto correr bem, vão lambuzar-se para outro lado. Comer é, definitivamente, o verbo mais conjugado nas relações modernas.
Foi no Tinder que o conheci e, e uma das coisas que mais me atraiu na conversa dele, foi ter-me dito, lá para a terceira mensagem, que era “um bom garfo”. Passámos, desde essa altura, a conjugar o verbo sempre democraticamente e no presente do indicativo. E com isto quero dizer que dividimos tacos mexicanos e ceviches peruanos, partilhamos os carabineiros com cinzas de alecrim do Avillez e o entrecosto na brasa do Sr. António.
Mas faltava um pequeno-almoço. Escolhemos o Zenith Brunch & Cocktail Bar, o lugar da moda ali na Praça Carlos Alberto, para riscar esse assunto pendente da nossa bucket list.
Eram dez da manhã e já estava à pinha, cheio de portuenses e turistas. Todos bem vestidos, muito trendsetters, de óculos de sol XL ou turbantes na cabeça. Uns com mais fome, outros com mais vontade de encher o Instagram de corações.
Mandámos vir comida para uma família de cinco, facto que chocou as duas holandesas que partilhavam a mesa comunitária connosco. Uma mesa de madeira corrida, cheia de gente gira, num espaço de ambiente agradavelmente industrial e moderno. E enquanto esperávamos, bebíamos das chávenas. Eu, um Flat White (2,50€), uma espécie de meia de leite, feito com o café fornecido pela Fábrica Coffee Roasters, em Lisboa, que torra nas suas instalações o grão 100% arábica – mais suave e aromático em relação ao robusta. E ele, um bom Chai Latte com especiarias, a saber a Ásia e a cardamomo, óptimo para desentorpecer os sentidos pela manhã (3€). Entretanto, entrou em cena um açaí bowl bonito, digno das redes sociais, batido com banana e gelado de baunilha, cheio de frutas frescas, amêndoa torrada e coco laminado (6,50€). Foi bom, sem ser transcendente. E um brasileiro que saiba ao que sabe o açaí vai torcer o nariz – futebol e açaí são assuntos com os quais não se brinca.
Vieram, então, as panquecas com manteiga de amendoim, banana, morango, coco ralado, mais gelado de baunilha e mel (6€). Altas e saborosas, pecaram apenas por não serem tão fofas como o esperado.
Depois, correu tudo bem e sem sobressaltos, do simpático atendimento aos ovos de que tanto gostamos. Uns Benedict para mim e uns Zenith para ele (ambos a 8€). Os meus vinham bem feitos, saborosos, ainda que a tosta de pão de água fosse um pouco alta demais e o molho holandês viesse ligeiramente talhado, mas foram generosos no abacate e no salmão fumado. Já ele, devorava os seus como se não comesse há três dias e balbuciava por entre a barba espessa que aquilo, sim, era comfort food: dois ovos escalfados panados com o melhor presunto crocante que comi em muito tempo.
Rematámos (a esta altura parecíamos dois peixes-balão ameaçados), com uma maravilhosa french toast com compota de mirtilos, crème fraîche, amêndoa e mel (5€). O pequeno-almoço terminou e o verbo ficou bem conjugado.
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