Nuno Cardoso, encenador e director artístico do Teatro Nacional São João
1. O que foi mais desafiante na direcção de um teatro em 2020?
2020 era para o Teatro Nacional São João (TNSJ) um ano de celebração, o ano do Centenário. Pretendíamos com a nossa actividade reafirmar a posição e o sentido da nossa instituição como Teatro Nacional. A pandemia atirou-nos, a nós como a toda a gente, para uma nova realidade. A necessidade de reprogramação da actividade, a urgência de nos tornarmos instrumento de apoio ao sector e, simultaneamente, a necessidade de continuarmos presentes enquanto serviço público, redefiniram as nossas prioridades, obrigando a equipa do TNSJ a um esforço gigantesco. Diria pois que o maior desafio foi o de manter a confiança no nosso trabalho, evitar o pessimismo e, em conjunto com todos os que fazem parte do TNSJ – as suas equipas, os criadores que connosco trabalham e o nosso público –, estar constantemente presente, afirmando o nosso Centenário com uma programação coerente e de serviço público.
2. Entre as actividades e peças canceladas, adiadas ou impossíveis de concretizar, qual foi a grande desilusão ou angústia?
O TNSJ conseguiu manter, de uma forma ou de outra, toda a sua programação e a coerência da mesma. Portanto, nesse aspecto, não experimento a desilusão ou a angústia de não termos realizado algo que tínhamos previsto. Todavia, o esforço das equipas que trabalham até ao esgotamento, a incerteza dos criadores que lutam para conseguir apresentar o seu trabalho, podendo ter que parar e perder o seu sustento, as plateias reduzidas por óbvias questões de segurança, o dia-a-dia e o que pode surgir a qualquer momento, produzem um grande sentimento de angústia.
3. Das mudanças que tiveram de ser feitas nos teatros em 2020, o que vale a pena transportar para 2021?
As mudanças e a nossa resposta a esta situação não se esgotam em 2020, prolongando-se em 2021. Daquilo que foi a nossa actividade este ano, saliento a constatação da valorização das plataformas virtuais e da sua complementaridade com a programação tradicional. Também acho que a situação de calamidade obrigou todos os agentes do sector a confrontarem-se com as suas fragilidades e a encetarem um conjunto de diálogos que, com paciência, acredito que serão transformadores. Finalmente, o período em que os teatros encerraram, as novas regras de acolhimento de público e a necessidade de alteração de horários talvez nos levem a olhar o teatro e a sua inscrição na comunidade com novos olhos, novas soluções e uma importância redobrada.